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Luis Nassif conta em livro carreira e amores de Walther Moreira Salles

Jornalista lança biografia do banqueiro e diplomata nascido em Pouso Alegre que teve brilhante carreira como empresário e manteve grande reserva sobre a vida privada


postado em 24/04/2019 05:07

Walther Moreira Salles é homenageado em jantar no Rio de Janeiro, em 1965. Biógrafo enviou versão do livro aos filhos do banqueiro antes da publicação(foto: O Cruzeiro/Arquivo EM)
Walther Moreira Salles é homenageado em jantar no Rio de Janeiro, em 1965. Biógrafo enviou versão do livro aos filhos do banqueiro antes da publicação (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM)

“Eu era muito ousado, às vezes corria riscos enormes, mas sempre bastante pensados. À medida em que fui ganhando experiência, o processo de decisão ficou mais simples. Em geral era tudo intuitivo, sem muitos estudos.”

Walther Moreira Salles (1912-2001) foi banqueiro, empresário e diplomata. Negociador da dívida externa, embaixador em Washington, ministro da Fazenda, serviu a quatro presidentes bastante diferentes: Getúlio, Juscelino, Jânio e Jango. Para o jornalista Luis Nassif, foi “o Barão de Mauá do século 20”.

De Pouso Alegre, Sul de Minas, onde nasceu, até a morte em seu sítio em Petrópolis, na serra fluminense, foram 88 anos. Em sua estreia como biógrafo, Nassif destrincha uma longa e rica trajetória por meio de entrevistas que fez com o próprio Moreira Salles, dezenas de familiares, amigos e colaboradores e uma extensa bibliografia.

Walther Moreira Salles – O banqueiro-embaixador e a construção do Brasil (Companhia Editora Nacional, 448 páginas) terá lançamento triplo em Minas Gerais nesta semana. Nesta quarta (24) e quinta (25), em Araxá e Belo Horizonte, respectivamente, no projeto Sempre um Papo – na capital mineira, o encontro será no auditório da Cemig. No sábado (27), Nassif, de 68 anos, autografa o livro na Flipoços, feira literária em Poços de Caldas, sua cidade natal, e também o local onde Moreira Salles deu início ao seu conglomerado.

Em 1924, João Moreira Salles fundou a Casa Bancária Moreira Salles. Walther, seu primogênito, transformou o pequeno banco do Sul de Minas em um dos maiores grupos financeiros privados do país – o Unibanco, desde 2008, Itaú Unibanco.

“Comecei no jornalismo econômico em 1975, quando o Dr. Walther já era uma lenda. O Unibanco, na época, era o banco mais avançado do Brasil. Pessoalmente, ele era um mistério, o sujeito mais fechado do país”, afirma Nassif, que precisou de duas taças de vinho para tomar coragem e se apresentar a WMS durante um evento do então recém-fundado Instituto Moreira Salles realizado no Masp.

Isso ocorreu no início dos anos 1990. Passados alguns meses, Nassif teve o consentimento do banqueiro. Foi o começo do projeto, com sucessivos encontros do jornalista com o biografado – os depoimentos colhidos pelo autor vão de 1991 a 1994.

ARQUIVO O livro só vem à luz agora, quase 30 anos mais tarde, porque Nassif parou o projeto por longos períodos. Isso lhe trouxe dissabores, como recorda. Com um “baita arquivo”, a parte mais antiga guardada em disquetes, na segunda vez em que voltou ao projeto acreditou ter perdido o material. “Revirei tudo, cheguei a sonhar com o Dr. Walter puxando minha perna.” Ao encontrar os disquetes, voltou com avidez à biografia, que está pronta há pelo menos um ano.

Com objetividade, Nassif entremeia a trajetória do homem público com várias passagens de sua vida privada, tão rica e interessante quanto a profissional – entre namoradas famosas, destaca-se um affair nos anos 1950 com a atriz Greta Garbo, surgido a partir da preferência dos dois pelo vinho (ele, tinto; ela, branco).

Sobre os momentos que antecederam a renúncia de Jânio, por exemplo, o biógrafo acompanha toda a turbulência daquele 1961. Em um almoço no Horto Florestal de São Paulo entre os casais Walther Moreira Salles e Jânio Quadros, surge o inusitado convite do presidente recém-eleito para acompanhá-lo em um cruzeiro pelo mundo. Tempos depois, num jantar na casa de WMS no Rio (atual sede do IMS carioca), um entrevero entre os então ministro da Justiça Oscar Pedro D’Horta e o governador da Guanabara Carlos Lacerda, que apareceu sem ser anunciado, serviu de álibi para os ataques de Lacerda contra Jânio.

“O Dr. Walther foi uma das pessoas que me ajudaram a enxergar o país. Ele tinha a visão de toda a história, mas a acompanhava com olhos contemporâneos. Era uma pessoa fascinante, o mais internacional dos brasileiros. Ao mesmo tempo, era amante da cultura mineira e da cultura caipira. E ainda tinha a ironia fina dos mineiros”, comenta Nassif.

FRUSTRAÇÃO De acordo com ele, uma das frustrações de WMS foi não ter sido governador de Minas. “Ele tinha o apoio do PSD e da UDN (partidos com rixa histórica), mas ficou com medo de que poderia comprometer o banco.” Para Nassif, WMS foi tão bem-sucedido como empresário e banqueiro por causa de sua estratégia. “Na parte dos negócios, ele pensava tanto no que ia montar quanto na retaguarda. A diferença entre os empreendedores, os bem e os mal-sucedidos, é quem estava na retaguarda.”

Na vida pública de WMS, Nassif considera que o mais marcante foi sua atuação como negociador da dívida externa brasileira. “Nos anos 1950 e 1960, quando o país teve seu período de industrialização mais relevante, com um crescimento muito rápido, isso acarretou um estrangulamento das contas externas. Seu trabalho como negociador foi determinante, pois era um sujeito que legitimava a função do financista.”

Nassif dedica a biografia a três pessoas: sua mãe, sua mulher e a Elisinha Gonçalves Moreira Salles, segunda mulher de WMS e mãe de três de seus quatro filhos – o cineasta Walther Salles Jr., o banqueiro Pedro Moreira Salles e o documentarista João Moreira Salles. Depois do biografado, é Elisinha a outra grande personagem do livro.

“A Elisinha era uma moça de classe média que, ao se casar com o Dr. Walther, explode. Vira uma das anfitriãs mais prestigiadas do mundo. Estava sempre entre as mais elegantes, mas não era uma mulher fútil. Ela usava os eventos como uma extensão dos negócios do marido, ou seja, fazia um trabalho de diplomacia que a própria diplomacia faz.”

O suicídio de Elisinha, em 1988, aos 56 anos, é tratado de forma bastante discreta pelo biógrafo, que recuperou seus últimos dias com uma entrevista com uma amiga íntima. Com a primeira versão do livro finalizada, Nassif – “em consideração ao Dr. Walther” – enviou cópias aos filhos. “Com o seguinte recado: correções vão ser feitas do que for relevante, do que eu considerar pertinente.”

De acordo com o jornalista, a leitura de João Moreira Salles foi “fantástica”. “Foi uma leitura de intelectual. Ele me fez ver que, na primeira versão, eu não tinha sido justo com Elisinha, que, se não fosse ela, o pai teria parado nos anos 1960. Com o Waltinho tive pouco contato, ele me deu um depoimento lá atrás. O Pedro teve mais dificuldade em entender o que é uma biografia. É importante não esconder os fatos e não dourar a pílula. O Dr. Walther saiu engrandecido do livro, é um baita personagem.”


WALTER MOREIRA SALLES

De Luís Nassif. Companhia Editora Nacional, 448 páginas, R$ 74,90. Lançamento quarta (24), às 19h30, no Teatro Municipal de Araxá, Avenida Antônio Carlos, s/nº, Araxá; quinta (25), às 19h30, no auditório da Cemig, Rua Alvarenga Peixoto, 1.200, Santo Agostinho, BH; e no sábado (27), às 14h30, no Teatro Benigno Gaiga, Praça Getúlio Vargas, s/nº, Poços de Caldas. Entrada franca.


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