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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Teatrólogo Pedro Paulo Cava resiste ao avanço do coronavírus

Diretor e dramaturgo luta para manter o Teatro da Cidade, obrigado a fechar as portas desde março. 'Vai ser a conta de chegar até setembro. Depois não sabemos mais', afirma


postado em 13/06/2020 04:00

Pedro Paulo Cava, em 2014, no Teatro da Cidade, administrado por ele desde 1990(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press - 12/11/14)
Pedro Paulo Cava, em 2014, no Teatro da Cidade, administrado por ele desde 1990 (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press - 12/11/14)


Com 70 anos ( 55 de carreira), o ator, diretor e dramaturgo mineiro Pedro Paulo Cava não esperava tamanha reviravolta como a provocada pelo novo coronavírus. “Nem na ditadura militar vi um abalo tão grande no teatro quanto esse da pandemia”, confessa.

Desde 1990, ele comanda o Teatro da Cidade. Instalado no Centro de BH, o espaço recebe peças, shows, exposições, lançamentos de livros e outros eventos culturais. Pedro Paulo planejava comemorar as três décadas da casa, mas teve de cancelar tudo. Não se arrisca a prever quando poderá reabrir as portas. “Não acredito que a atividade teatral volte a ser como era antes”, desabafa.

A pandemia inviabilizou os preparativos da peça Que país é este?, idealizada por Pedro Paulo para este ano. Baseado no poema de Affonso Romano de Sant'Anna escrito na década de 1980, o espetáculo abordaria o atual cenário político brasileiro. “Planejava fazer uma colagem com textos de escritores, poetas e jornalistas para falar deste momento”, diz Cava.

Agora a retomada do projeto está em suspenso. “Ninguém sabe o que vai acontecer. Vejo a classe teatral muito ansiosa para reabrir as casas (de espetáculos), mas quem vai pro teatro nessa situação? Eu não vou a um local com aglomeração enquanto não houver uma solução para essa doença”, enfatiza.

Pedro Paulo diz que as dificuldades para manter o Teatro da Cidade são enormes. “Não tive de mandar ninguém embora por enquanto, mas estou com muito atraso em várias questões. Seguro a onda enquanto posso”, afirma. Contando com dois patrocinadores fidelizados para o custeio, ele teme o futuro. “Provavelmente, vai ser a conta de chegar até o mês de setembro. Depois, não sabemos mais.”

O teatrólogo busca nas palavras cruzadas algum alívio para o estresse. “À noite, sempre faço duas, três ou quatro para dormir. Gosto, porque é um exercício bom para a memória.” Música clássica, leituras e a digitalização de documentos também ocupam o tempo dele.

“Aproveitei para digitalizar mais de 2 mil fotos de ensaios, espetáculos e eventos do Teatro da Cidade”, revela Cava.

 O material será útil ao projeto virtual idealizado por ele para celebrar os 30 anos do espaço cultural. “Seria uma espécie de narrativa histórica com fotos e trechos de espetáculos, em pílulas de 30 minutos.” A produção poderia ser lançada no YouTube ou no próprio site do teatro. “Tenho de conversar com pessoas especializadas para ver como vamos viabilizar isso”, afirma Cava.

LIVES

Espetáculos ao vivo transmitidos pela internet, as lives se tornaram a opção dos artistas, que se viram impedidos de se apresentar para plateias com aglomeração de pessoas. Pedro Paulo não acredita que esse formato sirva para o ofício dele. “As peças ficam péssimas, pois a linguagem é diferente. Teatro depende fundamentalmente da presença do público”, observa.

O momento é complicado, não existe saída a curto prazo, mas Pedro Paulo não tem dúvida de que o teatro vai encontrar um caminho. “A história mostra que ele está sempre em crise. Talvez por isso o teatro seja tão interessante”, destaca.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria


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