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Estado de Minas Coluna

Sem arroubos ou intervenção, o país vai superar a alta do arroz

Para entender os preços, é preciso considerar juros, petróleo, câmbio. E para evitar desespero, saber que o produto não vai sumir das gôndolas


15/09/2020 04:00 - atualizado 15/09/2020 07:19

Com a alta do produto, alguns supermercados chegaram a limitar a compra por cliente em Belo Horizonte(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Com a alta do produto, alguns supermercados chegaram a limitar a compra por cliente em Belo Horizonte (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 
O preço do arroz, que vinha subindo desde o mês passado, acabou assustando o consumidor e, na semana passada, assanhou a esperteza dos gananciosos e a fantasia dos profetas de catástrofes. Nenhum deles parece ter futuro, pois tendem a ser desmascarados pela realidade.
 
O consumidor brasileiro – escolado por crises de verdade – vai logo perceber que não precisa estocar o arroz de cada dia, pois o produto não vai sumir das gôndolas. Ele apenas passa por um ajuste em seus preços em razão do aumento da demanda e de outros fatores que devem ser analisados, mas que não justificam o barulho conveniente apenas aos especuladores de plantão.
 
Quanto aos profetas, nem todos têm sorte, principalmente quando tratam da atividade econômica. Eles não perderam a chance de anunciar um caos venezuelano na segurança alimentar do Brasil, que, em vez de celeiro do mundo, teria se transformado no inferno das prateleiras vazias. Há gente que acredita e chega a tomar decisões precipitadas. Mas essa é uma fé que se desfaz com a luz do esclarecimento.
 
A economia, vale lembrar, não é uma ciência exata e, por isso mesmo, costuma ser mais desafiadora do que as outras. Mas isso não impede que algumas de suas leis sejam implacáveis. É o caso da oferta versus procura, a primeira a ser considerada no funcionamento de qualquer mercado e, também, a mais escolhida para ser desafiada por certos valentões que insistem em criar atalhos e fazer intervenções criativas.
 
Voltando ao arroz, não dá para ficar só nas particularidades desse produto tão íntimo de nossos cardápios, da marmita do operário ao sofisticado menu dos gourmet nacionais. Os juros, o mercado de crédito, o petróleo e o câmbio podem parecer distantes do prato de comida, mas também fazem parte do tempero. Para chegar à mesa, o arroz passou por um plantio financiado, por fertilizantes importados, pelo caminhão movido a diesel e muitos outros itens, cada um com suas próprias cadeias de suprimento.
 
Todos eles contam, mas alguns pesam mais do que outros. É o caso do câmbio, cujas flutuações não podem ser controladas por este ou aquele governo. Elas se sujeitam a pressões, algumas previsíveis, outras não. Por exemplo, era esperado que a saudável redução das taxas de juros praticadas no Brasil provocasse a fuga dos dólares que tinham sido aplicados especulativamente no país. Ocorre que essa saída foi potencializada porque coincidiu com uma onda de incertezas mundiais provocadas pelo confronto EUA-China.

Dólar caro


Vem daí boa parte da desvalorização do real, complementada por questões internas relacionadas com a tramitação das reformas estruturais atoladas no Congresso Nacional. Dessas reformas dependem a saúde fiscal e a viabilidade da dívida brasileira nos próximos anos. Em consequência, o real já sofreu desvalorização acumulada, de janeiro até a semana passada, de 32,5%, passando de R$ 4,02 a R$ 5,33.
 
Isso significa que todos nós ficamos mais pobres, exceto os grandes produtores de commodities exportáveis, como os do agronegócio, que vêm conseguindo cobrir, com vantagem, o aumento dos custos provocado pelo dólar caro. Nessa corrida entre custos e ganhos, o arroz teve menos facilidades e seus preços pouco animaram a ampliação das lavouras até que, neste ano de pandemia, um fato novo puxou o consumo.
 
O chamado auxílio emergencial de R$ 600 ou R$ 1.200, distribuído a 67 milhões de brasileiros, representou a injeção de R$ 50 bilhões mensais entre maio e agosto na veia do consumo. Para milhões de beneficiários, esse dinheiro foi além do que eles dispunham antes da COVID e bancou a compra de maior quantidade de gêneros, entre eles o arroz, que reagiu à demanda.
O aumento do preço não foi uniforme em todo o país, mas veio se juntar ao dos produtos exportáveis, como a soja, o milho e as carnes, influenciados pelo dólar e pela oportunidade de ganho maior no mercado externo. Mas nada indica que a disparada vai prosseguir, devendo ocorrer alguma acomodação nas próximas semanas, pois não parece haver escassez no mercado interno. Pelo contrário, a remuneração estimula o aumento do plantio.
 

Sabotagem


Por fim, ficam duas certezas, uma constatação e uma dúvida. A constatação é a de que a pobreza da população, que já era grande, ficou ainda maior com a longa paralisação da economia. Não fosse assim, os R$ 600 não teriam feito tanta diferença. A dúvida é o quanto vai pesar na inflação de setembro o aumento do preço da alimentação e se ele tem força para alterar a política de juros.
 
Uma certeza é a de que o governo acertou ao não contrariar a lei básica da economia com as práticas grosseiras do tabelamento e da intervenção na política cambial. A outra é a de que, já que o governo vem amealhando alianças no Legislativo, a maior parte do capital parlamentar ora ampliado terá de ser investido contra a sabotagem às reformas que vão garantir o equilíbrio fiscal e a confiança na economia. Sem isso, voltaremos aos voos de galinha: barulhentos, mas de pouca duração.

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