
Vou além: como você reagiria, diante deste bilhete de loteria premiado, se suas aptidões profissionais fossem - no mínimo!! - incompatíveis com o trabalho? Vibraria de alegria e aceitaria o cargo ou, de forma justa e honesta, agradeceria e recusaria a oferta?
Bem, de acordo com a excelente matéria de Mariana Schreiber, da BBC Brasil, três esposas de ministros do governo Lula fazem parte do seleto grupo de felizardas conselheiras de tribunais de contas Brasil afora. E uma quarta (esposa) já está a caminho.
Trata-se de Aline Peixoto, mulher do ministro da Casa Civil Rui Costa (PT), favorita para assumir o cargo de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM-BA). Além dela, as seguintes “conjas” já se encontram devidamente agraciadas:
Rejane Dias (TCE-PI), esposa de Wellington Dias (PT), ministro do Desenvolvimento Social. Renata Calheiros (TCE-AL), esposa do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). E Marília Góes (TCE-AP), esposa do ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes.
Todos os “conjes” foram governadores de seus estados, e a lei proíbe que membros desses tribunais julguem as contas de parentes. Assim, as ex-primeiras damas estaduais estão impedidas de exercerem a função para a qual foram contratadas e são pagas.
NEPOTISMO
O leitor mais atento deve estar se perguntando: “ora, isso não configura nepotismo”? Bem, para qualquer cidadão comum, sim, mas não estamos falando de cidadãos comuns, e sim de políticos poderosíssimos em seus estados de origem e no plano federal.
Em tese, tais nomeações configurariam, sim, nepotismo, que foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas o próprio Supremo, para não variar, deixou “portas abertas” para exceções, e vagas em tribunais de contas encontram-se nessas “exceções”.
A Súmula Vinculante número 13 veda a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente até o terceiro grau. Porém, a Suprema Corte libera nomeações para funções de “caráter político”. Entendeu? Não? Eu também! Mas geralmente é essa a ideia, não é mesmo?
Há quem defenda que parentesco não pode ser impeditivo para contratação pública, desde que comprovada a capacidade do profissional. Uma ova! Há profissionais competentes fora do círculo familiar às pencas. Se não é ilegal tal favorecimento, no mínimo, é imoral.
A farra nos tribunais de contas do País é antiga, como antigo é o nepotismo em todas as esferas (municipal, estadual e federal) e Poderes (executivo, legislativo e judiciário). O Brasil chega a cansar pela falta de novidades. Principalmente quando a não-novidade vem do PT.
