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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Gratidão: um olhar mais leve e universal, ensina a Monja Coen

Monja Coen destaca que os obstáculos que impedem muitos de sentir gratidão são empáfia, orgulho, egocentrismo e insatisfação


09/01/2022 04:00 - atualizado 09/01/2022 12:48

Mãos juntas em prece e meditação
Monja Coen ensina que há reflexões de como cada um deve ser capaz de agradecer em qualquer tempo, colocando as mãos juntas e fazendo a diferença naquilo que pode e onde estiver (foto: truthseeker08/Pixabay )
Lançado no início de dezembro, "Mãos em prece", o mais novo livro da Monja Coen, fundadora da comunidade zen budista no Brasil, faz um paralelo entre a trajetória da comunidade e da vida de todos. O livro brinda os leitores ao apresentar uma maneira grata de ver o mundo, das possibilidades pós-pandemia e do verdadeiro sentido de viver em sociedade.

Há reflexões de como cada um deve ser capaz de agradecer em qualquer tempo, colocando as mãos juntas e fazendo a diferença naquilo que pode e onde estiver. Ela lembra que não importa o tamanho da ação, mas sim que ela seja realizada.

Monja Coen diz que os obstáculos para sentir gratidão são: empáfia, orgulho, egocentrismo e insatisfação. E como superar os obstáculos? Segundo ela, por meio do conhecimento que transcende o eu menor. Parece bem simples, trocar a letra “g” na palavra ego pela letra “c” tornando-a eco.

“Perceber-se interligada a todo o ecossistema e desenvolver a capacidade de agradecer cada instante sagrado da existência, sem cobranças, rancores, temores, exigências, expectativas. Somos mantidas vivas por tudo que existe, vivemos em interdependência a todas as formas de vida. Sair do casulo imaginário de um eu separado é o portal principal para o conhecimento e a sabedoria, plena de compaixão e gratidão.”
 
Monja Coen
Monja Coen diz que há exercícios simples de respiração consciente, de presença pura que nos faz programar e nos preparar para o que virá, que depende do que cada um faz agora (foto: Jukai Christopher Zenyu/Divulgação )
Para conseguir, dar o primeiro passo, Monja Coen recomenda: “Pode-se começar com exercícios simples de agradecer ao Sol, à Lua, à Terra e a todos os seres. Agradecer a vida que nos dá tanto.”

SANTO AGOSTINHO 

Monja Coen conta que há algum tempo, o professor ou reitor de uma universidade portuguesa esteve no Brasil e fez um discurso lindo sobre diferentes maneiras de agradecer. “Há uma forma intelectual, que seria o thank you, por exemplo, em inglês. Há dar graças, gratidão, que boas graças retornem a quem fez algo benéfico. Mas, apenas em português, criamos vínculos profundos ao dizer muito obrigada. Um vínculo de afeto, de ternura: a forma mais profunda de gratidão. Esse professor/reitor lembrou-se de um texto de Santo Agostinho sobre os três níveis de gratidão... O mais profundo é o do vínculo inquebrantável e eterno. Sinto-me obrigada, com uma obrigação de retribuição, um vínculo verdadeiro.”


Perceber-se interligada a todo o ecossistema e desenvolver a capacidade de agradecer cada instante sagrado da existência, sem cobranças, rancores, temores, exigências, expectativas. Somos mantidas vivas por tudo que existe, vivemos em interdependência a todas as formas de vida. Sair do casulo imaginário de um eu separado é o portal principal para o conhecimento e a sabedoria, plena de compaixão e gratidão

Monja Coen




Monja Coen lembra que a paz e a tranquilidade podem ser cultivadas em todos. “Há exercícios simples de respiração consciente, de presença pura. Programamos e nos preparamos para o que virá. O que virá depende do que fazemos agora. Uma certa ansiedade pode ser benéfica e agradável. Podemos ficar ansiosas por encontrar uma pessoa querida e, como a raposa do Pequeno Príncipe, contamos os minutos para o encontro de amor e afeto. Mas há também a ansiedade que perturba, que impede a alegria de viver, que causa medo e aflição. Para essa, recomendo zazen: sentar em meditação, observar batimentos cardíacos, sentir em seu corpo a respiração ofegante e trabalhar com técnicas respiratórias para tranquilizar os batimentos cardíacos e poder refletir com mais propriedade sobre seus medos e aflições.”

Para a Monja Coen, criar causas e condições para dias mais leves e alegres depende de cada um e de todos nós. “Não estamos sozinhos. Intersomos, com tudo e todos. Respire conscientemente e aprecie até mesmo seus medos e aflições. Nada fixo, nada permanente. Observe também os momentos sem ansiedade, os momentos de plenitude e prazer.”

MÃOS UNIDAS 


Sobre o livro, “Mãos em prece”, Monja Coen indaga: “Você consegue colocar suas mãos em prece, palma com palma? Quer seja para agradecer ou para cumprimentar alguém? Quando estamos com as mãos unidas estamos inteiras. Não temos uma das mãos fazendo algo e a outra em diferente circunstância. Toda nossa atenção está aí contida. O livro é uma coletânea de textos inspiradores. Foram as páginas de capa de um jornal chamado Zendo Brasil, trimestral, desde 2001. Falam sobre a vida e a morte, sobre práticas e ensinamentos que nos libertam. Falam sobre nós, seres humanos e nossas escolhas que podem nos libertar ou aprisionar. A escolha, sempre, de cada um de nós.”

Sobre alimentar e praticar a gratidão mesmo diante do luto, da perda e da dor, Monja Coen ensina: “Precisamos atravessar o luto. Inúmeras perdas, não apenas de pessoas queridas que morreram antes de nós, mas também de projetos, sonhos, propostas. Isso inclui assaltos, traições, enganos. Lembrem-se que cada desilusão nos coloca mais próximas da verdade. Estar atenta, despertar é compreender o processo incessante do nascer/morrer. Lembrem-se que pessoas amadas deixam marcas profundas em nós. Em vez de apenas se lamentar, ore para que estejam na luz infinita. Queira o bem delas, agradeça e se comprometa a fazer o bem a todos os seres, a honrar sua memória em sua vida. E, seja você agora esse ser capaz de provocar amor e deixar saudades.”

E para começar 2022 de coração e espírito abertos, a recomendação de Monja Coen é: “Ande reto por uma estrada curva. Como fazer isso? Sendo as curvas do caminho”.

PARA LER
 
Capa do livro da Monja Coen: Mãos em prece
Livro Mãos em prece (foto: Jukai Christopher Zenyu/Divulgação)
 


A CIÊNCIA COMPROVA

Se há quem duvide ou não dê crédito ao valor real da gratidão, a ciência comprova em inúmeros estudos e pesquisas. Para citar alguns, os psicólogos Robert A. Emmons, da Universidade da Califórnia, em Davis, e Michael E. McCullough, da Universidade de Miami, em um estudo pediram aos participantes que escrevessem frases a cada semana, com tópicos específicos. Um grupo escreveu sobre coisas pelas quais era grato, outro sobre irritações diárias ou o que os desagradaram, e o terceiro sobre eventos que os afetaram sem ênfase em serem positivos ou negativos.

Depois de 10 semanas os que escreveram sobre gratidão ficaram mais otimistas e se sentiram melhor com suas vidas, e também se exercitaram mais e tiveram menos consultas médicas do que os que se concentraram em assuntos desagradáveis. Já Martin Seligman, psicólogo da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, testou o impacto de intervenções de psicologia positiva em 411 pessoas, cada uma com uma tarefa de escrever sobre memórias.

Quando a tarefa semanal era escrever e entregar pessoalmente uma carta de gratidão a alguém que nunca havia sido agradecido por sua bondade, os participantes logo exibiram grande aumento nas pontuações de felicidade e os benefícios duraram um mês. E estudos mostram que os gerentes ou chefes que se lembram de dizer “obrigado” às pessoas que trabalham sob seu comando descobrem que esses funcionários se sentem motivados a trabalhar mais.
 
 

CAMINHO PARA O PERDÃO


Mãos juntas em prece e meditação
Monja Coen ensina que há reflexões de como cada um deve ser capaz de agradecer em qualquer tempo, colocando as mãos juntas e fazendo a diferença naquilo que pode e onde estiver (foto: truthseeker08/Pixabay )


“Agradecer. Autoelogiar. Anotar os aprendizados diários.” Três tarefas para todos fazerem ao fim do dia para enxergar a si, ao outro, a vida e o mundo de maneira real e plena. Missão dada pela psicóloga clínica Renata Borja, especialista em terapia cognitiva (TCC), professora, escritora, palestrante, que acredita que gratidão é um hábito, que pode ser estimulado, criado e desenvolvido virando parte da vida. “No meu caso, é uma cultura de família, transmitido pela minha mãe. Aprendi a procurar o que posso agradecer. Olhar o que deu errado não para remoer, mas para extrair um aprendizado. Estas três práticas ajudam e a gratidão faz parte, está dentro delas. E não é superficial ou simples”, diz.

Para Renata Borja, diferentemente de outras opiniões, gratidão não é emoção. Conforme ela, pode ser uma emoção secundária, ligada a contentamento ou alegria, mas o principal é que está relacionada ao sistema de regulação emocional, que tem três principais entre os cinco registrados. Tem o sistema de ameaça e proteção composto pela raiva, medo, nojo, ansiedade e que ajuda a identificar os perigos e ter estratégias de enfrentamento. O segundo é o da segurança, responsável pela sensação de calma e tranquilização, ativado quanto a pessoa quer ajuda, receber cuidado. E o terceiro, o sistema de recompensa, onde está a gratidão, é o que precisa para se sentir motivado, é o que joga a pessoa para frente.

Gratidão não tem a ver com idade, mas cultura familiar, deve ser ensinada. O que passa por saber agradecer também o ruim, não o ruim pelo ruim, mas o que ele lhe proporcionou. Pode ficar triste, chorar o quanto quiser, mas perceber o que aprendeu com a experiência e o tornou mais forte

Renata Borja, psicóloga

“A gratidão é estimulada pelo sistema de recompensa, como o elogio, algo desafiador, busca de aprendizado, de ações, engajamento, este de forma adaptativa. E todos os três podem ser usados de forma funcional e disfuncional. Dentro do ciclo de meta cognitivo de aprendizagem, que fazemos para aprender coisas novas, planejar, monitorar, avaliar e regular entra a gratidão no sistema de regulação, criando o sistema de aprendizado”.

HÁBITO 

Renata Borja enfatiza que gratidão não tem a ver com idade, mas cultura familiar, deve ser ensinada. O que passa por saber agradecer também o ruim, não o ruim pelo ruim, mas o que ele lhe proporcionou. Pode ficar triste, chorar o quanto quiser, mas perceber o que aprendeu com a experiência e o tornou mais forte. O aprendizado negativo, se simplesmente negá-lo, não irá aprender, não se desenvolverá, não criará estratégias futuras e possibilidade de uma vida nova. E o aprendizado ninguém tira de você. “A chave da gratidão é o hábito e tê-la não só com Deus, mas com quem lhe cerca e tem contato. E pode agradecer por hoje e por algo que lhe aconteceu há anos. Depois de muito tempo, quis agradecer a um amigo que me ajudou em um momento de exclusão. Ele ficou feliz em receber minha mensagem e saber o que fez por mim”, conta.

A psicóloga recomenda que as pessoas, ao olhar o que deu errado, parem de remoer e saia desse modelo de culpa, penalização, ruminação. Gratidão é curar o rancor. “A gratidão está relacionada com o perdão, mas é diferente porque é um caminho para o perdão, vai abrir campos. E as pessoas precisam parar de confundir o significado do perdão. Ele serve para você e não para o outro, serve para se livrar do que o outro lhe fez de ruim, lhe prejudicou, para ficar livre da mágoa. O outro pode nem saber ou até já ter morrido. E gratidão tem a ver ainda com espiritualidade e também está ligada ao sistema de segurança, de apaziguamento, de cuidado e sensação de prazer. Gratidão é eterna.”

PARTICIPE: DESAFIO DE 21 DIAS 

Uma forma de consolidar o hábito da gratidão é participar do desafio de 21 dias. Muitos o praticam via internet com a participação de várias pessoas. São 21 ações sugeridas, sendo duas fixas que devem ser feitas além da ação do dia: E por que 21 dias? Porque é o período que as pessoas levam para criar um hábito.

Fixas:
  1. Todos os dias, ao levantar, lembre-se de 10 motivos que tem para ser grata(o). Pense nas coisas simples, em coisas que te ajudaram a ser quem é hoje e agradeça pelo que ainda virá.
  2. Quando for dormir, pense em três coisas boas do seu dia.

Diárias:
  1. Qual tarefa você se sentiu grata(o) em fazer hoje?
  2. Quem foi a melhor pessoa que encontrou no dia?
  3. O que você fez hoje que te deu orgulho em realizar?
  4. Qual o melhor cheiro que sentiu neste dia?
  5. Você ouviu uma música legal hoje? Qual foi? Se ainda não ouviu, ouça antes de dormir.
  6. O que você mais gosta em seu corpo? Agradeça por essa parte.
  7. Quais são as três pessoas mais importantes da sua vida e por quê?
  8. Lembre-se de algo que você achou que não conseguiria realizar, mas que deu certo.
  9. Qual é o seu maior talento?
  10. Pense em um bem material que você queria muito e conseguiu comprar.
  11. Por qual alimento você se sente grata(o) por conhecer o sabor?
  12. Qual foi o dia mais especial de sua vida?
  13. Tente imaginar como estará daqui a cinco anos. Seja positiva(o).
  14. Pense em alguém que te fez um grande favor recentemente.
  15. Seja gentil com pelo menos uma pessoa.
  16. Diga “bom dia” para todas as pessoas que encontrar na manhã deste dia.
  17. Qual foi o melhor momento da sua semana até agora?
  18. Dê um mimo para alguém especial. Pode ser até um bilhetinho.
  19. Pense em uma atividade social voluntária que pode fazer. Se possível, coloque em prática essa semana mesmo.
  20. Feche os olhos e sinta-se agradecida(o) por sua vida de todo o coração.
  21. Qual é o seu lugar preferido no mundo?
Fonte: Viva a plenitude (https://vivaaplenitude.wordpress.com/)
 
 
 


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