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Estado de Minas MÍDIA E PODER

Bolsonaristas e lulistas transformam Sergio Moro em terceira via real

Candidato navega na popularidade da campanha de ódio das militâncias dos dois polos, se isola no terceiro lugar e caminha para ganhar a eleição mesmo perdendo


04/11/2021 09:27

Sergio Moro, ex-juiz e ex-ministro, agora candidato a presidente da República
Sergio Moro, desbancando Ciro Gomes (foto: Lula Marques/Wikimedia Commons)


Sergio Moro é o candidato mais rejeitado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais, cerca de 60%, e ao mesmo tempo o de maior potencial para enfrentar a polarização Bolsonaro e Lula e reparar em parte o estrago em sua biografia.

É a soma da campanha de ódio por alegada traição ou parcialidade que que lhe fizeram as militâncias furibundas dos polos em guerra, mas que teve o efeito imediato de isolá-lo no terceiro lugar das intenções em algumas pesquisas, desbancando Ciro Gomes.

- Leia:  Ao desembarcar em Brasília, Moro é recebido com suco de laranja

Posição que já ultrapassa os dois dígitos dependendo dos cenários pesquisados e deve dar uma arrancada nos dois grandes atos políticos programados para projetá-lo: a filiação ao Podemos, na próxima quarta, e o lançamento de seu livro sobre seu embate com a corrupção na Lava Jato, em dezembro.

Nenhum outro candidato da terceira via conseguiu provocar tanto alvoroço e tanta publicidade em tão pouco tempo, daquele tipo que cerca as celebridades. Assinou? Reuniu? Coligou? Chegou? Estacionou? Cuspiu? 

Até sua emergência como candidato,  só Ciro Gomes  vinha conseguindo furar timidamente a indiferença do noticiário da imprensa influente, às custas de um esforço enorme de presença full-time nas redes sociais e de uma retórica beligerante para se fazer visto.

Por um daqueles mecanismos inconscientes poderosos que fazem o ódio funcionar muito melhor em política do que o bem, Moro acabou eleito como aquele tipo de alternativa que é impossível deixar de considerar quando a conversa trava em duas únicas.

Quem é o melhor do mundo, Pelé ou Maradona? Mas se não for nenhum dos dois, quem? O terceiro nome mais odiado certamente terá mais chances.

Num processo muito parecido com o que ocorreu com Lula, cujo ódio a Bolsonaro o colocou como alternativa automática na paisagem devastada da terceira via, Sergio Moro comparece, cresce e aparece pelo mesmo motivo de espécie alternativa automática aos dois.

Se vai chegar lá, é outra conversa longa.

Os torcedores do contra, que são os 60% dos dois polos e boa parte da mídia tradicional que tenta carpir a culpa de tê-lo exalçado, não vêem chances num candidato com esse nível de rejeição.

Minha tese é que esses índices caem quando ele explicar seus motivos no imenso palanque que terá a partir de agora, que não teve e não soube usar quando foi massacrado pela conjunção de todos os inimigos que fez, na maioria do STF, do Congresso, do governo e da imprensa, ainda carpindo sua culpa.

Deve se consolidar na terceira posição nas próximas pesquisas, porque catalisa a vontade de boa parte do terço do eleitorado, 33%,  que anda procurando uma opção  e historicamente corre para o lado do candidato mais propalado, independente de ideologia.

Caso o jogo da terceira via se afunile em torno dele, pode disputar e levar a vaga de Bolsonaro, nunca a de Lula. 

Levando, absorve parte do seu legado eleitoral, onde está a origem de sua entrada formal na política e tem apoio de larga faixa que o acha injustiçado, mais traído que traidor, como quer fazer crer o discurso de ódio restrito à militância mais ferina do presidente.

Como acredito também que, assim como houve/há bolsonaristas que votam em Lula, porque preocupados com o bolso e não com ideologia e firulas jurídicas do STF, há simpáticos a Lula que não teriam problema de votar em Moro. E vice-versa.

Desde que demonstre capacidade de convencer o eleitorado de que pode ser melhor e oferecer expectativa mais segura e viável de consertar a grande espelunca em que nos metemos.

Aí, está o seu calcanhar. Não tem nenhum indicativo hoje de que possa ser melhor do que qualquer dos dois, estrategica e administrativamente falando.

É um estagiário em política,  como escrevi esse artigo  em que sugiro que se candidate a uma vaga de senador como salvo conduto, diante da sua quase incontornável imperícia comunicativa, a começar do carisma de torneira agravado pela voz de taquara rachada, associado à absoluta falta de experiência gestora, principal ativo eleitoral da próxima campanha.

Como tudo é possível, pode mascarar suas carências em carisma, experiência e jogo de cintura com uma equipe competente e a maquinaria infernal da publicidade que pode calá-lo, escondê-lo e transformar seus defeitos em virtudes. Acontece nas melhores famílias.

Mas também acho que já ganhou, só de entrar no páreo. Ele precisava desse palanque poderoso para se defender da campanha insidiosa que lhe moveu a militância mais sutil, entranhada e mal disfarçada nos três poderes e na imprensa.

Se perder, terá ganhado o placar moral, que vale nada em política, mas é sua única chance de melhorar seu verbete no compêndio da história. Como na campanha derrotada vitoriosa de Rui Barbosa, de quem se lembra mais do que o candidato que o derrotou nas urnas de 1910.

Moro pode se candidatar a um lugar melhor nas bibliotecas do que o que lhe impuseram, injustamente. Nunca vão me convencer de que sua meia dúzia de conversas fora dos autos com procuradores é proporcional aos crimes que combateu e ao tráfico de influência que as altas cortes conhecem bem por experiência própria. (Pesquise "embargos auriculares".) 

Já conquistou no verbete a verdade de que enfrentou com boas chances dois candidatos rejeitados por motivos mais plausíveis e a falta de bom senso de um tempo catastrófico.

Que aprenda a se comunicar, pelo menos, para superar o discurso descarnado de apelos retóricos, tão monocórdio quanto sua fala desagradável. Vai precisar, muito.

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