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Vacina contra COVID-19: especialista tira dúvidas sobre efeitos colaterais


A vacinação contra COVID-19 no Brasil tem sido acompanhada por muitas dúvidas relacionadas aos efeitos colaterais dos imunizantes. Posso beber após vacinar? Quais os efeitos colaterais mais comuns? Quais as características de cada tipo de vacina? O medo dos efeitos tem, inclusive, dificultado as metas de imunização dos estados. Em algumas regiões de Minas Gerais, cerca de 25% dos vacinados não retornaram para tomar a segunda dose.





O Estado de Minas perguntou para os leitores em seu perfil no Instagram (@estadodeminas) quais dúvidas eles gostariam de esclarecer sobre vacinas a COVID-19. Para respondê-las, convidamos o epidemiologista José Geraldo Ribeiro, professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e assessor científico em vacinas do grupo Hermes Pardini. As principais dúvidas foram respondidas numa edição especial do #PRAENTENDER, nossa série de vídeos explicativos. Outras estão disponíveis abaixo. Confira.


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Por que as vacinas causam efeitos colaterais?

Assim como qualquer medicamento, as vacinas podem causar efeitos adversos, apesar de nem todas as pessoas os apresentarem.

“Alguns efeitos colaterais das vacinas são próprios da resposta imunológica. Há reação local que é provocada muitas vezes por componentes que estão ali para irritar o local e assim atrair nossas células de defesa. E a resposta imunológica cursa com um pouco de febre, com uma certa sensação de mal-estar. Isso faz parte da resposta imunológica em algumas pessoas. Por isso, 10%, 15% das pessoas têm um pouco de febre pós-vacinação”, explica José Geraldo Ribeiro.





O médico infectologista José Geraldo Leite Ribeiro (foto: Arquivo pessoal)


Existem eventos adversos menos frequentes que são relacionados à hipersensibilidade. Estes eventos ocorrem quando o organismo tem alergia a algum componente da vacina.

Quem não teve efeito colateral está imunizado?

“É mito associar eventos adversos com eficácia da vacina. Os eventos adversos, em geral, estão relacionados à hipersensibilidade e não tem nada a ver com a resposta imune. Então, o fato da pessoa ter tido ou não evento adverso não quer dizer nada a respeito da proteção que a vacina propiciou”, afirma o médico.

Os efeitos colaterais estão ligados à eficácia da vacina?

Outra dúvida frequente é se quanto mais efeitos colaterais uma vacina apresentar, mais eficaz ela é. Isso é mito. As vacinas apresentam efeitos colaterais diferentes porque são feitas em plataformas diferentes.





As plataformas mais comuns para a produção de imunizantes são:

  • Vacinas atenuadas, como as da febre amarela, sarampo e catapora
  • Vacinas inativadas, como a CoronaVac e as vacinas de hepatite A e hepatite B
  • Vacinas de vetores, como a AstraZeneca e Janssen
  • Vacinas de RNA, como a Pfizer

Segundo o professor, “eficácia não tem nada a ver com evento adverso, é mito”.

A CoronaVac corresponde a 47% das doses contra COVID-19 aplicadas no Brasil (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 7/4/21)


Quando procurar um hospital por efeito colateral da vacina?

Os fabricantes de vacinas recomendam que se efeitos colaterais como dor ou febre estiverem incomodando, o vacinado deve procurar o seu profissional de saúde para que ele possa indicar o uso de algum medicamento para alívio destes sintomas.

Após a vacinação, pode ocorrer do vacinado ter mais de um efeito colateral ao mesmo tempo. Se algum dos seus sintomas persistir, o vacinado deve consultar o seu profissional de saúde.

“Se teve dúvida, procure (um médico ou farmacêutico). Agora, se você percebeu que é uma coisa leve, está com o organismo bem, ficou vermelho no local, você teve uma febre de até 37,5º C, não há necessidade. Mas se está com febre alta, com muito mal-estar, com alguma dor localizada, como dor no tórax e dor abdominal, ou se começou a aparecer muitas manchas no corpo, é preferível buscar o serviço de saúde para verificar a gravidade e tomar as medidas adequadas”, esclarece o médico.





Pode tomar paracetamol após se vacinar?

Há algumas semanas, surgiram boatos na internet dizendo que vacinados não podem tomar paracetamol para aliviar os efeitos colaterais da vacina, como dores e febre.

A confusão começou porque no fim de maio a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, emitiu um alerta dizendo que o uso indiscriminado de paracetamol pode levar a eventos adversos graves, incluindo hepatite medicamentosa e morte.

Segundo a agência, o medicamento pode ser usado desde que sejam seguidas as recomendações da bula, como a dose máxima diária e o intervalo entre as doses.

Aplicação da CoronaVac em Belo Horizonte. A vacina é a mais usada no Brasil contra a COVID-19, segundo o LocalizaSUS (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 6/3/21)


O epidemiologista José Geraldo Ribeiro alerta para que não seja realizada a prática de tomar paracetamol ou outros antitérmicos antes da vacinação para evitar efeitos colaterais futuros.





“Alguns estudos foram feitos fazendo antitérmico profilático. Duas horas, uma hora antes da vacina, dava antitérmico para a pessoa, vacinava e mantinha esse antitérmico de 6 em 6 horas por 48 horas. Quando você faz isso, você diminui a sua imunogenicidade em muitas vacinas”.

“Se você fez uma vacina e está com muita dor local ou está com uma febre maior que 37,5º C, você pode se medicar tranquilamente que não vai ter interferência na vacina. Há interferência nesses casos de uso preventivo de antitérmico”.

Quem teve trombose ou tem histórico na família pode se vacinar?

Segundo José Geraldo Ribeiro, o tipo de trombose que foi associada com a vacina AstraZeneca é um tipo de trombose especial que não tem nada a ver com a trombose que as pessoas costumam ter pelo tabagismo, pelo uso de pílula anticoncepcional ou por problemas vasculares.





“A trombose que foi associada à vacina AstraZeneca é uma trombose acompanhada de uma diminuição muito grande de plaquetas na corrente sanguínea (plaquetopenia). Tromboses que não foram acompanhadas de diminuição de plaquetas no sangue não são contraindicações à vacinação AstraZeneca”.



A formação de coágulos sanguíneos após a aplicação da AstraZeneca é muito rara. Na bula do imunizante diz que ocorreram “coágulos sanguíneos importantes em combinação com níveis baixos de plaquetas no sangue (trombocitopenia) foram observados com uma frequência inferior a 1 em 100.000 indivíduos vacinados”.  

Segundo o epidemiologista, “em relação às vacinas de RNA (Pfizer) e às inativadas (CoronaVac) não há relação com nenhum tipo de trombose. Inclusive, quem teve trombose com plaquetopenia pode fazer a vacina Pfizer ou a vacina CoronaVac”.

O epidemiologista alerta que, na dúvida, quem teve trombose deve consultar o seu médico antes de se vacinar.

Gestantes podem tomar a vacina contra a COVID?

Quando as vacinas contra a COVID foram licenciadas, não havia estudos envolvendo gestantes já que não é permitido incluir este grupo em testes de medicamentos. Porém, como há um risco alto da gestante desenvolver a forma grave da doença, vários países no mundo decidiram vaciná-las, mesmo sem a participação nos testes.





O Brasil tem vacinado gestantes e puérperas com as vacinas CoronaVac e Pfizer (foto: Pixabay)


“O Brasil agiu dessa forma, só que ocorreu um caso de trombose com baixa de plaqueta (plaquetopenia) em uma gestante. Então, como uma medida cautelosa, a Anvisa suspendeu o uso da vacina Astrazeneca em gestantes”.

Atualmente, o Brasil tem vacinado gestantes e puérperas apenas com as vacinas CoronaVac e Pfizer.

Estou com medo dos efeitos colaterais da vacina. O que fazer?

O epidemiologista alerta que os efeitos e sequelas da COVID-19 são mais graves que os possíveis efeitos colaterais das vacinas.

“Para quem não tomou a vacina e está temeroso, eu aconselho o seguinte: tenha temor da COVID-19. É uma doença, por enquanto, gravíssima. É uma doença muito grave e nós perdemos pessoas jovens, sem comorbidades. Eu vi gestantes jovens intubadas numa situação horrorosa. Não tenha medo das vacinas, tenha medo da doença. Corre e vai vacinar”, comentou o epidemiologista José Geraldo Ribeiro.





Como apenas uma dose não é suficiente para a imunização, é necessário tomar a segunda dose para garantir a eficácia da vacina.

“Quem fez a primeira dose e teve algum evento adverso, converse com as equipes de saúde. Pode ser que o que você tenha tido depois da vacina não teve nada a ver com a vacina, isso acontece. Nós estamos vacinando muita gente. Toda campanha que a gente faz é assim. Toda doença que aparece depois, você pensa que é a vacina. Então, procure a equipe de saúde, ela vai caracterizar esse evento adverso e você só vai ter a segunda dose contra-indicada se foi um evento adverso grave que ameaçou a sua vida, se teve um evento alérgico muito grave”, orientou o médico.

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Confira respostas a 15 dúvidas mais comuns

Guia rápido explica com o que se sabe até agora sobre temas como risco de infecção após a vacinação, eficácia dos imunizantes, efeitos colaterais e o pós-vacina. Depois de vacinado, preciso continuar a usar máscara? Posso pegar COVID-19 mesmo após receber as duas doses da vacina? Posso beber após vacinar? Confira esta e outras perguntas e respostas sobre a COVID-19.

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