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Hora do Brasil

Autor do livro Cidade de Deus, Paulo Lins diz que o país deve discutir a realidade da favela, a violência policial e a discriminação dos negros. Nesta terça, ele participa de debate em BH


postado em 18/12/2018 05:03

"Sarney ser imortal chega a beirar o surrealismo. Quem está na ABL tem que honrar a memória de Machado de Assis" ( Paulo Lins, escritor e roteirista) (foto: Lionel Boaventure/AFP)

A “estreia” de Paulo Lins no cinema ocorreu no filme Orfeu (1999), dirigido por Cacá Diegues. O escritor e roteirista criou alguns diálogos da produção estrelada por Toni Garrido – adaptação do mito grego para a realidade das favelas e das escolas de samba do Rio de Janeiro. A partir de então, Lins passou a se dividir entre a literatura e textos para projetos audiovisuais.

A estreia do carioca no mundo das letras ocorreu em 1986, com o livro de poesia Sobre o sol, quando participava do grupo Cooperativa de Poetas. Onze anos depois, Lins lançou Cidade de Deus, que o fez famoso. O romance aborda a profunda transformação social do Rio de Janeiro (e do Brasil) por meio das mudanças ocorridas num conjunto habitacional carioca – da pequena criminalidade dos anos 1960 à escalada do narcotráfico na década de 1990.

Adaptado para as telas pelo cineasta Fernando Meirelles e com roteiro de Braulio Mantovani, Cidade de Deus estreou em 2002. O longa recebeu quatro indicações ao Oscar (melhor diretor, melhor fotografia, melhor montagem e melhor roteiro adaptado). Foi indicado ao Globo de Ouro na categoria melhor filme estrangeiro. Sucesso de bilheteria, chamou a atenção do mundo para o cinema feito no Brasil.

“Escrever um livro é uma coisa mais íntima. Você tem mais liberdade, pois não tem censura, não tem horário, tempo, espaço. Claro que ninguém vai fazer um livro de 5 mil páginas, mas as regras são bem diferentes da TV e do cinema. O audiovisual te impõe mais limites”, diz Paulo Lins. Nesta terça-feira (18), ele vem a BH conversar com o público sobre sua trajetória, a convite do projeto Diálogos MIS, no Cine Santa Tereza.

O tema do bate-papo é o longa Quase dois irmãos. Lançado em 2004 e dirigido por Lúcia Murat, o filme se passa no auge da ditadura militar. O senador Miguel (Caco Ciocler) reencontra Jorge (Flávio Bauraqui), poderoso traficante de drogas. Eles se tornaram amigos na década de 1950. Nos anos 1970, reencontram-se na prisão da Ilha Grande – Miguel, perseguido político; Jorge, preso comum.

“É interessante ver no que se transformou o Brasil depois do governo militar, além dessa coisa de colocar juntos o preso político e o preso comum. O militante político tentando fazer algo mais humanitário na cadeia, tentando acabar com a repressão e o espancamento. É interessante, nos dias de hoje, a gente debater essa temática e suas consequências”, diz Lins.

SÉRIES O escritor carioca trabalhou como roteirista nas séries Cidade dos homens e Suburbia, ambas produções da TV Globo. A temática social e política sempre foi presente na obra de Paulo Lins. Atualmente, ele é um dos seis colaboradores da adaptação para a TV do romance Um defeito de cor, livro da mineira Ana Maria Gonçalves. O projeto é coordenado pela roteirista e autora Maria Camargo. Também participam Bianca Ramoneda, Pedro Barros, Mariana Jaspe, Luciana Pessanha e Eduarda Azevedo. Nei Lopes, compositor, cantor, escritor e especialista em cultura africana, é o consultor da série.

O romance traz a fascinante história de negra idosa, cega e à beira da morte que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido. “Maria Camargo é craque em adaptar literatura para a televisão. Fez isso brilhantemente com Dois irmãos, do Milton Hatoum, e agora com Assédio, também baseado num livro (de Vicente Vilardaga). Estou muito feliz de estar colaborando com essa grande autora”, ressalta.

Lins já faz planos literários para 2019. A ideia, sobre o desenvolvimento de uma ONG no Pará, ainda está em elaboração. “Está bem no começo. Você não pode ter pressa com livro. A gente faz uma página num dia, depois passa um tempo e surge outra inspiração. O processo é diferente”, pontua.

VIOLÊNCIA
Quando decidiu escrever Cidade de Deus, no fim dos anos 1990, o carioca tinha um objetivo claro: reduzir a violência nas favelas, principalmente aquela cometida por policiais contra negros e pobres.

“Não sei se realmente atingi esse propósito. Porém, depois disso, certamente se debateu mais o assunto. Tivemos muitos projetos sociais, mais acesso à universidade”, constata. “O caminho é por aí: investir nas coisas básicas de que o ser humano precisa para não ele optar pela criminalidade. Isso vem desde que o Brasil é Brasil. O jeito é investir em trabalhos sociais com humanidade, igualdade, respeito”, defende.

Na opinião de Lins, o mérito de Cidade de Deus – filme e livro – está no fato de atingir e falar sobre todas as classes sociais. “Claro que umas mais, outras menos. Mas se começou a abordar assuntos que não eram levantados durante a ditadura. A favela e a periferia passaram a ser retratadas nas páginas, no cinema, na TV, nas universidades. E, pra te dizer a verdade, não vejo muito estigma (nessa abordagem). Quem escreve sobre o assunto são pessoas que trabalham ou viveram aquela realidade”, ressalta.

ABL Paulo Lins destaca o espaço que autores negros vêm conquistando no país. Porém, lamenta que a instituição considerada como a mais importante de nossa literatura, a Academia Brasileira de Letras (ABL), ainda não reflita essa representatividade.

“Muita gente que está ali não merecia estar, pois não tem grandes trabalhos literários. Sarney ser imortal chega a beirar o surrealismo. Quem está na ABL tem que honrar a memória de Machado de Assis. A Academia deve dar mais espaço para a poesia E a literatura, e menos para a política. Sem contar que é a hora de autores negros também se fazerem presentes”, conclui.



DIÁLOGOS MIS
Com Paulo Lins. Debate e exibição do filme Quase dois irmãos. Nesta terça-feira (18), 19h30. MIS Cine Santa Tereza. Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza. Entrada franca. Informações: (31) 3277-4699.


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