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Estado de Minas MÍDIA E PODER

Como ficam os 5 principais candidatos diante da polarização Moro/Ciro

Largada bem sucedida elimina as más impressões sobre o ex juiz, mas polarização anunciada por Ciro Gomes transfere disputa acirrada para a terceira via


11/11/2021 10:38

Sergio Moro acena durante filiação ao Podemos
Moro e a candidatura a presidente: 'discurso esperto de afiliação ao Podemos' (foto: EVARISTO SA / AFP)


Sergio Moro fez tudo certo na sua primeira manifestação pública como candidato a presidente, no discurso esperto de afiliação ao Podemos em que abateu várias das restrições a seu nome, mesmo as dos que torciam por ele.

Da voz ao conteúdo programático nacionalista que ampliou sua visão para além do nicho de anti corrupção, de que não poderia escapar, e buscou afinidades políticas, econômicas e sociais com a larga faixa do eleitorado decepcionada com Bolsonaro e avessa à esquerda lulista.

— O Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendam a voz do povo brasileiro. 

— Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de punição. É um projeto de justiça na forma da lei. É impedir que as estruturas de poder sejam capturadas e dessa forma viabilizar as reformas necessárias para melhorar a vida das pessoas.

— É um projeto para termos um governo de leis que age em benefício de todos e não apenas de alguns. Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar a população.

- Leia no Opinião sem medo: Discurso do candidato Sergio Moro: Menos, meu caro. Bem menos, por favor


Pelo porte, o conteúdo e a repercussão de candidato adulto que mostrou a que veio, poderia ter ido dormir como a melhor encarnação da terceira via para enfrentar a polarização Lula/Bolsonaro, não fosse Ciro Gomes reaparecer no final da tarde anunciando mais uma.

Suspendeu a suspensão que havia se imposto para forçar seu partido a votar contra a PEC dos Precatórios e ressurgiu estabelecendo uma sub polarização dentro da campanha, contra o ex juiz, com quem quer disputar a vaga de Bolsonaro contra Lula.

Num discurso furibundo, que é sua marca, resumido em 50 segundos num vídeo para viralizar, delimitou suas diferenças, não mais com os outros dois, mas também com Sérgio Moro.

— Não quero ser oportunista como essa figura politicamente menor, chamada Sergio Moro. Aquele que se disfarçou de juiz, se acumpliciou com um governo corrupto e corruptor e agora se apequena ainda mais, chegando como cachorrinho com o rabo entre as pernas, em busca de carícias fáceis de um partido nada puro.

Pelo novo panorama visto da ponte, diante da emergência desses dois novos postulantes repaginados, refaço a configuração da campanha e das potencialidades dos cinco principais candidatos no jogo.

Para Lula, é o melhor dos mundos. Está mais do que consolidado como candidato único do espectro à esquerda, com até 48% de indicações de primeiro turno em algumas pesquisas. 

Vai assistir de camarote a briga pelo lugar de Bolsonaro, na outra ponta. Seus problemas são as denúncias de corrupção e as más companhias com quem os eleitores à centro direita não gostam de vê-lo acompanhado: PT, MST, José Dirceu, Gleisi Hoffman, Zé de Abreu.

Jair Bolsonaro caiu mais um pouco nas últimas pesquisas, patinando em torno de 20% nas indicações de primeiro turno, um piso em tese fácil de ser ultrapassado pelo candidato mais competente da terceira via. 

Mas não está morto.  Nunca teve mais estruturado do que antes para despejar dinheiro e propaganda às vésperas da eleição, em grandes panorâmicas hollywoodianas de obras no horário eleitoral, como fizeram com sucesso os candidatos à reeleição. Mesmo que a economia, seu calcanhar, não vá bem.

Os novos polarizadores Ciro Gomes e Sérgio Moro disputam os 33% do terço dos eleitores nem-nem que vai se somar aos 20% de Bolsonaro. A soma dos dois, de cerca de metade do eleitorado, é que vai encarar Lula, por enquanto dono da outra metade.

Vai depender da competência dos dois na briga que vão travar para tomar o lugar do capitão. 

Mais combativo dos candidatos, Ciro tem mais biografia, experiência de campanha, casco duro, verborragia e pouco telhado de vidro. Sua vulnerabilidade é a ambiguidade meio biruta de aeroporto que gera desconfiança, somada à agressividade incorrigível que beira a falta de escrúpulos.

Sergio Moro parece ter superado, apenas com seu discurso inaugural de entrada formal na política, a impressão de que não daria mais do um bom candidato a deputado federal ou senador. 

Além da estatura e do conteúdo, mostrou também capacidade de arregimentar apoio importante, a começar da militância do MBL e seu entorno, caudatária da mobilização que, desde 2015, no pré-impeachment de Dilma Rousseff, deu na campanha do capitão que a decepcionou.

Sua nova casaca abateu boa parte de suas vulnerabilidades, inclusive na que parecia a principal, a inexperiência administrativa, que seria um ativo eleitoral do próximo pleito. Demonstrou que não é bem assim.  Que tem capacidade para montar equipe, discurso e projetos suficientes para disfarçar suas limitações.

Seu nó é mesmo Ciro Gomes. Agressivo ou não, congruente ou ambíguo, certo ou errado, mas inescrupuloso se preciso sob orientação de um marqueteiro idem, tem potencial suficiente para desmontá-lo psicologica e tecnicamente.

Resta o candidato do PSDB para tentar algumas cócegas nessa segunda polarização, que se anuncia tão radical quanto a dos dois líderes das pesquisas.

João Doria, mais contundente e bem sucedido em disputas contra o PT, me parece, a essa altura, um candidato mais adequado do que Eduardo Leite numa campanha que não será de bons modos. Em que a ponderação e a promessa de um armistício para uma sociedade em guerra não parece estar no cenário.

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