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Estado de Minas

Criadores buscam genética perfeita para mangalarga marchador

Técnicas inovadoras de reprodução como a fertilização in vitro, os clones e a barriga de aluguel avançam na criação do mangalarga marchador, maior raça equina do país


postado em 25/02/2019 06:00 / atualizado em 25/02/2019 08:05

Garanhão Elo Cafe Danova, do Haras Santa Esmeralda: uso de técnicas inovadoras de inseminação artificial cresceu 70% no país nos últimos 10 anos(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press %u2013 16/7/14 )
Garanhão Elo Cafe Danova, do Haras Santa Esmeralda: uso de técnicas inovadoras de inseminação artificial cresceu 70% no país nos últimos 10 anos (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press %u2013 16/7/14 )

A tradicional monta natural ainda é a mais usada. Contudo, segue em ritmo decrescente na reprodução de equinos no Brasil. Cada vez mais, os criadores recorrem às técnicas de reprodução artificial em busca do melhoramento genético de seus plantéis. Além da inseminação artificial, da transferência de embriões e da chamada “barriga de aluguel”, já estão disponíveis técnicas mais modernas, como a fertilização in vitro e os clones.

As inovações são destaque na criação do mangalarga marchador, a maior raça de equinos no Brasil, com 600 mil animais registrados e cerca de 16.500 criadores, dos quais, mais da metade (9.044) está em Minas. O estado concentra 245.350 exemplares da raça. Nos últimos 10 anos, houve no país aumento de 70% no uso da inseminação artificial e de transferências de embriões na raça, revela o diretor-técnico da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), Henrique de Mello Machado.

''Acredito que as novas tecnologias (de reprodução) contribuirão ainda mais para a evolução do nosso cavalo''

. Daniel Borja, presidente da ABCCMM



Recentemente, a criação de cavalo mangalarga marchador no Brasil viveu outra “revolução” no melhoramento genético: a clonagem de animais de alta linhagem. Segundo o diretor da ABCCMM, o país já tem cinco clones da raça registados e, em breve, haverá o nascimento de outros animais oriundos do mesmo sistema de reprodução.

“Acredito que as novas tecnologias (de reprodução) contribuirão ainda mais para a evolução do nosso cavalo”, afirma o presidente da ABCCMM, Daniel Borja. Na avaliação dele, uma das formas mais eficazes para o crescimento das novas técnicas de reprodução é o incentivo às pesquisas.

Para isso, a associação dos criadores busca parcerias com diversos centros de pesquisa, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG). ‘Tudo com comprovação científica e muito critério de estudo”, pontua Borja.

Especialistas em campo


O diretor-técnico da associação ressalta que um dos fatores que mais contribuiu para o aumento das técnicas de reprodução artificial foi a formação de mais profissionais especializados na área. “Há cerca de 20 anos, o número de veterinários que dominavam a técnica de inseminação artificial em equinos – com o uso do sêmen a fresco – era muito pequeno. Hoje, a quantidade de profissionais capacitados aumentou muito”, afirma Henrique Machado.

De acordo com os números da ABCCMM, no ano passado, houve 10.196 transferências de embriões e 8.147 nascimentos com o uso da técnica, envolvendo animais da raça mangalarga no Brasil. Pelo sistema de monta natural, foram 30.385 coberturas (gestações) e 19.664 nascimentos. A participação das novas técnicas nas novas gerações de animais foi, portanto, de 29,3%, ante a parcela de 70,7% resultante do processo tradicional.

Ganho financeiro supera retorno da monta natural


O uso das técnicas de reprodução artificial para gerar filhos de garanhões também é uma estratégia adotada pelos amantes da criação da raça mangalarga machador no Norte de Minas Gerais. Do grupo de 40 criadores associados ao Núcleo do Cavalo Mangalarga Marchador do Norte do Estado – sediado em Montes Claros –, 70 já recorrem à inovação para melhoramento genético em suas propriedades.

O presidente do Nucleo do Cavalo, Jorge Antonio dos Santos, é um dos entusiastas da inseminação artificial e da transferência de embriões. Ele também recorre à “barriga de aluguel”, técnica que funciona da seguinte forma: uma égua de qualidade inferior serve como “receptora” para a gestação de um embrião gerado a partir do espermatozoide de um garanhão e do óvulo de uma égua de qualidade genética elevada.

“A grande vantagem da transferência do embrião com o uso da “barriga de aluguel” é que isso permite que uma égua possa gerar até nove filhos por ano, enquanto pelo processo de monta natural o animal gera somente um filho por ano, considerando-se que a gestação de equinos dura 11 meses”, destaca o presidente do Núcleo do Cavalo Mangalarga Marchador do Norte de Minas.

Jorge Antonio dos Santos usa as técnicas de inseminação artificial, transferência de embrião e “ barriga de aluguel” no Haras Pacuí, de sua propriedade, em Montes Claros. Além de reprodutores, ele conta com 15 fêmeas registradas da raça mangalarga marchador, das quais cinco são “doadoras” da transferência de embriões. Cerca de 50 éguas são usadas para o processo de “barriga de aluguel”.

Outro criador de mangalarga satisfeito com os resultados das técnicas de inseminação artificial e transferência de embrião é Yuri Semansky Engler , do município de Jequitibá (Zona da Mata). “Com o uso dessas técnicas, potencializa-se mais a retirada de filhos de animais de qualidade reconhecida, de animais expoentes. Com isso ocorre o melhoramento da genética”, afirma.

“Com a coleta de sêmen e a transferência de embrião, o cavalo pode ser usado para a reprodução em vários lugares ao mesmo. Não há necessidade de levar a égua até o cavalo”, comenta o criador. Ele ressalta as vantagens financeiras dos sistemas de reprodução artificial em relação à monta natural. “Na monta natural, um cavalo cobre apenas uma égua, enquanto com a inseminação artificial ele pode cobrir cinco éguas no mesmo intervalo de tempo. Então, neste caso, o ganho financeiro da inseminação artificial é cinco vezes superior ao da monta natural”, compara Yuri.

Sêmem raro possível no Brasil


O Brasil já dispõe da técnica de reprodução de animais de alto valor genético com o uso do processo de reprodução in vitro ICSI, (sigla em inglês de Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide). Ela possibilita a formação de embriões in vitro a partir de uma injeção de um único espermatozoide dentro de cada óvulo.

Até pouco tempo, a reprodução de animais por meio da técnica ICSI era oferecida por apenas cinco laboratórios em todo o mundo, localizados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, essa técnica pioneira está sendo oferecida aos criatórios de equinos pela empresa In Vitro Brasil Clonagem, sediada em Mogi Mirim (SP). Fundada em 2005, o empreendimento se dedica ao armazenamento celular de grandes e pequenos animais, clonagem de bovinos e a técnicas de reprodução in vitro de embriões de equinos pela técnica ICSI, adotada desde 2014.

“Na inseminação artificial convencional, necessitamos de um mínimo de 150 milhões de espermatozoides viáveis, enquanto na ICSI só precisamos de um. Sendo assim, essa técnica tem a vantagem de permitir a produção de gestações utilizando um sêmen de baixa qualidade, ou raro, ou ainda de alto custo, como é o caso de sêmen congelado comercializado por palheta”, afirma a veterinária Perla Fleury, uma das responsáveis pela técnica inovadora no Brasil. Ela ressalta que a tecnologia também possibilita a produção de embriões de éguas, que não respondem mais à técnica convencional de transferência de embriões, em razão de diversos problemas reprodutivos.

De acordo com informações da In Vitro Brasil Clonagem, o processo da técnica ICSI compreende quatro etapas: inicialmente é realizada a aspiração folicular das éguas, recuperando-se os óvulos; o segundo processo é a maturação in vitro, ou seja, o preparo do óvulo até o ponto de fertilização; em seguida, os óvulos maduros recebem uma injeção de um único espermatozoide, dando a eles o potencial de se transformar em embriões, o que ocorre em até oito dias. A percentagem final de embriões produzidos é de 20%.

De acordo com Perla Fleury, o investimento inicial do criador para a ter a reprodução de equinos com o uso da técnica ICSI gira em torno de R$ 19 mil. No entanto, o valor é baixo se comparado ao alto ganho genético em seu criatório, bem como a possibilidade de viabilizar o uso de garanhões de alto mérito nos EUA e Europa, onde a técnica já é uma realidade.

A reprodução in vitro ICSI começou a ser usada recentemente pelo Haras Imperial, no município de Inhaúmas, na região Central do estado, fundado há 11 anos e que conta com 100 animais puros da raça quarto de milha. De acordo com o gerente do haras, Alvaro Dorneles Cordeiro Machado, neste ano, a propriedade deverá contar com três nascimentos de animais gerados a partir da inovadora técnica.

Ele salienta que um dos pontos positivos da técnica In vitro ICSI é a possibilidade do uso pelo haras de Inhaúmas de sêmen “muito raro” de um garanhão americano de alta qualidade genética, que morreu precocemente, denominado “Dash For Perks”. “Outra vantagem é poder usar a técnica para a inseminação de éguas mais velhas e importantes, que já têm alguma dificuldade de reprodução”, comenta Dorneles. Ele informa que a propriedade também usa outras técnicas como inseminação de sêmen congelado e a fresco, além da transferência de embrião.

 

 


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