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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

A vida sem desejo é pura mortificação

Pode-se passar toda a vida sofrendo para que a verdade última do desejo não venha nos desalojar do ilusório conforto de cada dia


02/10/2022 04:00 - atualizado 30/09/2022 22:47

Ilustração mostra mulher sentada, com a cabeça baixa e pernas esticadas

A vida, de fato, não tem sentido predeterminado, a não ser aquele que  criamos. Nossas ficções sobre a história vivida são repletas de pinceladas compostas de toques emocionais. Fazemos interpretações pessoais distorcidas pelo entendimento infantil que às vezes nos acompanha toda uma vida. Tecemos lembranças encobridoras que tingem a realidade com nossos afetos, desejos, medos, frustrações e expectativas.

Essas formas tão particulares de sentir de acordo com nossas percepções chamamos de “fixões”, ou fixações. Em torno delas giramos e damos sentido a lógicas tão íntimas que diríamos que são criações de cada um. Assim é. Tanto que quando conversamos com irmãos que viveram a mesma realidade, na mesma família e com mesmos pai e mãe, percebemos diferenças tanto nas lembranças – às vezes as deles desmentem as nossas – como também na forma de compreender aquilo que se passou.

A mãe e o pai nem sempre são os mesmos para todos os filhos. Cada um, em sua posição, vê a realidade de um ângulo muito particular. Se várias pessoas em torno de um objeto qualquer o descreverem, teremos várias descrições diferentes sobre o mesmo por causa do ângulo pelo qual é visto.

O poder do que interpretamos daquilo que nosso olhar capta e nossa mente entende é permeado pela coloração afetiva que envolve a racionalidade. E o real que sustenta a realidade conforme nossa interpretação, que sustenta nossa simbolização, nossa linguagem, ele em si não tem sentido.

Por isso, a imaginação entra na vida a fim de nos auxiliar, dando um sentido, um encadeamento, uma consistência e lógica própria. Mas ficamos presos por esste imaginário que tece a teia da qual não é fácil escapar. 

O imaginário produz consistência tão densa e pesada que sofremos, mas não podemos abrir mão das nossas crenças. Ou da lógica do nosso fantasma, como costumamos dizer na psicanálise.

É nisso que patinamos e nos prendemos. Temos pavor de suspender certezas, pois “fixões” são a capa protetora contra o vazio. Se chutarmos essa bengala imaginária, abre-se um vazio de sentido temido e evitado. Mas que pode ser ressignificado, conforme o desejo de cada um.

Nos agarramos de unhas e dentes ao sentido que damos às coisas, sem entender que ele nos causa sofrimento.  Ignorando ou negando que em tantas situações acabamos no mesmo barro escorregadio dos nossos fantasmas.

Um non sense caótico vira o sentido da vida. Uma vida no mau sentido para evitar o sem sentido da vida.  Pode-se passar toda a vida equivocadamente e sofrendo para que a verdade última do desejo não venha nos desalojar do conforto sofrido de cada dia.

Muitas e muitas vezes esse sentido falseado pode ser até mesmo vivido a dois, num delírio, ou em uma negação, cuja manutenção custa tempo perdido em vão. A vida sem desejo é pura mortificação.

Por exemplo, quando a relação se mostra esvaziada e nada mais a justifica, para não renunciar e não perder nada, nós continuamos marchando anestesiados. Isso nos faz inventar justificativas. Vamos inventando sentidos e mais sentidos úteis para não mirarmos a inconsistência das situações. E assim se vão muitas vidas, com alto custo e pouco desejo.

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