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Estado de Minas Em dia com a psicanálise

As pessoas precisam da boa medida que permita o conviver

Não se pode desejar individualidade total a ponto de não se formar laços sociais e afetivos


27/09/2020 04:00

Constatamos nas análises o quanto as pessoas acreditam em suas ficções. E não poderia ser de outro modo, até certo ponto, porque nós vivemos de acordo com nossa própria tradução do que vivemos, desde sempre, antes e depois de nascidos em nossas famílias. Antes de nascer, somos falados pelos que nos esperam e somos criados aos seus moldes. Por isso, numa análise, chegamos contando essa história e buscamos na infância os motivos de ser o que somos.

A versão de cada um é ficção. Os pais, irmãos, o funcionamento da família são uma leitura única, tonalizada pela subjetividade. Cada sujeito cria em cima da história e a conta ao seu modo. Mesmo que irmãos gêmeos, nascidos e criados juntos, nem assim terão narrativas iguais sobre o vivido.

Para cada um, a mãe é sentida de modo singular, que mais parece que tiveram mães diferentes. Assim também para o pai e todos os outros que passaram por sua vida. Portanto, podemos dizer que cada vida é um romance particular.

Até aí tudo bem, assim é a vida psíquica. Cada subjetividade é experimentada de forma peculiar, colorindo a realidade com seus próprios tons e sons. Ritmo e passo ao molde de cada corpo. Ninguém pensa, sente, interpreta e age igual ao outro, senão à custa de uma alienação ou identificação.

Nesses casos, estará alienado, apartado de seu próprio desejo, em diferentes proporções. Muitos casais fracassam aí, onde esperam que estarão como metades de uma laranja, que se completam, tornando-se um. E qualquer desejo particular soa como uma traição ou uma ameaça de gerar uma fissura na harmonia.

Assim acabam muitos casamentos, quando depois do idílio inicial, a realidade insiste em evidenciar a grande diferença entre um e outro. Onde se esperava par e amor-perfeito teremos rosas com espinhos. Aqueles que suportam diferenças e permitem que cada um desfrute com liberdade daquilo que pensa que é – sem formação de compromisso que gere a exigência da reciprocidade total – têm mais chance.

Também não se pode desejar individualidade total a ponto de não se formarem laços sociais e afetivos. Aí precisamos da boa medida que permita o conviver. Como nas manadas dos porcos-espinhos no severo inverno europeu. Para se aquecerem precisam se aproximar e para não se ferir precisam manter a distância segura.

A natureza é perfeita e os animais que são guiados pelo instinto, estes sim encontram harmonia plena. Eles sobrevivem sem destruir. O homem é o grande predador e está apartado da natureza. A linguagem e a racionalidade o expulsaram do paraíso natural e, uma vez na cultura, sofre por ser errante. Isso implica  ter livre-arbítrio, fazer escolhas, sem o auxílio do instinto e, portanto, nem sempre as melhores para ele são para todos.

É o que constatamos. Se cada um decide sobre sua própria vida e age segundo seu desejo e vontade, sem limites e amarrações, é compreensível que as coisas andem como andam. Uns apagam fogo e outros ateiam, como mostrou um pequeno vídeo circulando na internet: um homem, passeando com seu cachorro, chega perto de um barranco com mato seco, retira do bolso seu isqueiro e põe fogo. Difícil entender a intenção deste sujeito...

Difícil também entender como pessoas religiosas puderam cercar e pressionar uma menina de 10 anos – que por lei teve direito ao aborto do estupro do seu tio – para que ela continuasse a gestação indesejada, colocando em risco a própria vida. Também não é possível compreender a tomada de terra dos índios, despejados por um juiz em meio à pandemia.

Enfim, os homens são como a rã que queria ser boi. Inflados em sua crença fanática na supremacia entre os animais, eles têm destruído seu próximo, sua própria casa, planeta, família e até o ar que respiram. Se a coisa continuar dessa maneira, haverá o dia em que apenas as bactérias sobreviverão, porque nosso livre-arbítrio – descolado da ética que inclui os outros e impõe limites necessários para todos – só pode nos levar a um trágico fim.  E ainda há os que negam a verdade, o óbvio... Mas deles falaremos em outra hora.

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