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As muitas razões que levaram o eleitor a frear a onda conservadora

Há evidências do cansaço da população com o discurso extremista dos aliados de Bolsonaro, buscando candidatos mais centristas


18/11/2020 04:00 - atualizado 18/11/2020 09:48

O Brasil falou pelas urnas no último fim de semana e mandou mensagens duras para muitos políticos(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
O Brasil falou pelas urnas no último fim de semana e mandou mensagens duras para muitos políticos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


A onda conservadora que levou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Palácio do Planalto e diversos governadores aos seus cargos em 2018 não reaparecerá nas eleições municipais. Se é improvável a maior parte da população brasileira ter mudado de espectro ideológico, o que justifica o fracasso dos candidatos mais alinhados às ideias do atual presidente? Evidentemente, é impossível dizer o que determina o voto do eleitor, mas algumas reflexões relevantes para entender virão aí.

Em primeiro lugar, todos se lembram do período recente – entre 2014 e 2018 – que fez surgir o fenômeno da Lava Jato, levou o ex-presidente Lula para a cadeia e fez surgir na população um sentimento antipolítica, que fortaleceu os chamados outsiders. Paradoxalmente, o principal beneficiado foi um deputado de terceiro escalão e bem conhecido nos círculos políticos de Brasília. O fato é que Bolsonaro estava no lugar certo e na hora certa. Isso permitiu que se elegesse quase sem recurso algum, nem tempo na propaganda eleitoral gratuita. muito menos palanques estaduais. Ainda por cima, levou consigo 12 dos 27 governadores, dentre os quais destacam-se o ex-aliado João Doria (PSDB-SP) e o também o ex-aliado e governador deposto Wilson Witzel (PSC-RJ).

É fato que o presidente não apresenta mais a mesma forma de transferência de votos, já que nenhum de seus candidatos com apoio declarado obteve maior intenção de votos por isso. O caso mais emblemático é de Celso Russomano (Republicanos), em São Paulo, que chegou a ter 28% das intenções de voto e ficou de fora da disputa contra o atual prefeito Bruno Covas, que por sua vez enfrentará um fortalecido Boulos no segundo turno.

Existem também evidências do cansaço da população com o discurso extremista dos aliados de Bolsonaro. Esses sinais vão desde o aumento das intenções de voto de candidatos centristas, como Eduardo Paes (37% de votos na disputa do primeiro turno no Rio de Janeiro), até o movimento perpetrado por Luciano Huck e alguns apoiadores de formar uma frente ampla de centro, envolvendo nomes como o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e algumas outras figuras que antes buscavam se associar ao presidente da República, mas agora preferem uma posição mais equilibrada.

Essa volta ao centro está longe de ser novidade. Era regra que levou um Partido dos Trabalhadores nada radical à Presidência e sempre foi a receita do PSDB para chegar ao poder. Mas se o centro pode ter voltado à moda, a forma de fazer campanha parece ter sido alterada definitivamente depois da campanha de 2018.

Ninguém sabia ao certo (e até hoje não sabe) o poder das redes sociais para eleger alguém. De qualquer forma, ninguém mais menospreza a influência do on-line. No caso brasileiro, mais do que em qualquer outro lugar do mundo, a disseminação maciça de informações – muitas delas falsas – pelo WhatsApp é até hoje um fenômeno de estudo e até de um inquérito no Supremo Tribunal Federal. Por tudo isso, todos os principais candidatos têm estratégias robustas para suas campanhas digitais nessas eleições. Da mesma forma, o Tribunal Superior Eleitoral e todas as demais autoridades estão bem mais preparadas e atentas à disseminação de fake news ou outras formas de manipulação que antes. Seja pela restrição das empresas de internet, seja pela melhora dos entes públicos fiscalizadores, a maior restrição de informações inverídicas acaba por reduzir um diferencial competitivo de grupos beneficiados no passado.

Outro aspecto que provavelmente pesou na escolha dos eleitores é a atuação dos candidatos à reeleição durante a pandemia. Em um extremo está o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), desaprovado por 55% dos cariocas por sua atuação no combate à COVID-19 e rejeitado por 65% da população. Mesmo com o apoio de parte dos evangélicos, Crivella ficou apenas com 21,9% das intenções de votos. No outro extremo estava o candidato à reeleição em Belo Horizonte, Alexandre Kalil, aprovado por 77% pela sua atuação no combate à pandemia, rejeição de apenas 14% e reeleito no primeiro turno com mais de 63% dos votos.

Por fim, vale citar as eleições recentes no México, na Argentina, na Bolívia e outros que elegeram políticos mais alinhados à direita e, recentemente, voltaram ao centro ou mais à esquerda. O mais relevante é, sem dúvida, os Estados Unidos. Caberia um outro artigo apenas para tratar dessa hipótese, mas parece claro que a eleição de Joe Biden e Kamala Harris foi um forte baque no movimento nacional-populista-conservador.

É digno de nota que Bolsonaro tinha recursos para tornar perene a sustentação política de seu grupo político: tinha um partido com muito recurso, exposição gratuita diária na mídia, a máquina pública federal e uma militância que era bem maior do que o que tem hoje. Durante seus dois anos de mandato, o presidente foi rapidamente dilapidando suas forças e chega nanico nessas eleições municipais.

Ainda é cedo para falar que a onda conservadora virou uma marolinha. O mais provável é que não, pois, conforme já demonstrado em diversas pesquisas, o brasileiro é bem mais conservador do que parece. Além disso, ainda existe tempo para que o presidente busque uma rota que o leve a ser competitivo para uma eleição em 2022.

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