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Estado de Minas ENDOMETRIOSE

Impacto da doença na vida da mulher

Enfermidade de difícil diagnóstico pode afetar a saúde feminina, levando à infertilidade


15/03/2020 04:00 - atualizado 11/03/2020 18:06


Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 180 milhões de mulheres sofrem com endometriose no mundo. No Brasil, de 10% a 15% das mulheres em fase reprodutiva têm a doença, o que equivale a quase 7 milhões de brasileiras. De difícil diagnóstico, a enfermidade pode afetar a vida feminina de forma direta, levando à infertilidade, o que ocorre em 40% dos casos, de acordo com o Ministério da Saúde.

A endometriose envolve fatores genéticos, anormalidades imunológicas e disfunção endometrial. A doença pode acometer diversas partes do corpo, acarretando graves consequências. “Por ser caracterizada pela presença de endométrio fora do útero, a endometriose pode ser encontrada em vários órgãos próximos a ele, como bexiga, ovários e intestino”, explica Cláudia Navarro, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução assistida.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), 5% dos casos de endometriose não apresentam sinais. Sendo assim, o ginecologista Henrique Tavares, da Clínica Penchel, alerta que, além da informação e de atendimento especializado, o conhecimento do próprio corpo é fundamental para a identificação da doença.

A endometriose afeta inclusive a produtividade profissional. Foi o que ocorreu com a estudante de jornalismo Mariana Menezes, de 22 anos, que, após seis anos de dúvidas e dores, descobriu a doença. “Muitas vezes, a dor é tanta que eu não consigo ir à aula. Precisei, inclusive, sair do meu estágio, pois não aguentava trabalhar devido à dor”, conta.

DESPERCEBIDA 

Em muitos casos, por considerar os sintomas normais ao ciclo menstrual, mulheres e especialistas tendem a deixar a endometriose passar despercebida. Além disso, a inexperiência quanto ao entendimento da doença pode levar a constatações errôneas, retardando o diagnóstico de fato, bem como o início do tratamento. A estudante de odontologia Renata Guimarães, de 21, foi diagnosticada pela primeira vez com uma síndrome capaz de comprimir a veia através da artéria, estagnando o sangue e possibilitando o surgimento de uma íngua.

Na verdade, Renata sofria de endometriose e a então íngua era seu intestino, que, devido à presença de endométrio, atravessava um pequeno buraco presente na parede de sustentação dos órgãos e se acomodava em sua pelve. “O angiologista disse que eu teria que fazer uma cirurgia e colocar um stent na veia do intestino para que ela não fosse comprimida e eu vivesse. A cirurgia já estava até marcada, quando resolvi procurar outro profissional, que me deu o diagnóstico correto”, relata.

O ginecologista Henrique Tavares ressalta que o tratamento de endometriose pode se estender por todo o período fértil da mulher, desde o diagnóstico da doença até a menopausa. Portanto, alguns cuidados são necessários. “É preciso manter uma alimentação com o mínimo de alimentos inflamatórios possíveis e praticar atividades físicas regularmente.”

Os tratamentos podem gerar efeitos colaterais, principalmente pela alta ingestão de hormônios. Alguns deles são aumento de peso, produção de leite, trombose e alteração do apetite sexual. Em alguns casos, a mulher não se adapta aos remédios indicados. Em outros, o corpo feminino rejeita o DIU. E, ainda, há aquelas que necessitam de realizar uma cirurgia atrás da outra, sem resultados.

MATERNIDADE 

Dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) apontam que entre 30% e 50% das pacientes com diagnóstico de endometriose apresentam dificuldades para engravidar, devido à diminuição da quantidade de óvulos e comprometimento das tubas uterinas. Além disso, as inflamações e aderências dificultam a fertilização.

A gerente administrativo Admayra Indira, de 26, está à espera do primeiro filho, espontaneamente. “Alguns médicos me disseram que eu jamais poderia ter filhos e que somente a inseminação artificial poderia resolver o problema. Com isso, meu mundo foi ao chão, me senti a pior pessoa do mundo. Quando tive a notícia de que seria mãe, depois de inúmeras cirurgias, fiquei em choque e emocionada. Para mim, foi a melhor notícia de todas”, conta.

Em busca de conscientizar não só as mulheres que sofrem com endometriose, mas também aquelas que ainda não têm o diagnóstico da doença, a EndoMarcha é realizada desde 2014 em todo o mundo. A jornalista, ativista e capitã brasileira da EndoMarcha no Brasil, Caroline Salazar, ressalta que a adesão em massa é de suma importância tanto para o movimento quanto para a conscientização da doença. “Seria muito bom se todos participassem da manifestação, porque a incidência é muito alta e quanto mais pessoas se informarem, menos mulheres sofrerão”, destaca Caroline.

Kelly Cristina Patricia Silva Pires, assistente administrativo e coordenadora da marcha em BH, conta que a EndoMarcha busca acolher as mulheres que sofrem diariamente com a presença do endométrio no corpo. “O intuito é abraçar, apoiar, falar e mostrar essa doença, que atinge muitas mulheres. Então, vamos marchar pelo reconhecimento da endometriose como doença social. Vamos marchar para disseminar os sintomas dessa doença, pois só assim o diagnóstico poderá ser feito mais precocemente. Vamos marchar em prol das milhões de brasileiras, especialmente as adolescentes, que sofrem deste mal, para, assim, salvar a futura geração de portadoras”, ressalta.

Patologia crônica

A endometriose interfere diretamente na saúde, comprometendo a qualidade de vida

Sintomas

. As ocorrências mais frequentes são cólica menstrual de moderada a limitante, dor profunda na relação sexual e dor pélvica crônica

. Pode ser identificada por meio de alguns exames específicos, como o ultrassom transvaginal e a ressonância magnética, comumente usados para a realização de diagnósticos de suspeita. Já o diagnóstico definitivo é realizado por meio da laparoscopia, exame cirúrgico capaz de visualizar de forma direta as lesões

. Na fase inicial da doença, o diagnóstico pode impedir a progressão dos focos de endométrio com o bloqueio ovariano pela ingestão de hormônios adequados. No entanto, em muitos casos, a descoberta da doença ocorre tardiamente

. O uso contínuo de anticoncepcionais e outros métodos, como o DIU, podem amenizar os sintomas, levando ao desconhecimento total 
da doença

. Em estágio mais avançado, a endometriose pode gerar consequências ainda mais graves na vida da mulher, como o surgimento de distúrbios sexuais, urinários e/ou intestinais

Entenda o problema

O endométrio é o tecido que reveste a parte interna do útero

No período  fértil, hormônios estimulam essa camada, que fica mais grossa, para o caso de uma fecundação

Se a gravidez  não acontece, o endométrio descama e sangra, formando a menstruação

Em quem tem endometriose, as células do endométrio, que deveriam ficar só no útero, migram para os ovários, intestino, bexiga, tubas, etc.

EndoMarcha

Em busca de conscientizar não só as mulheres que sofrem com endometriose, mas também aquelas que ainda não têm o diagnóstico da doença, a EndoMarcha ocorre desde 2014 em todo o mundo. Este ano, 75 países marcharão simultaneamente e, no Brasil, serão 22 cidades, entre elas Belo Horizonte. Marcado para 28 deste mês, o evento contará com a presença de trios elétricos e, na capital mineira, terá concentração na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul, a partir das 10h. Além disso, panfletos serão distribuídos a fim de alertar a população sobre os sintomas e diversos outros aspectos da endometriose.

Cura

A cura da endometriose é pouco difundida devido ao fato de a cirurgia não ser reprodutível, ou seja, sua aplicação é feita de diferentes maneiras, de acordo com cada especialista, segundo explica Alysson Zanatta, ginecologista e doutor em medicina pela USP. Além disso, a identificação da doença pode seguir esse padrão, o que torna ainda mais difícil a discussão em torno de um procedimento específico de recuperação total do quadro.


* Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram


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