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Estado de Minas COLUNA

Uma dança de outro planeta para meditar

'Sempre que vem um pensamento intruso você perde totalmente o rumo da complexa coreografia'


20/03/2022 04:00 - atualizado 20/03/2022 08:31

Ilustração
(foto: EM/D.A PRESS)

Descobri um jeito infalível para conseguir meditar. Nada a ver com a imagem da pessoa sentada, coluna ereta, em posição de lótus. Nada contra isso também. No meu caso, porém, funcionou melhor com outra técnica, que talvez nem possa ser chamada de meditação. Só sei que, em vez de me sentar, recebi a recomendação de dançar, mas não uma dança comum.
 
É uma espécie de dança meditativa, que, pela primeira vez, me levou a prestar 99% de atenção em algo. Chama-se dança sagrada de templos, em conexão com Saturno. Segundo me explicaram, é o planeta ligado à organização dos pensamentos, das ideias, da vida. Exige foco, concentração e assertividade. 
 
Recebi o vídeo, acompanhado da instrução de que deveria repetir os movimentos mostrados na tela, todos os dias, durante 21 dias.  Ao todo, a dança de Saturno dura em torno de cinco minutos. Melhor dizendo, exatos 5min11. Foi mal aí, Saturno, sei que você requer  precisão nas informações. 

A tal dança é dificílima, pelo menos para mim. Nas primeiras tentativas, me atrapalhei toda ao fazer os passos. A mulher que aparece no vídeo, digamos que seja uma professora, é altamente focada. Ela olha na altura dos nossos olhos e repete os gestos que devemos imitar do outro lado da tela. 
 
Ela quase não sai do lugar. Dá um passo para a direita, depois volta para a posição central. Faz o mesmo com a esquerda, então retorna para o centro. Em seguida, levanta a mão de um lado e depois, do outro. Em cada mão, desenha gestos especiais com os dedos, chamados de mudras.

Pelo que eu pude entender, há uma posição diferente para o lado direito e esquerdo do corpo, e também para os pés e para as mãos, sendo que nenhum dos lados é igual ao outro. Ou seja, você precisa se concentrar nos quatro meridianos do seu corpo, ao mesmo tempo. Não há espaço para pensar em mais nada. 
 
No primeiro dia, confesso, acabei tropeçando na minha própria perna. Ainda bem que estava ensaiando dentro de casa, sozinha. Éramos só eu e a mulher misteriosa, que se apresenta de máscara e com uma roupa toda preta, neutra. Nada no cenário irá distrair o nosso foco. Sobressaem apenas as mãos dela e o seu olhar fixo, que parece nem piscar. 
 
Com muito custo, consegui  memorizar a sequência de 12 passos. Ou seriam 14? Calma aí, Saturno, vou confirmar se é isso mesmo. Seja como for, levei uma semana para decorar o que eu deveria fazer. Consegui fazer os passos, mas tudo mecanicamente. 
 
Só depois de aprender as posições dos mudras, fui capaz de perceber as sutilezas do vídeo. Soube que cada gesto daqueles tinha um propósito. É o caso, por exemplo, das mãos em posição de oração, em frente ao peito. Ao fazer isso, significa que você une o lado direito do corpo (masculino) com o lado esquerdo, feminino. E assim por diante.
 
Saturno me obrigava a ter total presença, cinco minutos por dia. É impossível pensar em outra coisa.  Sempre que vem um pensamento intruso você perde totalmente o rumo da complexa coreografia. Isso aconteceu comigo, por exemplo, quando veio a ideia de escrever essa crônica. Comecei a trocar os pés pelas mãos, mesmo. 
 
Foi necessário voltar o vídeo, rever cada passo, começar do zero. O mais incrível é que, dia após dia, encontro algo que ainda não havia reparado no vídeo. Logo nos primeiros passos, a professora ensina a juntar as mãos na altura do pescoço, formando um triângulo com os dedos. Eu achava que já sabia de cor a introdução. 
 
No entanto, no oitavo dia, soube que essa pirâmide deve ser feita usando apenas o polegar, o indicador e o dedo do meio. Os últimos dois dedos permanecem encolhidos. Como não enxerguei isso antes? Fiz o passo errado por sete dias, sendo que a professora repete a mesma sequência por sete vezes durante o vídeo.
 
Fiquei perplexa. Precisei errar 49 vezes até descobrir o jeito certo. Talvez porque o detalhe ainda não estivesse ao meu alcance. Só caiu a ficha quando evoluí para a etapa seguinte.  Precisei ver primeiro a floresta para depois enxergar a árvore. 
 
Como me ensinou uma mulher muito sábia, é assim que o conhecimento vai chegando até nós. Dia após dia. Minuto a minuto. Passo a passo, com amor. 

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