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Passado revisto

'Estava pensando em mim'


14/03/2021 04:00

Como muitas mães, sempre guardei algumas lembranças de meus filhos. Produções deles durante a infância, principalmente, fase de vida em que de fato se ocupam em escrever cartinhas para a gente, seja por vontade própria ou obedecendo ao comando dos professores.
 
Sou adepta ao desapego e não costumo manter muita coisa velha em meus armários, apenas as mais significativas. Mas confesso que não resisto a um bilhetinho de amor eterno e poemas grafados de forma ilegível, que lidos em qualquer época da vida nos remetem a um passado do qual sentimos muita saudade.
 
Fico projetando um futuro em que eu esteja sentada com meus netinhos contando as peripécias dos pais deles quando crianças. “Olha o que seu pai escreveu para a vovó no Dia das Mães”; “Veja este desenho ou seria um rabisco? ”, observações que serão seguidas, imagino, por muitas risadas e críticas. Afinal, criticar e ridicularizar os pais são coisas que os filhos fazem de melhor.
 
Até que outro dia, mexendo nas muitas caixinhas que meu pai mantinha no guarda-roupa dele, me deparei com algumas de minhas produções quando criança. Experimentando um misto de vontade de rir (pela nostalgia de um tempo tão longínquo e ingênuo) e de chorar (pelo fato de meu pai não estar mais entre nós), fiquei horas analisando cada papel.
 
Entre eles encontrei três boletins escolares meus – terceira, quarta e quinta séries do ensino fundamental. Esses me fizeram rir muito pelo simples fato de que “ótimo” tirei apenas em boas maneiras (eu era uma boboca, como diz meu filho). Como pude tirar um “muito bom” e dois “bons” em matemática, não sei, visto que até hoje sou um desastre na tabuada simples.
 
Entre dezenas de papeizinhos, várias cartinhas escritas pelos netos para ele e rascunho de bilhetes que ele tinha o hábito de escrever para aqueles de quem gostava. Ao fim de cada escrito a assinatura marca registrada dele, uma letra D enorme (ele se chamava Déo), com dois olhinhos e um sorriso por dentro.
 
Sempre critiquei o fato de ele juntar tanta coisa em um mundo de caixinhas, em meio a extratos de banco, comprovantes de pagamentos, documentos antigos. Afinal, como eu disse, cumpria bem meu papel de filha.
 
Imaginava que meu pai guardara tudo aquilo durante anos na tentativa de reter um tempo que não voltaria mais. Mas ao me ver revirando e revivendo tantas lembranças, percebi o quanto foi bom ele não ter se desfeito de cada papel. E como me iludi pensando que ele manteve aquelas caixas em seu armário pensando nele. Não. De fato, o fez pensando em mim.

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