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Estado de Minas

Aves de mau agouro

Mesmo tendo motivos para estimar o crescimento do PIB em 2020 maior do que o de 2019, o governo está longe de aprovar um %u201Cliberou geral%u201D de gastos em ano eleitoral


postado em 03/09/2019 04:00 / atualizado em 02/09/2019 21:32






O que não falta no Brasil é ave de mau agouro, gente que, descaradamente, torce contra o país, diz e escreve bobagens numa torcida doentia para que tudo dê errado, principalmente na economia. Algumas pessoas são assim porque parecem ter tido insucessos na vida e precisam se vingar dela de alguma maneira. Outras, por serem empedernidas partidárias de quem eventualmente perdeu as eleições e não conseguiram até hoje entender as razões soberanas das urnas de outubro de 2018.

Felizmente, elas são hoje minoria na sociedade, mas, mesmo assim, não se deve menosprezar seu poder de contaminar o ânimo do cidadão de bem. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Ou seja, de tanto martelar seu mau agouro, os abutres da narrativa amarga podem afetar os incautos, instilando neles um pessimismo descabido.

Na semana passada, pudemos observar esse comportamento nefasto, ante a divulgação de dois fatos importantes. Atenho-me a eles por duas razões. Primeira: na análise de temas econômicos, quem evita o uso de números oficiais não demonstra boa-fé, afinal, números não mordem nem mentem. Segunda: a economia não é ciência exata e, para ela, os dados indicam tendências, não certezas.

Todos sabemos que o Brasil ainda vive as consequências da grave recessão que, de 2014 a 2016, arrastou a economia para o abismo do desemprego, do desalento e da falta de confiança. Também não se ignoram os erros de política econômica e as irresponsabilidades fiscais que provocaram essa situação. É, pois, natural que os economistas de boa escola fiquem atentos não aos números isolados, mas à sequência deles no tempo e às tendências que eles sugerem.

Depois de um 2018 fraco, embora já fora da recessão, o primeiro ano de um novo governo havia despertado expectativas mais otimistas do que permitia a herança negativa. Reformas estruturais foram iniciadas na esperança de que o Parlamento tivesse o mesmo senso de urgência do governo e da sociedade. Nesse embalo, um compromisso com equilíbrio fiscal, ainda que impopular, foi firmado desde a campanha eleitoral.

Parecia bom demais para ser verdade. A proposta de reforma das aposentadorias está no Congresso desde fevereiro, mas não deve ser aprovada antes de outubro. Isso afetou o ânimo dos investidores e a economia quase parou, refletindo a percepção de que o governo enfrentava mais dificuldade do que se previa no Parlamento, com o qual se recusa a praticar a antiga troca de favores.

Resultado: o primeiro trimestre registrou o desempenho negativo do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,1% sobre o trimestre anterior, com o emprego em recuperação muito mais lenta do que o necessário. Restou de pé o compromisso com o desgastante ajuste fiscal por parte do Executivo, dificultado pela recuperação ainda incipiente da arrecadação tributária.


BOA SURPRESA

Qual era, então, a tendência presumível? Nada que não fosse a volta da recessão que, tecnicamente, se configura após dois trimestres de queda do PIB. Só que não! Os agentes econômicos perceberam sinais positivos no baixo nível da inflação e dos juros, bem como na indiscutível manutenção da busca do equilíbrio fiscal e se mexeram.

O PIB voltou a crescer, registrando aumento de 0,4%. É claro que é pouco quando se toma o dado isolado. Mas chega a surpreender quando esse resultado é analisado no contexto dos últimos três trimestres. Mas, antes de apostar em alguma tendência, seja para pior ou para melhor, é sempre conveniente abrir um pouco mais a estatística fria do PIB.

Esse crescimento teve como protagonista a indústria, com um desempenho positivo de 0,7%. Esse é o setor que mais vinha sofrendo com a recessão e é o que gera mais empregos com carteira assinada. E mais: o investimento em ativo fixo cresceu 3,2%. Se é cedo para dizer que a retomada começou, também é cedo para o mau presságio. Inegável é que o sinal passou de negativo para positivo.


COMPROMISSO MANTIDO

Vale ainda destacar que, do lado da despesa, houve queda de 1% nos gastos do governo. Isso é importante porque confirma o esforço fiscal e é aí que entra a segunda notícia da semana passada. O governo enviou ao Congresso na sexta-feira o Projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2020. Reafirmando a disposição de reequilibrar as contas públicas, o governo trabalha com uma projeção conservadora de crescimento do PIB em 2020: nada além de 2,17%.

É dentro dessa projeção que se encaixa o cumprimento do teto de gastos, o que implica numa meta de déficit primário de R$ 124,1 bilhões, além, é claro, da gritaria dos que não se lembram de quem provocou tamanho estrago no país.

O que importa é outra coisa: mesmo tendo motivos para estimar o crescimento do PIB em 2020 maior do que o de 2019, o governo está longe de aprovar um “liberou geral” de gastos em ano eleitoral. Esse mau costume foi, afinal, abandonado. Isso também, precisa ser reconhecido (e cobrado).

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