
Este domingo estou a caminho de minha quinta viagem ao continente africano com o objetivo específico de implantar ou incrementar oficinas de costura em locais de extrema pobreza. Comecei em julho de 2019 no Campo de refugiados de Dzaleka, no Malawi, estive também em um vila no interior de Moçambique e desta vez iniciaremos um novo desafio ao sul da ilha de Madagascar.
No Malawi e em Moçambique as oficinas já estão caminhando bem, com máquinas movidas a energia elétrica. Há também as máquinas movidas a pedaladas de homens e mulheres que se divertem muito todas as vezes que tento fazê-lo, pois não é nada fácil. Me lembra as primeiras aulas de direção quando temos a certeza de que nunca conseguiremos chegar a um ponto de equilíbrio entre embreagem e velocidade de forma que o carro saia do lugar sem dar arrancos ou morrer.
Em Madagascar o cenário que me espera parece um pouco mais difícil. Energia para as máquinas ainda não temos. Precisaremos planejar a implantação de placas solares e baterias, mas antes teremos um longo caminho a percorrer a começar por deslocar a força motriz das mãos para os pés, visto que o comum, ao menos no sul da ilha, são as máquinas a manivela.
Na bagagem projetos de mesas com pedais, que lembram os gabinetes das máquinas de nossas mães e avós. Por precaução até os parafusos para montar as mesas meu amigo responsável por fazer o projeto me entregou. Ficou sabendo que este tipo de peça básica, simples e barata não é tão fácil de achar por lá nas dimensões necessárias.
As viagens são longas. Primeiro é preciso chegar a São Paulo, de lá até a capital da Etiópia, Addis Ababa, são 11 horas de voo, uma pernoite em hotéis no centro da cidade. Outro voo pela manhã com duração de seis horas até Maputo, capital de Moçambique, cinco horas de carro até Muzumuia, aldeia no interior onde ficarei por dez dias.
Na sequência, volto para Maputo, novo voo para Addis Ababa, pernoite, mais seis horas no ar até a capital de Madagascar, Antananarivo, e logo pela manhã um voo para Fort-Dauphin. Em uma van seremos levados até Abovombe, um trajeto de 100 km que leva pouco mais de três horas para ser percorrido. Enfim chegaremos a Cidade da Fraternidade Sem Fronteiras ONG que abraçamos de corpo e alma.
O que acho deste deslocamento? Uma série de sentimentos me são provocados. Adoro adentrar mundo afora, pois é onde e quando nos é de fato possível conhecer uma cultura, um povo. Cansaço físico é fácil de administrar. No meu caso basta cair na cama que renovo. Tenho sono fácil e sonhos que me levam onde sou chamada. Então vou feliz e saltitante vestindo roupas feitas por mim com tecidos bem coloridos e estampados que compro por lá sempre que vou.
Desta vez com todos os moldes na bagagem de mão para não correr o risco de ter tudo desviado, como já me ocorreu duas vezes, pretendo documentar cada passo e conquista através do insta que amigos estão me ajudando administrar: Ubuntu.fsf. Através dele conseguirei levar comigo todos aqueles que ajudam e torcem pelo trabalho de não apenas capacitar pessoas no ofício da costura, mas principalmente aprender a valorizar as culturas e suas diferenças.
