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O 'Sistema' é foda mesmo. Entenda como e por quê

A frase-desabafo do personagem Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite, tornou-se um jargão respaldado pela realidade


postado em 27/09/2019 06:00 / atualizado em 27/09/2019 09:33

(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)

Fala, Capita:

“Eu fui pra detonar o sistema. Contei tudo que eu sabia. Botei muito político na cadeia. E mesmo assim o sistema continuava de pé. O sistema entrega a mão pra salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. E custa caro. Muito caro. O sistema é muito maior do que eu pensava. Não é à toa que entra Governo, sai Governo, a corrupção continua. O sistema é foda.”

Sistema: Substantivo masculino. 1) conjunto de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente organizados. 2) conjunto das instituições econômicas, morais, políticas de uma sociedade, a que os indivíduos se subordinam.

Começa com a candidatura de malfeitores, em busca de dinheiro fácil e poder. Aproveitam-se da baixa escolaridade e apolitização do eleitorado. Uma vez eleitos, aglutinam-se e iniciam a “rockonha”, como ensinou João de Santo Cristo.

Aparelhamento do Estado, ocupação de postos-chave, indicações e apadrinhamentos. Arrecadação oficial e oficiosa. Distribuição de dinheiro e favores. A teia cresce e os líderes adquirem influência e poder. O círculo vicioso ganha corpo e a cada ciclo eleitoral se fortalece.

A máquina do executivo torna-se imensa, burocrática, incontrolável. Cresce em ineficiência e corrupção. Expande seus tentáculos para estados e municípios. O método é replicado à exaustão, e a rede torna-se onipotente e onipresente. Já não há limites para o Estado. Gigantesco, opressor, regulador, controlador, monopolista, fisiologista, corporativista… corrupto!

Legislativo e Executivo tornam-se siameses. Um não vive sem o outro. Um precisa do outro. E juntos precisam de dinheiro. Muito dinheiro! Tem início a caça ao tesouro. A iniciativa privada é presa fácil. Ou por ganância ou por conivência ou por mera sobrevivência. A fome encontra a vontade de comer. O Sistema agora é corpo e mente.

Vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores, deputados federais, senadores, presidente. Câmara Municipal, Prefeitura, Assembleia Legislativa, Palácio do Governo, Congresso Nacional, Palácio da Alvorada. Assessores, motoristas, seguranças, cafezinho, viagens, diárias, jatinhos, auxílio isso, auxílio aquilo, reembolso educação, reembolso saúde, reembolso alimentação, cota parlamentar, fundo eleitoral, cotão, assaltão!

O dinheiro começa a jorrar. A máquina começa a girar. O Sistema está feliz. Enquanto cresce, a sociedade empobrece. Ano após ano, década após década, eleição após eleição. Um looping atemporal assume o controle das nossas vidas e do País.

Se falta dinheiro, aumenta-se a arrecadação. Se falta apoio, compram-se consciências. Se falta mercado, aumenta-se os preços. Regulação é a chave. Burocracia é a chave. Economia fechada é a chave. A falta de alternativa empurra os capitais público e privado para os mesmos grandes grupos, controladores e financiadores do… Sistema!

Agora só falta a cabeça para o “corpo e mente”. Falta a chancela, o carimbo da lei. O aparato precisa não atrapalhar. Melhor se ajudar. Cria-se o arcabouço: Polícias (municipal, militar, federal, rodoviária, legislativa…), Ministérios Públicos (da União, do estado, do trabalho, do meio-ambiente…), Tribunais (estadual, federal, regional, de contas do município, do estado, da União…), Juizados e Cortes (superior, Supremo, especiais...), Operadores do Direito (procuradores e promotores estaduais, municipais, federais, do trabalho, do meio-ambiente, da infância e da juventude; advogados, juízes, desembargadores, ministros, advogados-gerais…). E tome assessores, secretárias, motoristas, seguranças, blá blá blá.

As indicações políticas correm soltas. As nomeações por interesses predominam. O compadrio se alastra. A corrupção segue forte. A proteção também. Dinheiro, poder e prestígio dão as cartas. As benesses são inebriantes. A casta de todas as castas perde a noção, o contato com a realidade. Cabeça, corpo e mente agora são um só agente do mal. O ciclo se fecha! O Sistema está formado. Só precisa se manter. Só precisa se perpetuar.

Do lado de fora, a população indefesa. Cidadãos, consumidores, contribuintes abandonados em direitos e esmagados por deveres. Milhões de micros, pequenos, médios e grandes empresários acachapados, espremidos, subjugados. O Estado que oprime, dificulta e empurra para a marginalidade e informalidade é o mesmo que aparece para corromper e ser corrompido. Fiscais, secretários, agências reguladoras, órgãos de controle.

Alvarás, autorizações, documentos, certidões, Ibama, Anvisa, Bombeiros, Meio-Ambiente, leis municipais, leis estaduais, leis federais, autarquias, entidades de classe, advogados, contadores, certificadores, auditores… Formam-se os satélites que orbitam em torno do monstro Estado e alimentam o Sistema -- e dele se alimentam, retirando o alimento de quem está fora.

IRPF, ISS, ICMS, INSS, FGTS, PIS, PASEP, CID, IPI, COFINS, II, ITR, ITBI, IPVA, ITCMD, CSSL, IPTU, IOF, IRPJ, IOF… PQP!

Secretaria da Fazenda municipal e estadual; Ministério da Fazenda. Secretaria de Segurança Pública municipal e estadual; Ministério da Justiça, Secretaria da Saúde municipal e estadual; Ministério da Saúde. Secretaria da Educação municipal e estadual. Ministério da Educação. Tanta gente, tantos órgãos, tanto dinheiro e nada funciona. Mas o Sistema quer mais: Secretarias municipais e estaduais, e ministérios da Igualdade Racial, da Mulher, do Meio-Ambiente, dos Direitos Humanos, da Cultura, do Turismo, do Esporte, da Indústria, da Agricultura, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém!

Petrobras, Eletrobras, Telebras, Caixa, Banco do Brasil, Correios, Casa da Moeda, Infraero, BNDESPar, Gasoil, Codevasf, Embrapa, Conab, Cohab, Gaspetro, Valec, Casemg, Ceagesp, Comlurb, Codep, Codern, Codomar, Dataprev, Cerpro, Codesa, CBTU, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, Furnas, Uirapuru, Araucária, Cemig, Itaipu, Liquigás, Transpetro, Eletronuclear, Nuclebras. São 418 Roubobras, 800 mil barnabés, R$ 10 bilhões por ano para o Sistema se divertir e você pagar.

A cada dois anos. A cada quatro anos. A cada oito anos novos agentes alcançam o Sistema. Alcançam o Poder. Muito poucos (ou quase nenhum) são limpos. Os que não são aderem ao Sistema, por interesse e autoproteção. Os limpinhos não conseguem protagonismo. Logo desistem ou não são reeleitos ou reconduzidos aos cargos. O mal se dissemina. Torna-se absoluto. Impregna todas as esferas e Poderes. Atinge e corrompe o tecido social que, revoltado, anestesiado, sem opção, adere às más práticas.

Do camelô ao médico. Do professor ao pastor. Desrespeito, violência, suborno, mau comportamento urbano. Selvageria, mortes, acidentes, tráfico, estupros. Intolerância, irritação extrema, abandono, polarização, ódio... eleições! Hora de recomeçar tudo outra vez. Hora de manter o looping vivo e operante. O Sistema cooptou o Não-Sistema e o fez refém, escravo, anestesiado, servil, Brasil.

Eu te protejo, você me protege. Eu te sustento, você me sustenta. Eu te apoio, você me apoia. Eu te elejo, você me elege. Eu te nomeio, você me nomeia. E a meus amigos e parentes, por favor. Só favor. Tamos juntos e juntos venceremos. O Sistema unido jamais será vencido. O Sistema é realmente foda.

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