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E a psicanálise? O que se pode fazer em meio à pandemia do coronavírus?

Atendimento on-line, embora não seja o ideal, fará com que muitas pessoas atravessem este difícil momento, mantendo-se em condições de suportar as consequências do isolamento e de diversas perdas


postado em 29/03/2020 04:00

Estamos em um dos dias mais surreais da história da humanidade. O dia em que o mundo parou. Estamos trancafiados em casa para evitar o contágio, em isolamento solidário, atitude que contraria o individualismo comum em nossos dias. Em guerra contra um inimigo mundial, invisível, contra o qual não temos armas para lutar ainda.

É bom lembrar o livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, no qual uma epidemia atingiu todos, menos um dos habitantes de uma cidade. Uma epidemia para a qual, como agora, não havia vacina nem remédio. Agora, com o coronavírus, se o contágio aumentar muito, não haverá leitos para aqueles que precisarem, devendo cair nas mãos dos médicos a escolha difícil de quem priorizar. Assim ocorreu na Itália e na Espanha, vimos no noticiário.

Nesta guerra, neste estado de exceção em que tudo saiu do normal, ficamos atônitos e angustiados. Estranho seria se não ficássemos. Mas a angústia em si não é uma doença e precisamos aprender a conviver com ela. E de preferência tentando não cair na imaginarização exagerada, o que frequentemente só nos faz esperar o pior, criar quimeras, e nos fazendo sofrer antes da hora, por imaginar coisas horríveis sem saber se acontecerão mesmo.

Já basta o que acontece agora. Já é o suficiente para nos assustar. A imaginação preenche o vazio e tenta responder às incertezas a fim de encontrar explicação para o que acontece. E sem nenhuma, ela prolifera.  Nos preparemos para mudanças, talvez definitivas, no modo de viver.

Além disso, o excesso de informações e mensagens, muitas delas fake, pela internet (sigamos os canais oficiais) gera confusão e insegurança. O desamparo é mostrado em mensagens emocionadas nos fazendo esquecer que desde sempre vivemos no desamparo e vulneráveis diante das forças da natureza, da decadência do corpo e, enfim, da morte.  Só que sempre as deixamos a uma distância segura de nós por serem três fontes de sofrimento, de outra forma nem conseguiríamos seguir em frente.

Falando em seguir a vida, fazer tudo diferente, repensar valores, temos diversos recursos oferecidos no mundo virtual, neste momento, gratuitamente. É uma diferença: dar e receber como única troca. Encontram-se academias em diversas aulas on-line, cursos oferecidos por várias instituições, grupos de psicólogos contribuindo no atendimento de pessoas em sofrimento.

E a psicanálise? O que pode fazer neste momento em que não podemos colocar em risco pessoas e nem deixar os tratamentos serem interrompidos? Ela pode oferecer um tratamento que, embora fora do padrão, ainda assim tem efeitos e sustenta o sujeito e suas questões.

O atendimento on-line, embora não seja o ideal,  pode ser justamente aquilo que fará com que muitas pessoas atravessem este difícil momento, mantendo-se em condições de suportar as consequências do isolamento, e não só isso, mas também as diversas perdas. Perdas financeiras, planos adiados, compromissos desfeitos, abandono das rotinas, para lembrar somente alguns dos problemas com os quais as pessoas terão de lidar imediatamente. No plano individual.

No plano social, terão de pensar no outro mais que em si mesmas para não oferecer perigo a ele. Seguir as coordenadas da Organização Mundial de Saúde (OMS), do governo e de tantas outras instituições que se manifestam favoráveis ao isolamento, concordando ou não.

E embora nos encontremos diante de uma divergência entre as diretrizes indicadas no plano de isolamento dentro mesmo do governo, como demonstram as falas do presidente Jair Bolsonaro, que insiste em discordar abertamente das autoridades de saúde de seu próprio governo, da Organização Mundial de Saúde e de tantos outros pesquisadores da saúde. Desconectado dos demais, ele insiste em que as consequências serão terríveis, haverá caos.

O caos já está instalado, pelo menos no governo, quando o presidente não está afinado nem com seu próprio Ministério da Saúde e especialistas da saúde pública. O mundo seria melhor caso a ânsia pela acumulação cedesse ao compartilhamento, e talvez vejamos isso agora no mundo, que se prepara para um período de recessão que provavelmente trará fome à mesa de muitas famílias sem trabalho e sem reservas para suportar meses de desemprego.

A preocupação é grande. Por isso, a psicanálise defende as medidas preventivas e a manutenção da atenção psíquica – apesar das dificuldades enfrentadas pelo real que se nos impõe – e defende a necessidade de manter a atenção ao sofrimento e ao atendimento a distância, com critério e seriedade, sustentando a ética do sigilo, o que certamente poderá contribuir grandemente para preservar o equilíbrio e a saúde psíquica neste período para que as pessoas, embora tão vulneráveis e diante desta ameaça, peguem leve e não suspendam sua vida completamente mesmo estando em casa.

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