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Estado de Minas CRISE DA ECONOMIA

País reage e cresce, mas vive a ameça do 'canto das sereias'

No momento, não há como acelerar o crescimento sem injetar muito dinheiro público na economia


postado em 10/12/2019 04:00 / atualizado em 10/12/2019 07:37

Últimos dados do desempenho da economia no 3º trimestre, comentados pelo ministro da Economia, confirmam fim da farra com o dinheiro público e a recuperação gradual da confiança das empresas e das pessoas(foto: Marcos Oliveira/Agência Senado 6/11/19)
Últimos dados do desempenho da economia no 3º trimestre, comentados pelo ministro da Economia, confirmam fim da farra com o dinheiro público e a recuperação gradual da confiança das empresas e das pessoas (foto: Marcos Oliveira/Agência Senado 6/11/19)

O quem tem a política econômica de um governo a ver com o enganoso canto das sereias? Pode não ter nada, pode ter tudo. Depende dos propósitos de quem a conduz. No caso de quem busca resultados duradouros, dependerá mais ainda da sua firmeza em se manter no rumo certo, mesmo que isso lhe custe o desgosto das críticas injustas e dos palpites mal-intencionados.
 
Em meio à tormenta, o cansaço e a ansiedade tendem a fragilizar o marinheiro, tornando-o propenso a aceitar convites traiçoeiros, a buscar confortos irreais. É o que explica a criação do mito grego das sereias que, com sua aparência de mulher e seu canto sedutor, atraíam os navegantes, desviando-os de seu curso e de seus esforços para levá-los ao naufrágio.
 
Na condução de uma política econômica responsável, não são poucas as tentações de seguir por atalhos perigosos. São sugeridos por sereias enganadoras e seu canto é tão mais sedutor e tão mais insistente quanto mais perto se caminha pelos campos e pelos pântanos da política.
 
Esse deveria ser terreno fértil em críticas construtivas, em contribuições oportunas com vistas ao bem comum. Mas tem prevalecido a miopia dos que nada vislumbram além do calendário eleitoral. É intrigante como não lhes falta o apoio “técnico” de certa academia enviesada e saudosista, sempre pronta a municiar palpiteiros com argumentos que, como o canto das sereias, parecem fazer sentido.

Foi o que se viu quando da divulgação, na semana passada, do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. Mesmo minguada, a taxa de crescimento de 0,6% sobre o trimestre anterior veio bem acima do esperado e isso parece ter causado incontido aborrecimento à torcida contrária. Doeu-lhe ouvir analistas sérios louvarem a persistência do crescimento, além do fato de que, ao contrário do período recente que nos levou ao precipício, o avanço vem sendo retomado pela via do capital privado e não pelo irresponsável endividamento público.
 
De fato, o consumo das famílias cresceu 0,8% ante apenas 0,2% no trimestre passado. Os investimentos privados, registrados na conta de Formação Bruta de Capital Fixo, surpreenderam com avanço de 2%, enquanto os gastos do governo recuaram 0,7%. É claro que tudo isso é ainda insuficiente para garantir que a retomada da atividade econômica ganhará o ritmo que o país precisa para ampliar o emprego e a renda. O investimento, por exemplo, deverá fechar 2019 na faixa de 18% do PIB, bem abaixo dos desejáveis 24,5%.
 

HERANÇAS PESADAS

Mas, para quem ainda paga as pesadas heranças do rombo fiscal e da recessão econômica, trata-se de resultado positivo. Só não agrada a quem torce contra. São dados que confirmam, de um lado, o compromisso do governo com o fim da farra com o dinheiro público e, de outro, a recuperação gradual da confiança perdida pelas empresas e pelas pessoas. Esse desempenho, somado à queda da taxa básica de juros (Selic) a níveis históricos, anima os melhores analistas a projetar mais crescimento no ano que vem.
 
Esses sinais de melhora do ambiente de negócios já vinham sendo percebidos pelos medidores do ânimo dos agentes econômicos. Um desses termômetros é o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), da Fundação Getúlio Vargas. Como se sabe, a atividade econômica é movida por expectativas baseadas na confiança de investidores e consumidores. A incerteza inibe tanto o investimento (não se vislumbra o retorno do capital) quanto o consumo (as famílias temem o desemprego).
 
A incerteza teve pico de 132,4 pontos em 2008, com a crise mundial, situação que se repetiu em 2015. Em 2019, vinha oscilando com viés de baixa gradual, mas, nos últimos dois meses, o IIE acelerou a queda. Em novembro, baixou 6 posições em relação a outubro, ao fechar o mês em 105,1 pontos (100 é o ponto de equilíbrio), com tendência de baixa. Não há dúvida quanto à influência da aprovação da Reforma da Previdência nesse cenário.


ATALHO PERIGOSO

Mas, as sereias não param. Pelo contrário. Ante os evidentes sinais de recuperação da economia, vozes se ouvem no Congresso e na imprensa, sugerindo que se acelere o crescimento. O pretexto é que o desemprego continua muito alto (o que é verdade) e que o governo deveria ampliar seus gastos com investimentos para gerar empregos.
 
Visto assim do alto, como diz o samba, parece coisa boa, mas é apenas um daqueles atalhos perigosos. Acelerar o crescimento sem ter uma base sólida para isso é pura enganação. Pode dar a falsa impressão de felicidade geral, mas duraria só até depois das eleições.
 
No momento, não há como acelerar o crescimento sem injetar muito dinheiro público na economia. Como esse dinheiro não existe, seria necessário abandonar a responsabilidade fiscal, aumentar a dívida pública e provocar a volta da inflação. Melhor, não. Chega de tapeação.

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