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Os caminhos que levam à superação

Evitar que o assunto tragédia entre em casa é sempre melhor. Mas, se for impossível, mostrar o empenho humano para minorar as consequências pode amenizar um quadro de insegurança


postado em 07/04/2019 05:07 / atualizado em 07/04/2019 09:06

A médica Danielli Ferraz integra um time de 14 profissionais da medicina ampliada pela antroposofia, que faz um trabalho voluntário no Córrego do Feijão (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
A médica Danielli Ferraz integra um time de 14 profissionais da medicina ampliada pela antroposofia, que faz um trabalho voluntário no Córrego do Feijão (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )


É também na Comunidade do Córrego do Feijão, em Brumadinho, que encontramos um exemplo de que é possível atuar para minorar os danos provocados por tragédias. Lá, desde o rompimento da barragem, um time de 14 profissionais da medicina ampliada pela antroposofia trabalha de forma voluntária, atendendo crianças, jovens e adultos. A médica Danielli Ferraz integra o grupo.


Questionada sobre de que forma percebe que a tragédia atinge as crianças e adolescentes da região, ela contextualiza: “Entendemos que uma criança de até 14 anos precisa ter a percepção de que vive num mundo bom (na faixa de até 7anos) e belo (dos 7 aos 14 anos), para que ela tenha segurança, confiança e vontade de viver. É a fase da vida mais importante, pois é a sua base”. E explica: “Numa tragédia, quando se vê a vida em risco iminente, perdem-se entes queridos, um ambiente de total insegurança e medo é gerado. Abrem-se feridas na alma, os chamados traumas”.


A médica compara o trauma a uma luva de ferro, que impede o desenvolvimento e causa dor. Lembra que, diante dessa dor, o indivíduo pode se congelar, paralisar ou reagir com violência. E afirma: “Isso não ocorre apenas com as crianças, mas também com os adultos. E, nesse caso, a criança fica sem ninguém para sustentá-la, acolhê-la em sua dor, já que os adultos também estão fragilizados”. Daí a importância de haver um acolhimento a todos, pontua. “Os adultos, sejam pais, professores ou outros atores da vida social, precisam buscar meios de se cuidar, para que possam ser um pilar de sustentação para crianças e jovens”, afirma.


Como? Ela conta que a equipe de saúde e uma equipe também de voluntários da pedagogia de emergência, estratégia também baseada na antroposofia, têm atuado na região. Entre as iniciativas desenvolvidas na comunidade, ela cita atividades de canto, desenho, pinturas e ritmos, todos direcionados à amenização do trauma. “O ser humano é composto por três âmbitos: corpo, alma/emoções e espírito/individualidade. Na medicina ampliada pela antroposofia, temos medicações que atingem esses três âmbitos do ser humano. Para o Córrego do Feijao, levamos essas medicações, saneadoras dessas feridas na alma. A cicatriz do ocorrido sempre vai estar lá, mas podemos minimizar ou mesmo reverter o trauma, para que a pessoa consiga seguir em frente”, afirma. A médica cita que a atividade do grupo de voluntários recebe o apoio das farmácias de medicamentos antroposóficos e homeopáticos da cidade de São João del-Rei, ligada à Associação Yochanam. A Weleda do Brasil e a Injectcenter doam as medicações.


EM CASA Residente em Belo Horizonte, a médica afirma que, mesmo crianças e jovens que estão fora das cidades atingidas ou em risco, como os filhos dela, também reagem às tragédias. Nesses casos, o acolhimento e a proteção também são importantes. “O que devemos fazer é, dentro do possível, impedir que essas notícias cheguem às demais crianças: protegê-las, criar para elas um ambiente de um mundo bom e belo.”


Porém, como vivemos na era da informação, as notícias correm. A médica conta como agiu com os filhos, o que pode ajudar outros pais a se posicionarem diante de situações de tragédia. “Tenho filhos de 10 e 12 anos, que tiveram conhecimento da tragédia de Brumadinho, que chegou em todas as casas devido à brutalidade do ocorrido. Passado aquele primeiro impacto, a partir daí o que deixo chegar para eles como notícia é a beleza das atitudes humanas. Pessoas que, imbuídas de amor altruísta, vêm se dedicando a ajudar, sejam médicos, bombeiros, terapeutas... Assim, mostro para eles o mundo bom e belo.”


Já com o filho mais velho, de 16, a conduta da médica é promover a discussão ética. “Como ele vive a fase do mundo verdadeiro, à medida que chega com as notícias vamos conversando sobre responsabilidades, lucro financeiro x natureza e vida humana... pois, assim, ele vai se posicionando ética e moralmente perante a vida.”

PEDIATRIA Marisa Lages Ribeiro, pediatra, alergologista, pneumologista infantil e presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, informa que se sentir seguro é uma necessidade básica do ser humano em todas as faixas etárias. “As crianças e adolescentes também necessitam se sentir seguros.”


Em contrapartida, diz, o medo faz parte da sobrevivência. “Sentir medo também é importante como forma de proteção da vida, evitando que ela seja colocada em risco desnecessário. Diante do medo, temos que buscar uma saída e a forma de reação pode ser fuga ou paralisação. Porém, estar diante de uma catástrofe é outra situação. Não é fácil para ninguém, muito menos para as crianças e adolescentes que ainda podem ser impactados pela forma como os adultos ao redor reagem”, cita.


Como auxílio para quem passa pelo problema, a pediatra aposta na conversa, na expressão. “É importante haver espaço para as pessoas falarem e explicitarem seus medos e angústias, serem acolhidas. Importante também tentar manter uma rotina, pois muitas mudanças podem interferir negativamente, ainda mais num quadro de tragédia.”
Atentos à demanda de Brumadinho, a médica revela que um colega da região listou como demanda prioritária daquela comunidade orientação para lidar com medos, distúrbios e problemas psíquicos. “A Sociedade Mineira de Pediatra colocou-se à disposição das secretarias municipais de Saúde e de Educação, e oferecemos possibilidade de treinamento da melhor forma que atendesse às necessidades das equipes que têm atuado.”


Mais uma vez, o papel da escola é apontado por ela como fundamental no apoio à comunidade e ao possibilitar que os alunos se solidarizem uns com os outros. “O convívio com pares que estão vivenciando situação semelhante é importante no sentido de compartilhar sentimentos semelhantes. Um apoia o outro, e isso ajuda”.


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