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Estado de Minas Comportamento

Entre bordados

'Aprendemos a nos desapegar de coisas que até então valorizávamos'


17/10/2021 04:00 - atualizado 17/10/2021 09:14

Peças bordadas à mão
(foto: Pixabay/Reprodução)

Decidi usar uns bordados que guardava havia tempos para enfeitar toalhas de lavabo, de rosto e de banho. Fui ganhando ao longo dos anos de bordadeiras de mão cheia ou não, outros comprei e alguns nem faço ideia de como chegaram a mim. Aprecio muito este tipo de trabalho e às vezes me aventuro a fazer algum. Longe de conseguir a delicadeza e a perfeição de minha amiga Mary Reis; os meus qualifico como grosseiros e só consigo fazer letras utilizando pontos básicos. Com isso, até hoje só bordei frases de poemas que gosto em peças de americano cru ou brim que fiz.
 
Concluí que os que guardava sem saber bem o porquê. Não mereciam ficar dentro de uma caixa no fundo do armário à espera de dias e ocasiões especiais. Como tenho o hábito de adquirir toalhas de lavabo nos bazares beneficentes a que vou, achei por bem fazer as minhas de uso próprio também. Gosto de levar como agradecimento para as pessoas que me recebem em suas casas pela primeira vez.
 
Comprei as toalhas e me diverti compondo estampas e outros guardados como sianinhas, tiras bordadas, barrados de crochê e fitas daqueles tipos que nos remetem a muito tempo atrás. Enquanto fazia as composições, meu marido confessou que se eu colocasse qualquer uma daqueles toalhas no banheiro de nossa casa ele iria enxugar as mãos na calça. Contou que sempre que vai na casa de alguém cuja toalha é preciosa demais se recusa a tocá-la, tão constrangido que fica, como se as mãos jamais alcançassem limpeza suficientemente para tal. 
 
"Esse tipo de coisa é pra moldurar e ficar olhando, não para amassar com as mãos molhadas", disse um amigo que outro dia conseguiu convencer a esposa a não fazer o mesmo que eu. Ri muito de toda essa tentativa de me remover da ideia inicial e bati o martelo: "Enxuguem as mãos onde quiserem, eu usarei minhas toalhas enfeitadas no meu dia a dia". Quando estiverem velhas e encardidas, terão outra função certamente, mas poderei dizer que as aproveitei da melhor forma possível. 
 
É a velha questão do merecimento ou de sua falta. Muitas vezes não nos consideramos suficientemente merecedores de determinadas coisas, a maioria considerada supérflua, como tomar café em um xícara fina e usar o melhor perfume no dia a dia. Escondidos atrás da desculpa da falta de praticidade que muitas vezes não se justifica, nos boicotamos. 
 
O que esse tipo de experiência enriquece ou transforma nossas vidas? Longe de nos tornar mais felizes ou capazes de contribuir com a felicidade alheia, aprendemos a nos desapegar de coisas que até então valorizávamos em excesso e de tão valiosas se perdiam com o tempo, como fazemos muitas vezes com todo tipo de pertences que temos, incluindo os afetos. 

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