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Estado de Minas

Santuário da Serra da Piedade recebe projeto 'Paixão e fé' e exposição

Com fotos de Julia Pontés e show de Titane e Túlio Mourão, neste sábado (31), o santuário incentiva reflexão sobre os efeitos da atividade mineradora em sua paisagem


postado em 31/08/2019 04:00 / atualizado em 30/08/2019 19:13

São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais. Mina de Brucutu(foto: Julia Pontés/Divulgação)
São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais. Mina de Brucutu (foto: Julia Pontés/Divulgação)

Do alto da Serra da Piedade, no Santuário mantido pela Arquidiocese de BH, a 52 quilômetros de Belo Horizonte e a 1.746 metros de altitude, observa-se um “um mar de montanhas”, até onde a vista alcança. Tamanha beleza, entretanto, esconde a devastação causada pela atividade mineradora na Região Central do Estado.
 
Excepcionalmente neste sábado (31), esse lado triste, às vezes oculto, das nossas paisagens estará escancarado na exposição Ó Minas Gerais - Paisagens transitórias, montada no local pela fotógrafa belo-horizontina Julia Pontés. Premiado internacionalmente, o trabalho mostra um registro aéreo dos principais pontos de extração mineral em Minas Gerais, mas também mergulha no interior do problema que afeta milhares de pessoas e a natureza ao redor.

A exposição de hoje, na Serra da Piedade, é fruto da colaboração de Júlia Pontés com o projeto Paixão e fé, criado em 2017, no qual o pianista e compositor Túlio Mourão e a cantora Titane apresentam um repertório formado por canções que remetem à cultura de Minas e à valorização socioambiental do estado. Entre elas, Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant), Promessas de sol (Milton Nascimento e Fernando Brant), Dão duê (domínio público, do Vale do Jequitinhonha), Tererê (Kanatyo Pataxó), Quanto vale (Djambê), além de poemas de Drummond, como O maior trem do mundo.
 
O espetáculo musical já passou por várias localidades mineiras e neste sábado integra a programação da 6ª Peregrinação Mineira do Terço dos Homens ao Santuário da Serra da Piedade. Ainda neste sábado, Titane se apresenta em Belo Horizonte, num espetáculo em homenagem ao diretor João das Neves (1935-2018), de quem é viúva.

(foto: Minas da Alegria; Mariana )
(foto: Minas da Alegria; Mariana )
Desde que se mudou da capital, há 15 anos, Júlia Pontés, hoje com 36, buscou uma profissão socialmente transformadora. Ela se formou em ciências da administração na Universidad del Salvador, na Argentina, e se especializou em direito econômico, com ênfase em políticas públicas, na Universidad Torcuato di Tella, também no país vizinho. Chegou a trabalhar no governo da província de Buenos Aires.
 
No entanto, atuar na administração pública foi uma decepção para a mineira, que viu na fotografia, apenas um hobby até então, uma possibilidade mais potente de promover as ações que desejava.

“Eu já morava fora há alguns anos e, sempre que ia pousar em Confins, ficava incomodada com os buracos que via na paisagem. São três minas próximas à cabeceira da pista. Já pensava em registrar aquilo, já que ninguém falava dessa transformação do estado em um ‘queijo-suíço’. Quando aconteceu (o desastre ambiental de) Mariana (em novembro de 2015), percebi como o risco das barragens era muito maior do que compreendíamos. Então, comecei uma investigação antropológica dessas barragens, consegui um piloto de avião que topou e iniciei o processo”, conta a fotógrafa, que afirma ter em seu arquivo fotos de 70% das minas do estado, num processo que, segundo ela, não se encerrou.

Antes de iniciar os registros em sua terra natal, Júlia migrou de vez para a fotografia, formando-se ainda em 2015 pelo International Center of Photography de Nova York, onde alterna sua residência atual com São Paulo. Ela avalia que através das lentes sua atuação social é mais satisfatória.
 
“Dentro do governo eu não tinha voz. Trabalhar lá foi muito decepcionante. Com a fotografia consigo dar uma repercussão bem maior àquilo em que acredito, com mais liberdade”, diz a fotógrafa, premiada no exterior com o Planetary Health Alliance, da Universidade de Harvard, e pela plataforma online Visura.co, voltada para histórias visuais empoderadoras.

O reconhecimento em premiações dedicadas a propostas fotográficas associadas a algum engajamento foi possível porque Pontés não exibe a situação das montanhas mineiras apenas sob o ponto de vista estético em seus sobrevoos. Ativista da causa ambiental e atuante no Movimento pela Soberania Popular na Mineração, ela visitou por terra as regiões fotografadas para realizar pesquisas sobre os impactos no meio ambiente e nas populações locais.

 

Brumadinho, mina Ferrous, três meses depois do rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão
Brumadinho, mina Ferrous, três meses depois do rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão

“Minha intenção é ter um atlas visual. Um testemunho para o futuro de que esses lugares existiram. É um trabalho feito com muita pesquisa. Não tenho distanciamento dessa realidade, sempre procurei uma abordagem além do visual, com informações que coleto em campo para criar as minhas legendas”, diz Pontés. Segundo ela, as experiências pessoais que mais a impactaram nesse processo foram sua primeira ida a Bento Rodrigues, no começo de 2016, e os quatro meses de trabalho voluntário em Brumadinho, no primeiro semestre deste ano.

Em exposições e em seu site (www.juliapontes.com), as imagens do projeto são acompanhadas de informações relacionadas ao impacto socioeconômico ou ambiental provocado pela mineração naquela área.
 
“Escolhi usar a abstração da imagem para pegar as pessoas com a defesa baixa. Procurei uma estratégia que fizesse um diálogo universal sobre a mineração, que penetrasse em distintas esferas da imagem, tanto em exposições em museus quanto em revistas, porque é um trabalho sobre a mensagem que ele leva, não sobre mim, nem sobre as imagens em si.”

Segundo a fotógrafa, “foi muito importante, ao longo desses anos mostrando esse trabalho no exterior, destacar que o Brasil não era só a Amazônia. Essa era uma preocupação desde o início. É sobre o lugar de onde venho e é um problema em relação ao qual todos somos responsáveis, em qualquer lugar do mundo, pela forma que consumimos, que torna necessário extrair uma tonelada de minério para se produzir 18 celulares. Não podemos ter essa economia totalmente baseada no extrativismo. É preciso repensar nossas responsabilidades como cidadãos, eleitores e consumidores”, afirma Pontés, que destina 20% das vendas de impressões fotográficas de seu trabalho para comunidades atingidas por barragens em Minas Gerais. 
 
6ª Peregrinação Mineira do Terço dos Homens ao Santuário da Serra da Piedade
Espetáculo Paixão e fé, com Titane e Túlio Mourão, e exposição Ó Minas Gerais - Paisagens transitórias, de Júlia Pontés. Sábado (31), às 13h, no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade (Alto da Serra da Piedade s/n Zona Rural, Caeté, MG). 


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