Que zona. Eu vi zagueiro tentando armar jogo como se fosse meia. Vi um time sem tesão esperando ser derrotado como uma presa que aguarda o predador, frágil e paciente. Vi uma equipe sem atacantes aguerridos e diversos nomes estranhos, que entraram, assim, do nada. "Coisas que só acontecem com o América", diriam os antigos ali do bar da Sandrinha, na eterna Rua Pitangui.
A bola pune, verdade seja dita. E um gol no final faz três pontos irem embora, ou melhor, seis, já que era confronto direto. Mas, ainda preferindo poupar nomes, eu vou te dar aqui a fórmula perfeita que o América segue, sem aprender a lição, a cada vez que sobe para a Primeira Divisão.
Primeiro: nunca conseguimos dar sequência ao trabalho de um técnico que está arrumando a casa. Vá lá que Lisca teve seus motivos, mas era evidente a ansiedade que a diretoria tinha para fazer um acordo que o dispensasse. Então, vem o desmonte. Agora, temos um time que nem de longe lembra aquela equipe redonda de 2020.
Segundo: como se a Série A fosse um torneio treino, cometemos o repetido ledo engano de formar um grupo sem "cara", com vários jogadores que aparecem e são arremessados ali para fazer algo, vindos de alguma barca de empresário ou algo do tipo. Não faz sentido. Nunca saberemos.
Terceiro: não conseguimos contratar direito, de forma cirúrgica, tampouco priorizamos a contratação de jogadores com nível de Série A. O time é sempre um apanhado de remanescentes que subiram da B (alguns que deram o que tinham de dar) com algumas peças que chegam para ajudar a construir um grupo sem unidade, desorganizado e falho.
Quarto: começamos a perder sempre no início, para os grandes e para os menores, dentro de casa. Hoje, não conseguimos ser nem a sombra do que fomos no ano passado, quando o time tinha um estilo definido, quando conseguia organizar o jogo e ser cascudo. A cada partida, parece ser uma equipe diferente, como se o América fosse um eterno laboratório.
Tínhamos toda a perspectiva de fazer deste um ano diferente. Vejam os exemplos do Bragantino e Fortaleza. Tivemos um ótimo fluxo de caixa ano em 2020, com bons prêmios da Copa do Brasil, organização da estrutura e saúde financeira controlada, mas isso nunca se reverteu em contratações que façam o time ter cara de Série A. Cadê a grana???
A sensação nesta noite fria de segunda é a pior possível. O coração vai dormir gelado e a esperança verde, que por tantas vezes insistiu em não ir embora, começa a dar sinais de redenção. É preciso ao menos ter a consciência: estamos novamente repetindo a fórmula para ser rebaixados no final. Que eu queime a minha língua. Que Deus Salve o América.
