(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Patrícia Espírito Santo

Entre o frio e a frieza

"Melhor seria se as pessoas comprassem cobertores melhores, em menor quantidade"


29/05/2022 04:00

Frio
(foto: Datz/Divulgação)

 
O frio sempre desencadeia ações sociais interessantes. Como seres movidos à sazonalidade, nos sensibilizamos com o outro que não tem cama quente, com as crianças que acreditam em Papai Noel, mesmo quando não ganham sequer um prato de comida na noite de Natal, com vítimas de tragédias naturais ou desencadeadas pela irresponsabilidade e pela negligência humanas.
 
A mobilização da população chega a ser admirável até que a noite passe, o sol nasça, o dia nos envolva e nos engula através de suas múltiplas demandas exclusivas. Aquecidos, presenteados e de ressaca, voltamos à vida normal, acreditando que todos os demais também o tenham feito. Nossos assuntos mudam, nossas prioridades são substituídas e a vida segue até que algo aconteça e os noticiários nos despertem para a necessidade de nos mobilizarmos novamente em prol da solidariedade.
 
A questão é que, acostumados e viciados no julgamento do que seja certo ou errado, justo ou não, atropelamos nossas melhores intenções. Cheguei a essa conclusão após ouvir um senhor contar que havia sido "cancelado" por alguns amigos depois que se negou a ajudar na compra de "cobertores de doação".
 
Com medo de eu também o classificar como mesquinho e desalmado, ele se justificou dizendo que os cobertores em questão não servem para aquecer, visto que não há pele que suporte o contato com o material de que são feitos. Preferiu então ajudar outras ações de outras formas.
 
Comentou que como trabalha próximo à zona de concentração de pessoas sem teto no Centro da cidade onde mora, todo ano vê pilhas de cobertores sendo dispensados. "Melhor seria se as pessoas comprassem cobertores melhores, em menor quantidade, e doassem de coração, e não por impulso ou sentimento de culpa."
 
Ele se surpreendeu com o fato de eu dizer que além de entendê-lo eu concordava com seu ponto de vista. Para satisfazer nossa necessidade de nos sentirmos úteis e caridosos, muitas vezes trocamos a racionalidade pela sensibilidade cega.
 
Muitas vezes, agimos como se a quantidade de peças distribuídas fosse reduzir o peso em nossa consciência. 
 
Primeiro, precisamos substituir a culpa pela responsabilidade e depois refletir sobre que ações estão ao nosso alcance e são de fato efetivas. Qualquer um pode fazer muita coisa. O que nos falta é acreditar nisso e incluir a solidariedade em nosso cotidiano, tirando-a do modo emergência, temporário e esporádico.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)