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O erro do negacionismo de Bolsonaro

Pressidente perdeu o protagonista do combate à crise para o ministro da Saúde


postado em 23/03/2020 04:00 / atualizado em 05/04/2020 21:44

Jair Bolsonaro parece ainda não entender a gravidade da pandemia de coronavírus(foto: MARCOS CORREA/PR)
Jair Bolsonaro parece ainda não entender a gravidade da pandemia de coronavírus (foto: MARCOS CORREA/PR)
A calamidade provocada pelo coronavírus não deveria ter sido politizada. A afirmação faz sentido, mas somente no mundo ufanista, que não existe. A verdade é que, desde o primeiro momento desta crise, a maior parte dos atores públicos avaliam como tirar o melhor para si. Quem parece ter ganhado mais capital político foi mesmo o ministro da Saúde, Luiz Mandetta.  Uma pesquisa do Atlas Político mostra que 64% da população aprova sua condução do assunto, tendo sido elogiado inclusive pela oposição. Isso criou conflitos entre o ministro e o presidente, que – pelo menos no início – insistiu em não seguir as recomendações de saúde, além de minimizar o impacto da crise.

Como já visto antes, o presidente entendeu que estava perdendo protagonismo para seu ministro e agiu. Bolsonaro nomeou o ministro da Casa Civil para comandar o comitê de crise. Walter Souza Braga Netto é um general, ou seja, pertence a um núcleo diferente do de Mandetta. Do ponto de vista prático, faz sentido sim colocar a Casa Civil coordenar as ações. Mas voltando ao primeiro parágrafo, tudo é cálculo político.

Nesse ponto, parece ter ficado claro que foi um erro ir contra a ciência. O negacionismo do presidente foi bem mais grave nesse caso do que bravatas infantis contra o formato do planeta, preconizada por parte de sua base. Parecer irresponsável quanto a uma questão de saúde pública tão séria acabou colocando a base do bolsonarista em situação confusa no início de toda essa crise. O resultado foi uma derrocada nas redes sociais, que já ocorria desde a divulgação de um PIB de 2019 menor do que o esperado.

No início de março, 86% das manifestações foram negativas nas redes sociais, segundo a Consultoria Arquimedes. A desaprovação só foi se agravando e culminou num panelaço contra o governo na semana passada de um público que é muito caro ao governo: a classe média urbana.Como os animais que habitam o Congresso sentem cheiro de sangue longe, até a última sexta-feira já eram sete os pedidos de impeachment protocolados. As chances desses pedidos avançarem são pequenas, pelo menos por enquanto. Rodrigo Maia tem se comportado de forma bastante responsável no sentido de colocar foco na remediação da crise provocada pelo coronavírus, ainda com os desafios tecnológicos de manter o legislativo funcionando de forma virtual.

Nessa esteira, é digno de nota a eficiência das áreas de tecnologia da informação da Câmara e do Senado. Foi criado o Sistema de Deliberação Remota (SDR), como forma de evitar o contato físico dos parlamentares e diminuir a disseminação do coronavírus. O SDR é uma ferramenta tecnológica desenvolvida desde a greve dos caminhoneiros de 2017, mas que ainda não estava totalmente desenvolvida. O sistema também permite debates em vídeo e áudio para até 600 parlamentares ao mesmo tempo.

O SDR, na prática, permitiu que o poder legislativo não parasse. Semana passada já ocorreram as primeiras deliberações pelo sistema (como a decretação de calamidade pública pela COVID-19). O compromisso dos congressistas é que se votem virtualmente apenas matérias diretamente relacionadas com a crise de saúde pública; mas a depender do tempo que durar é provável que outras matérias sejam deliberadas também virtualmente. É improvável que temas menos consensuais sejam tratados nesses próximos meses – ninguém nem fala mais de reforma tributária, porém, talvez questões que já estão mais maduras, como o novo marco regulatório do saneamento, tenham alguma chance de avançar.

No meio de toda essa confusão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acabou falando sozinho, enquanto defendia sua agenda de reformas e a meta fiscal. Só voltou a ser ouvido quando começou a apresentar medidas de alívio. Guedes disponibilizou R$ 150 bilhões em diferimento de impostos e benefícios à população mais vulnerável para também dar fôlego à economia, como compensações para profissionais autônomos e beneficiários do Bolsa Família.

A verdade é que todos os ministérios foram instados a participar do esforço do governo para contenção dos estragos causados até agora. O Ministério da Justiça coordenou o fechamento das fronteiras com os vizinhos sul-americanos. O Ministério de Infraestrutura precisou se desdobrar para manter a logística em portos e aeroportos funcionando. Até o Ministério do Desenvolvimento Regional deu sua parcela de colaboração, disponibilizando unidades do programa Minha casa, minha vida para serem utilizadas para alocar pessoas em quarentena fora dos hospitais, permitindo rotatividade de leitos.

Parece claro que o Brasil está apenas no início de uma grave situação que a China começa a superar. Aliás, como se não se bastasse tudo o que brasileiro passou na semana passada, ainda houve uma crise diplomática com nosso principal parceiro comercial. O deputado Eduardo Bolsonaro resolveu endossar, pelas redes sociais, a tese de que o vírus é chinês e que foi culpa do governo comunista a disseminação da doença. A resposta do embaixador do país asiático foi no mesmo meio e no mesmo tom. Não é todo dia que se vê o representante de uma nação estrangeira – ainda mais com a relevância da China – afirmar pelas redes sociais que o filho do presidente Jair Bolsonaro "contraiu um vírus mental".

As próximas semanas serão ainda mais tensas para a população e para os políticos. Pelo menos a liderança da nação agora parece ter entendido a gravidade da situação e o melhor para suas carreiras como homens públicos é fazer o máximo possível para aliviar o impacto desse momento sobre os mais vulneráveis. Antes tarde do que nunca. Esperemos que não tenha sido tarde demais.

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