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Estado de Minas Em dia com a psicanálise

Satisfação clandestina


18/10/2020 04:00 - atualizado 18/10/2020 08:46


A corrupção é endêmica no Brasil, dizem os estudiosos e os lúcidos. Sentimos na pele a falta de sentido de soltar bandidos do PCC, de não pender assassinos de Marielle, de não apurar suspeitos poderosos. A disfuncionalidade cheira mal, e a sociedade assiste de queixo impotente o jogo sujo. Nunca foi fácil viver em comunidade, porém o fator segurança e progresso é atrativo, apesar dos efeitos colaterais como corrupção, violência, miséria e outros.

A injusta distribuição de riqueza e impostos, o domínio pelo poder e ambição se perpetuam numa minoria sob proteção política. Valores econômicos e interesses financeiros prevalecem ao bem-estar social. Faltas graves nos investimentos em educação, saúde, saneamento básico, pobreza extrema e muitas incontestáveis desvantagens para o povo. Só a corrupção explica, por exemplo, a reeleição de tanto político ruim. Ou haverá outro motivo?

Na história do Brasil não faltam exemplos de corrupção. Não seria inconveniente lembrar a eleição de Getúlio Vargas. Derrotado nas urnas por mais de 600 votos, assumiu a presidência. Este é apenas uma entre arbitrariedades que rondam nossa vida civil e política desde sempre. Hoje são as fake news. Poderosa arma eleitoreira. Mas em relação à pergunta sobre o porquê da reeleição de maus políticos, gostaria de recorrer a Freud.

Pioneiro em perceber a força da atividade sexual na infância, derrubou a crença de “anjinhos inocentes” e afirmou serem as crianças, de fato, curiosas pesquisadoras, atentas a detalhes esclarecedores. Ativos desde antes da escolha de gênero e dos rigores da moralidade transmitidos na educação.

Dizia que as crianças podiam se divertir e gozar livremente, antes que os ideais da cultura repressiva lhes fossem ensinados e as proibissem tantas satisfações. As da sexualidade, o controle da raiva, dos esfíncteres, a higiene diária e tantos outros ditames e limites, indubitavelmente necessários para a vida na cultura. Antes da lapidação (cortes e polimentos) da cultura sobre elas, os prazeres eram polimorfos, podiam tudo. A isto Freud chamou perversão polimorfa infantil. Mas para onde vão os extratos destes prazeres após assimilação dos ideais da cultura?

Desnecessário dizer que traços de perversão seguem inalterados em alguns, em diferentes graus, apesar do trabalho da repressão feito pela educação, que nunca cola totalmente. Abandonar tudo isto requer o sacrifício de parte da nossa natureza bruta. Devemos domesticar nossas feras. Mas para onde elas vão?

Elas não morrem; são reprimidas e permanecem esquecidas, porém muito ativas no inconsciente. Quando provocadas, botam as garras pra fora, damos nossos berros, pulamos cerca, passamos ao ato e à violência... Se isto traz mal-estar à consciência moralizada, proporciona satisfação das pulsões proibidas recalcadas. Contradições do jogo entre pulsões de vida e morte.

Podemos entender agora que em nosso inconsciente estão restos de perversão proibidos de serem satisfeitos no adulto. Mas, se foram esquecidos, não se esquecem de buscar satisfação oportuna e a encontram eventualmente por identificação ao outro que faz.

Gostamos de filmes de violência, vingança, traição, pornografia, bandidagem e, dependendo dos bandidos, torcemos por eles, alimentamos fantasias e desejos ocultos com conteúdos proibidos que jamais revelamos e por aí caminha a humanidade. A consciência expurga o que incomoda, mas o recalcado anseia por retornar o tempo todo, em sonhos, fantasias e atos que nos surpreendem algumas vezes.

O que está recalcado faz pressão para se libertar, descomprimir o sistema psíquico. Por isto nos identificamos com aqueles que dão vazão à perversão, pois eles satisfazem parte daquilo que nos é proibido. Eles realizam o que antes da moralidade traria prazer. Eles ignoram as leis e proibições que nós, bons cidadãos, sacrificamos pela cultura.

E por isto, por identificação àquele que realiza sua perversão, muitas vezes, pela liberdade total fazemos escolhas, às vezes sem a consciência de que assim fazemos. Penso que só pela vontade de gozo desta perversão proibida em cada um de nós podemos justificar a reeleição de tanto político perverso e a manutenção de sistemas corruptos endêmicos. Será que tem lógica? Todo perverso acaba atraindo votos, na urna, senão votos (anseios) de que por meio deles gozemos de nossa perversão recalcada?

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