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COVID-19 promoveu enorme teste de gestão pública e empresarial

"A COVID-19 foi um Enem aplicado de surpresa em cima de governos e instituições"


postado em 14/06/2020 04:00

Os hospitais de campanha foram a solução encontrada para suprir as deficiências do sistema de saúde no atendimento aos enfermos da COVID-19 (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )
Os hospitais de campanha foram a solução encontrada para suprir as deficiências do sistema de saúde no atendimento aos enfermos da COVID-19 (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )

Diz o ditado que quando a maré baixa é que a gente enxerga quem estava se banhando nu na praia. E haja nudistas! A maré da terrível COVID-19 começa a baixar e já acompanhamos a agitação de quem estava, digamos, nadando com as partes expostas no banho de mar. Por trás da imagem bem-humorada, uma realidade carrancuda: a chegada meio repentina da COVID-19 promoveu um enorme teste de gestão pública e empresarial – como aqueles que o professor nos aplica na escola sem aviso-prévio – sobre todos os gestores do país, os do setor público, nas empresas e até nas nossas casas. Quem está na luta do dia a dia, a imensa maioria dos brasileiros, se virou como podia. Uns em casa, enfrentando o tédio da quarentena e amargando o estresse do negócio fechado ou do desemprego anunciado.


Nessa última condição, cerca de 5 milhões tiveram seu posto de trabalho cortado desde o início do ano. Contrariando o ministro otimista da economia, o mercado de trabalho já havia começado a desempregar desde janeiro. Os negócios já não iam bem antes do corona e afundaram com a pandemia. Mas o povo vem fazendo, como sempre, os cortes e arrumações de orçamento que o momento exige. A mesada dos R$ 600 foi um quebra-galho. Mas ninguém há de pensar que a economia do país vai melhorar apenas com ajuda emergencial. Habituado a crises, o povão nadou com roupa de banho.


No segmento de governo, a COVID-19 revelou outro mundo, o do privilégio sem limites dos que manipulam os bilhões e trilhões sacados do sangue do povão via tributos. O balanço de 90 dias da pandemia já nos revela quem esteve nadando pelado na gestão pública. A COVID-19 foi um Enem aplicado de surpresa em cima de governos e instituições. A maioria nem completou a prova. Em vários estados, foi posto a nu o completo descaso da saúde. Descobrimos que o SUS, Sistema “Único”, só é único no nome.


Ficou claro que o mapa das UTIs não coincide com o mapa da população brasileira. Quem está no abandonado interior, viaja até centenas de quilômetros por um atendimento especializado. Pior: o gestor dos gestores – governo federal – conseguiu o prodígio de trocar duas vezes o comando do Ministério da Saúde nas semanas da pandemia. Sempre me pergunto com que terá se deparado, nas entranhas do governo, o assombrado ministro Breve Teich para de lá sair correndo de bermuda comprida...
Mas, de todos os banhistas indecorosos, o prêmio “Nus na Praia” tem que ser compartilhado entre os que conseguiram levar nosso dinheiro e ainda roubar nosso tempo dizendo abobrinhas e tolices pela TV. Tomar nosso dinheiro e comprometer nosso futuro é o esporte favorito dos que acabam de nos colocar a todos no prego de déficits fiscais monumentais, pelos próximos quatro anos. A dívida pública subirá a 100% do PIB. Mas não se ouviu voz audível no Congresso, ou no Judiciário e órgãos de controle, inquirindo sobre projeção tão grotesca.


Nem tampouco se questionou a absolutamente urgente revisão dos orçamentos públicos com cortes – moderados que fossem – em todas as rubricas de gastos. Os brincalhões de sempre nos atacam de novo com a conversa de um “aumento temporário da carga tributária”. Ela virá vestida de sunguinha: a “reforma tributária” para tomar mais de quem já paga demais.


Especialistas em tungar o bolso furado da população não têm pudor de falar em aumento de impostos, seguros de que a população, sufocada com máscaras na cara, deixará passar mais essa, sob o falso argumento de que o dinheiro extra será para cobrir gastos com hospitais de campanha jamais construídos. Esses especialistas são os que nadam com a coisa de fora e ainda debocham dos outros na areia. E o Congresso Nacional? Esse também começou a nadar “sem modos”. Aprovou um “Orçamento de Guerra” que autoriza gastos megabilionários sem perguntar sobre fontes de cobertura futura, e ainda dá aval para aumentar a liquidez do setor financeiro sem qualquer compromisso de repasse para as empresas produtivas que sucumbem na falta total de caixa.


Vamos pendurar na conta do vírus o que é do vírus. Lamentamos profundamente as mortes evitáveis. Mas boa parte delas ainda está por vir, – inclusive as de milhões de negócios, pelo estresse profundo da economia semiparalisada – este encargo deve ser pendurado nas nossas próprias deficiências públicas. E o presidente da República está longe de ser o único a nadar pelado e sem máscara no imenso mar de nudistas que o vírus mostrou ao país.


(*) Paulo Rabello é economista e escritor. Quer comentar ou republicar? rabellodecastro@gmail.com

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