
Tudo começou com a ideia da avó de guardar as peças dos primeiros anos de vida dos netos e dos bebês da família e, claro, sabendo disso, as amigas acabam lhe encaminhando outras. O que a impulsiona não é o apego. Do contrário, o desejo de ver cada roupinha ser utilizada ao máximo.
Podemos dizer que ela mantém um “banco de roupas” tamanhos recém-nascido, um e dois anos. Quando alguém na família anuncia a chegada de um novo membro, mãe e pai se veem diante de uma infinidade de caixas dentro das quais encontram tudo o que vão precisar.
Difícil achar algo que nunca tenha sido usado, assim como peças já desgastadas e em mal estado de conservação. Isso por que a administradora do patrimônio diz ser rigorosa e cuidadosa com o armazenamento.
O que parece ter começado como uma brincadeira afetiva se transformou numa filosofia familiar. Todos se lembram de quando tal casaquinho virou patrimônio, de onde veio e as histórias que protagonizou. Sem contar que o que economizam acaba no “cofrinho” para ser gasto no futuro, quando comprar é a única opção.
Meu primeiro filho nasceu pouco depois de quatro primas, sendo duas do meu lado da família e duas da família de meu marido. Bem antes de ele nascer, o quarto do bebê, além do berço e dos móveis, estava repleto de roupa de recém nascido, mantas, sapatinhos e fraldas de pano, tudo herança das meninas.
Na época não apenas as fraldas descartáveis eram caras como ele apresentou alergia severa a todas as marcas que tinha no mercado. Restava-me carregar fraldas limpas e sujas onde quer que fôssemos. Confesso que as de pano tinham a vantagem de nos forçar a estimular a criança a usar o penico logo, tão trabalhoso era manter as fraldas limpas.
Me dei ao luxo de comprar apenas a roupinha com a qual cada um de meus filhos saiu do hospital, relíquia que hoje descansa na caixinha de lembranças que um dia fará a festa e arrancará gargalhadas dos netos, bisnetos e quem mais vier.
