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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Em uma semana, acompanhei dois assaltos; e fazer o que?


postado em 25/08/2019 04:00 / atualizado em 25/08/2019 08:25


 
Há um bom tempo eu não presenciava um assalto a mão armada. Recebo sempre relatos de desconhecidos que sofreram algum tipo de golpe, fatos que nossos conhecidos costumam replicar via WhatsApp num misto de alerta e prazer em falar daquilo em que socialmente fracassamos. Até que no intervalo de uma semana acompanhei dois assaltos.
 
O primeiro a um senhor que acabava de sair de uma agência bancária na cidade do Rio de Janeiro. Um a pé, o comparsa de moto exibe a arma, a vítima entrega o que tem. Confesso que custei a entender o que estava acontecendo, tão rápido tudo se desenrolava. Precisou de alguém quebrar o estado paralisado no qual me encontrava com a frase: estão assaltando aquele senhor e ninguém faz nada. Incluindo quem estava falando, claro. Fazer o quê naquele momento?, pensei.
 
Corri em direção ao senhor na tentativa de prestar-lhe algum auxílio, imaginando que deveria estar com as pernas bambas. Mas ele logo conseguiu forças para correr e gritar “ladrão”. Toda essa coragem veio, creio, porque como nos filmes americanos a polícia surgiu do nada. Um dos assaltantes foi rendido, mas o que estava na moto já ia longe e, por ironia, havia atravessado bem em frente à radiopatrulha. E como de praxe todo o dinheiro estava em seu poder.
 
Como os eventos costumam ocorrer em pares, já em BH, passando em frente ao Extra Supermercado, no Bairro Belvedere, pude ver na outra pista um jovem casal com as mãos para o alto. Foi isso que me chamou a atenção, bem mais que as duas motos na contramão bem encostadas ao carro do qual pareciam ter acabado de descer. Imaginei o quanto as pernas deles estavam bambas. Se fossem minhas, estariam.
 
De onde eu estava pouco podia fazer, a não ser esperar que desta vez também, como um milagre, a polícia pudesse surgir. Mas esse tipo de coincidência não costuma ocorrer em pares. E o que fazer naquele momento?
 
Entregar tudo, não reagir, para sobreviver ao momento e ao trauma consequente. Denunciar e torcer para não acontecer de novo, mesmo sabendo que não acontecer de novo exige variáveis impalpáveis aos simples mortais. Seria simples se fossemos simples, se conseguíssemos valorizar mais o fato de termos sido liberados com vida que o de ter perdido não apenas bens materiais, mas também o controle que acreditávamos ter sobre nossos passos.
 
Em troca, desenvolvemos medo e desconfiança, até que aos poucos relaxamos e nos colocamos em risco novamente. E talvez essa seja nossa melhor estratégia de sobrevivência.

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