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Estado de Minas

Safra de algodão deste ano em Minas deve crescer mais de 50%

Experiência de produtores de algodão no Norte de Minas contribui para o crescimento da produtividade no estado, que registra ainda aumento significativo de áreas cultivadas


postado em 01/04/2019 06:00 / atualizado em 01/04/2019 08:17

Miniusina de beneficiamento de algodão no município de Mato Verde, no Norte do estado(foto: Márcia França/ Divulgação/Seapa )
Miniusina de beneficiamento de algodão no município de Mato Verde, no Norte do estado (foto: Márcia França/ Divulgação/Seapa )

O algodão é uma das culturas mais resistentes à seca, por isso é ideal para o semiárido (foto: Márcia França/Seapa/Divulgação)
O algodão é uma das culturas mais resistentes à seca, por isso é ideal para o semiárido (foto: Márcia França/Seapa/Divulgação)
A safra de algodão em Minas Gerais deve chegar a 151 mil toneladas neste ano, crescimento de 52,2% e aumento da área plantada de aproximadamente 58% em relação à safra anterior, cobrindo 39,4 mil hectares. Os números são apontados pelo sexto levantamento de safra realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento – Conab.

Os dados recentes das exportações mineiras de algodão demonstram o cenário favorável para a cultura. Em fevereiro, de acordo com levantamentos do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) analisados pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Seapa, Minas Gerais registrou crescimento tanto no volume embarcado quanto no valor das exportações, acompanhando a tendência nacional.

O valor das exportações mineiras alcançou US$ 7,6 milhões, com crescimento de 40,99% em relação ao mesmo período do ano passado, e o volume atingiu 3,5 mil toneladas (+78,8%). A produção mineira de algodão é exportada para 34 países. Vietnã, China, Bangladesh, Cingapura e Argentina respondem pela compra de 67% do total do algodão exportado pelo estado.

Zé Brasil(foto: Márcia França/ Divulgação/Seapa )
Zé Brasil (foto: Márcia França/ Divulgação/Seapa )

Na avaliação do subsecretário de Política e Economia Agrícola da Seapa, João Ricardo Albanez, o cultivo do algodão no estado vem registrando aumentos significativos nos últimos anos. “Isso se deve aos bons preços alcançados nos mercados externo e interno. O cenário mundial aponta para uma estabilização ou mesmo redução na safra dos principais países produtores (China, Paquistão, Índia e EUA), com a diminuição do nível dos estoques. Isso favorece a remuneração do produtor na safra que será colhida e foi o fator determinante para o aumento de área plantada e volume registrados, tanto em Minas como em todas as regiões produtoras no país”, explica.

Na outra ponta da cadeia, as indústrias têxteis têm assegurada a desoneração fiscal junto à Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), por meio da isenção de 41,66% do crédito presumido de ICMS, ao adquirir o algodão certificado dos produtores mineiros, o que viabiliza a competitividade da tradicional indústria têxtil mineira.

Depois de beneficiado, o algodão é armazenado em fardos para posterior comercialização(foto: Márcia França/ Divulgação/Seapa )
Depois de beneficiado, o algodão é armazenado em fardos para posterior comercialização (foto: Márcia França/ Divulgação/Seapa )

Esse resultado contribui para o fortalecimento do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas), na medida em que amplia a disponibilidade da pluma para as indústrias têxteis instaladas no estado. Por meio do Proalminas, o produtor tem garantida a compra de sua produção pelo preço de mercado, mais um adicional de 7,85% no valor. As indústrias que participam do programa têm o compromisso de comprar uma cota do algodão produzido e beneficiado no território mineiro.

MOBILIZAÇÃO O Proalminas nasceu em 2003, momento em que as indústrias têxteis começaram a fechar as portas e houve uma mobilização do setor no sentido de pressionar o estado para que se posicionasse. “Foi então que surgiu a proposta de um programa que abarcasse toda a cadeia: da produção, processamento e a indústria, mediado pelo estado”, conta Carlos Eduardo Oliveira Bovo – superintendente de desenvolvimento agropecuário da Seapa.

Amostra do algodão sendo retirada e identificada para análise da qualidade da fibra no laboratório Minas Cotton, em Uberlândia(foto: Márcia França/Seapa/Divulgação)
Amostra do algodão sendo retirada e identificada para análise da qualidade da fibra no laboratório Minas Cotton, em Uberlândia (foto: Márcia França/Seapa/Divulgação)

Além da contrapartida da indústria para isenção do crédito presumido de ICMS, ela destina 1,5% desse crédito para o Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura (Algominas), cujo princípio é fomentar a cadeia com tecnologias, inovações e apoio à produção, explica Bovo. A gestão do fundo é compartilhada entre representantes do estado, da indústria e do produtor. Esses gestores definem a cada ano como aplicar os recursos de forma a fortalecer essa cadeia.

“O que podemos observar é que nos últimos anos houve um ganho em inovação tecnológica. Nosso algodão tem qualidade reconhecida mundialmente e a produtividade aumentou muito por hectare. Ampliou-se a exportação devido à qualidade. A região do Norte de Minas, por exemplo, que era muito forte na produção de algodão, principalmente através da agricultura familiar, e teve as plantações devastadas após ataque da praga do bicudo, está retomando essa cultura por meio de associação de produtores, selando parceria com o estado através desse fundo, que fomenta a irrigação de salvamento”, constata o superintendente.

De acordo com o técnico agropecuário da Cooperativa de Produtores de Caputi, no Norte de Minas, José Tibúrcio de Carvalho Filho, o projeto vem sendo aplicado há 12 anos, “mas com o veranico de 2011 – uma das maiores crises hídricas da região –, tivemos que reinventar nossos métodos de plantio”. Com o apoio do fundo de incentivo, os algodoeiros da região adotaram a “irrigação de salvamento”. O sistema é operado através do gotejo, utilizando-se a água da chuva coletada em tanques construídos para armazenamento e bombeadas em grande parte por meio tubular de baixa vazão. As gotas vão diretamente ao pé da planta, evitando desperdício do líquido, inclusive com evaporação. “A princípio, era usado em 10 hectares, e já alcançamos 260”.

"Houve ano em que aumentei a roça e colhi bem menos, num alto e baixo de produtividade''

Zé Brasil, produtor



A irrigação é cara, admite Tibúrcio, mas a produtividade é alta. “O algodão no sistema sequeiro (que depende apenas da precipitação pluvial), além de ser de qualidade inferior produzia em média 30 arrobas por hectare. Com a irrigação chegamos a até 350 arrobas por hectare. Os tanques e barramentos da água da chuva podem usar a energia solar para movimentar as bombas. Segundo o técnico da cooperativa de Caputi, com 40 minutos de chuva, com volume de 67mm, é possível armazenar um milhão de litros, o que daria para irrigar por 20 dias uma área de dois hectares.

A irrigação de gotejo não é usada durante todo o ciclo produtivo e é acionada em momentos críticos de seca. “Como a região tem um período curto e concentrado de chuvas, o objetivo da irrigação de salvamento é garantir a oferta de água nos períodos críticos de seca, evitando o estresse da planta que compromete a sua produtividade”, explica Carlos Eduardo Bovo. Técnicos da Emater-MG na região vêm recebendo treinamentos para certificação da produção pelo programa Certifica Minas.

O algodão é uma das culturas mais resistentes à seca, por isso é ideal para o semiárido. Ao se associar a tecnologias, passa a ter valor agregado significativo. Os produtores têm apoio do Fundo com o fornecimento de kits para a irrigação por gotejamento e ferramentas para controle biológico de pragas. “Com o uso de drones podemos realizar esse controle biológico em qualquer tipo de propriedade, das menores às grandes plantações. Outro ponto positivo é que o produtor que vendia o algodão in natura conseguiu, formando parcerias, montar miniusinas de processamento, alcançando valor agregado muito maior”, observa Carlos Bovo.

O produtor José Alves de Souza, conhecido pelo apelido de Zé Brasil, conhece a cultura do algodão desde os 7 anos, quando acompanhava o pai no plantio de sequeiro e os tratos culturais da lavoura, em Catuti. Houve um tempo, quando chovia bem, que a colheita rendia até 230 arrobas por hectare. Com as intempéries climáticas e a irregularidade das chuvas que caracterizam o semiárido mineiro, a produção da família foi caindo, chegando a praticamente zero. “Houve ano em que aumentei a roça e colhi bem menos, num alto e baixo de produtividade, que dependia da vontade de Deus em mandar chuva”, relembra Zé Brasil.



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