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Os sons da Terra

Na verdade, esquecemos que a natureza tem o direito de se expressar. E que a Terra nunca foi exclusividade dos seres humanos%u2019


postado em 19/04/2020 04:00 / atualizado em 15/04/2020 21:57



Efeito da quarentena, o burburinho urbano diminuiu. Há menos barulho de buzinas e de obras. Pouca gente na rua e nos céus, com a maioria dos voos cancelados. Comércio e colégios fechados. Zero conversas de boteco. Nenhum grito de gol. Com a Terra em silêncio, o mundo dos sons vem à tona, trazendo fenômenos interessantes, que vão além dos ‘barulhaços’ e dos tenores de varanda.

Li outro dia que o isolamento acústico forçado facilitou o trabalho dos sismógrafos, aparelhos que medem o nível de ruído do subsolo para estudar terremotos e vulcões, entre outros. Segundo o Observatório Real de Bruxelas, na Bélgica, antes era preciso enterrar os aparelhos a 100 metros de profundidade ou aguardar fins de semana ou feriados para obter análises mais precisas. Hoje, sem a interferência das vibrações causadas pelo homem, as captações estão sendo feitas na superfície, naturalmente.

A ficha da pandemia, porém, não caiu para todos. Em vez de rever conceitos, slogan de propaganda antiga, muitos insistem em reproduzir o modelo já vencido de existência no planeta. Fiquei perplexa ao saber que já existe um serviço capaz de fornecer trilhas sonoras da modernidade. É verdade.

Trata-se de uma fábrica de ruídos urbanos. Vende faixas sonoras imitando o zum-zum dos escritórios, confusão de gente falando ao mesmo tempo, frequentadores de bares e restaurantes pedindo a conta ou a saideira. Na minha opinião, essas ofertas beiram ao masoquismo. Credo.

Já deve ter gente com síndrome de abstinência de enfrentar engarrafamento no horário de pico. Não duvido. A maioria nem percebeu ter ganho duas, três horas por dia evitando o deslocamento até o serviço. Mas os habitantes das megalópoles vão custar a desacelerar. Acostumados a apostar corrida nas calçadas, vão continuar desorientados, andando de um lado para o outro, dentro de casa. Permanecem pilhados no home office.

Até as crianças estão reclamando do excesso de silêncio. Fiquei sabendo que o coleguinha do meu filho passou a ter dificuldades para dormir. Desta vez, a culpa não é da tensão pelo confinamento ou saudades da turma de amigos. Segundo contou a mãe, a criança está irritada com os ruídos da noite, que ele desconhecia. Reclama do canto das cigarras, do cricri dos grilos, do pio da coruja.

Na verdade, esquecemos que a natureza tem o direito de se expressar. E que a Terra nunca foi exclusividade dos seres humanos. Algumas espécies de animais resgataram seu hábitat, ainda que temporariamente. Câmeras de celulares registram cenas incríveis pelo mundo, como a invasão de bodes famintos nos Estados Unidos, nuvens de gafanhotos na África, briga de gangues de macacos nas ruas da Tailândia. Mera semelhança com o filme Planeta dos macacos.

Sim, são muitas mudanças a curto prazo (embora a quarentena já pareça uma eternidade). Vamos manter o foco e a fé, juntos. Agradecer pela comida na mesa, pelas reservas da economia e pela multiplicação das lives na internet, abrindo janelas para bons cursos, novos idiomas, palestras dos maiores pensadores. Enfim, encarar os cinco minutos diários de meditação, o telefonema daquela tia querida e o convívio com os filhos, olho no olho. É tempo de viver.

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