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Estado de Minas SAÚDE

Cirurgião paranaense realiza primeira cirurgia para diabetes no Iraque

Trata-se de um procedimento metabólico parecido com a cirurgia bariátrica. Especialista já havia realizado o método no Brasil


29/01/2021 13:09 - atualizado 29/01/2021 14:47

Equipe médica de Alcides Branco, que realizou a cirurgia no Iraque(foto: Comunicore/Divulgação)
Equipe médica de Alcides Branco, que realizou a cirurgia no Iraque (foto: Comunicore/Divulgação)

Reconhecida internacionalmente como potente ferramenta no tratamento do diabetes tipo 2 em pacientes com obesidade leve, a cirurgia metabólica foi realizada pela primeira vez na história do Iraque. O responsável pelo procedimento foi o médico paranaense e cirurgião bariátrico e do aparelho digestivo Alcides Branco, que em novembro do ano passado embarcou para essa missão no país árabe. 

“Ela aconteceu em Arbil, ao norte do Curdistão, em um paciente que mora na capital Bagdá e que se deslocou até lá para fazer o procedimento. Dentro de nossas possibilidades de fazer procedimentos fora do Brasil, realizamos a primeira cirurgia metabólica para tratamento do diabetes tipo 2 no Iraque”, diz o especialista, que relembra que o paciente, antes do procedimento, tomava cerca de quatro medicamentos por dia sem sucesso. 

O paciente, de 54 anos, apresentava Índice de Massa Corporal (IMC) de 32 kg/m2 e tinha diabetes tipo 2. De acordo com os relatos do médico, pouco mais de 30 dias após a cirurgia, que foi feita por videolaparoscopia – método minimamente invasivo com pequenas incisões no abdômen –, o até então diabético não necessitava mais de remédios. Atualmente, ele encontra-se em estado de remissão da doença.  

Além disso, até o tratamento para hipertensão teve interferência. Agora, o paciente precisa de apenas meia dose para controlar a pressão arterial diariamente e segue em acompanhamento médico com os responsáveis pelo caso no país árabe, Majeed Mussi e Mohamed. “Apesar de o foco da cirurgia metabólica ser tratar a doença, ela também tem o benefício de perda de cerca de 20 ou 25 quilos de massa corporal”, afirma Alcides Branco. 

Mas de que se trata, de fato, essa cirurgia metabólica e por que ela é capaz de reduzir o peso do paciente? Segundo o cirurgião, isso muito tem a ver com a base de formação da cirurgia metabólica, haja vista que ela se deu por meio da observação do controle do diabetes em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica – intervenção para a perda de peso em excesso. “São procedimentos similares, mas com objetivos diferentes.” 
 
Alcides Branco, médico paranaense e cirurgião bariátrico e do aparelho digestivo (foto: Comunicore/Divulgação)
Alcides Branco, médico paranaense e cirurgião bariátrico e do aparelho digestivo (foto: Comunicore/Divulgação)
 

“A cirurgia metabólica visa o controle da doença. Já a cirurgia bariátrica tem como objetivo a perda de peso, com as metas para contenção das doenças, como o diabetes e hipertensão, em segundo plano. Na cirurgia metabólica, reduzimos o tamanho do estômago e criamos um desvio do intestino inicial, o que promove o aumento de hormônios que colaboram para a saciedade e influenciam no controle da glicemia”, explica. 

Ainda de acordo com Alcides Branco, em muitos casos, o paciente sai do centro cirúrgico já com a glicemia em níveis considerados normais, interrompe o uso de medicamentos e mantém acompanhamento pós-operatório para verificar o controle da doença.

Porém, o médico pontua que não se pode falar em cura. “O diabetes é uma doença crônica e, portanto, incurável, falamos em estado de remissão que é quando se obtém o controle da doença.” 

E, nesse cenário, nem todas as pessoas diabéticas podem se submeter ao procedimento, sendo, assim, necessário que o paciente atenda alguns critérios de indicação. Entre eles, estão a ausência do controle do diabetes tipo 2 com o tratamento convencional comprovada, idade mínima de 30 anos e no máximo 70 e Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m², considerado como obesidade leve.  

Acima deste peso, Alcides Branco destaca que, com o quadro de obesidade moderada, o paciente também tem acesso ao benefício do controle do diabetes com a cirurgia bariátrica. Além do controle do diabetes, a cirurgia impõe remissão total ou parcial da doença, com, ao menos, doses menores de medicamentos diários e redução de riscos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, renais, tromboembólicas, entre tantas outras ligadas ao diabetes. 
 

"A cirurgia metabólica visa o controle da doença. Já a cirurgia bariátrica tem como objetivo a perda de peso, com as metas para contenção das doenças, como o diabetes e hipertensão, em segundo plano. Na cirurgia, reduzimos o tamanho do estômago e criamos um desvio do intestino inicial metabólica, o que promove o aumento de hormônios que colaboram para a saciedade e influenciam no controle da glicemia."

Alcides Branco, médico paranaense e cirurgião bariátrico e do aparelho digestivo

 

“Se presente, a hipertensão arterial também apresenta melhora. Outro benefício é a perda de peso, que não é o foco desta cirurgia, mas que também ocorre. E isso é bem benéfico, pois a literatura médica mostra que o índice de complicações em cirurgias desse tipo é menor do que outras como vesícula, apêndice e útero. Não há razão, com a tecnologia que temos hoje, de se temer a cirurgia”, afirma o médico cirurgião. 

No Brasil 


A cirurgia para o diabetes foi reconhecida, no Brasil, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2017. “Tanto no Brasil como nos países árabes, o diabetes tipo 2 é uma epidemia. É muito frequente após os 40 anos e o grande problema é a evolução do diabetes, como a hemodiálise, transplante renal, retinopatia diabética, amputação dos membros inferiores, doenças cardíacas, entre outras.” 

“A alternativa da cirurgia metabólica é uma boa opção para esses pacientes que não são obesos, em sua maioria. Vem para somar. Por isso, atualmente, é uma cirurgia que tem muito apelo para os pacientes diabéticos não obesos. É uma cirurgia que está regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina e que no Paraná realizamos há mais de dois anos”, diz Alcides Branco. 

Eva Degtiar Silva, 42 anos, empresária na área de marketing digital (foto: Arquivo pessoal)
Eva Degtiar Silva, 42 anos, empresária na área de marketing digital (foto: Arquivo pessoal)
A empresária na área de marketing digital Eva Degtiar Silva, 42 anos, foi uma dessas pessoas. Ela sofria de diabetes desde 2016 e se submeteu à cirurgia em fevereiro de 2018 e, hoje, não faz mais uso da insulina, graças à cirurgia metabólica. “Eu queria ter qualidade de vida, mais saúde e não depender mais de remédios como dependia. Quando procurei o médico Alcides Branco, tomava 17 comprimidos para diabetes, esteatose, pressão alta, aplicava 52 unidades de insulina e tomava remédios muito caros, não fornecidos pelo SUS.” 

“Só assim o diabetes ficava equilibrado. Depois da cirurgia, no mesmo dia, não apliquei mais insulina. Nos dias seguintes já não tomei mais o remédio da pressão alta e aos poucos meus exames foram se regulando. Tive mudanças de hábitos alimentares e emagreci 19,5 quilos. E continuo bem, tão bem que engravidei, a Carol está prevista para nascer no dia 19 de março. Nós estamos bem.” 
 

"Eu espero e desejo muito que o Sistema Único de Saúde (SUS) consiga realmente fazer a liberação para quem não tem obesidade com grau elevado e quem realmente queira controlar a obesidade. Sabemos que, em muitas situações, as pessoas diabéticas nem sempre são obesas, como era o meu caso. A gente sabe como é difícil ficar na linha. Manter o diabetes controlado não é fácil."

Eva Degtiar Silva, 42 anos, empresária na área de marketing digital

 

Apesar de regulamentado, o procedimento não está disponível na rede pública ou por planos de saúde. Uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) desenvolveu uma campanha e apresentou dados para apreciação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para inclusão da cirurgia metabólica no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde no ano passado. O parecer do órgão deve ser publicado em meados de março. 

“Eu espero e desejo muito que o Sistema Único de Saúde (SUS) consiga realmente fazer a liberação para quem não tem obesidade com grau elevado e quem realmente queira controlar a obesidade. Sabemos que, em muitas situações, as pessoas diabéticas nem sempre são obesas, como era o meu caso. A gente sabe como é difícil ficar na linha. Manter o diabetes controlado não é fácil”, deseja Eva Degtiar Silva. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 


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