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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Nem tudo nos convém

Escravos da liberdade e não sabemos lidar com isso


postado em 18/08/2019 04:00


 
Há alguns dias, me vi mergulhada no meio de um grupo grande de adolescentes na faixa dos quinze anos. A energia e a espontaneidade deles sempre me atraíram. Os anos em que dei aula e orientação sexual para jovens entre 10 e 16 anos foram muito gratificantes e divertidos. Mas estava longe deste contato direto com eles havia uns oito anos, pois larguei a sala de aula e meus filhos cresceram, saíram de casa. Ainda por cima, deixei de me encontrar com os amigos deles, que sempre me atualizavam sobre o universo teen.
 
Confesso que me assustei muito com o comportamento daquele grupo de jovens com os quais estive recentemente e alguém com quem comentei sobre isso definiu o que se passava: eles são escravos da liberdade e nem eles nem nós estamos sabendo como lidar com isso.
 
Ser livre muitas vezes é confundido com poder fazer o que quiser, pois não há nada que os impeça, principalmente quando a patrulha dos pais não esteja presente. Nós mesmos, velhos e experientes motoristas, muitas vezes olhamos para os quatro lados e, se não vemos um policial ou alguma ameaça aparente, cometemos infrações que sabemos muito bem não serem recomendadas. O que dirá os jovens para quem o mundo ainda é um espaço mágico? Precisamos da lei para nos regular.
 
No caso do comportamento perigoso ao qual os jovens em questão se entregaram durante aquela noite, que podemos resumir em liberdades sexuais dignas de alguém mais maduro e em condições de assumir as consequências físicas e emocionais de seus atos, arrisco culpar em parte os pais. Que conversa eles vêm mantendo com seus filhos ainda tão jovens, mas com aparência muitas vezes próxima de seus genitores no que se refere à forma em que se apresentam?
Tenho visto pais com medo de seus filhos. Temem dizer não ou NÃO. Porque não. E ponto. Por outro lado, tenho visto também filhos ávidos por uma orientação mais clara, firme e severa. Uma noite louca, numa balada, pode ser ótima, mas não sustenta nada mais no dia seguinte. Uma noite bem orientada, conversada, discutida e esmiuçada, extrai lágrimas de todos os envolvidos, numa solidez capaz de construir futuros mais felizes. Isso sim tem sustentação.
 
Precisamos conversar abertamente com nossos jovens sobre o significado da música que eles ouvem, da fala e do comportamento daqueles que eles dizem seguir. A argumentação mais usada pelos pais é “isso é uma fase, eles são jovens e jovens são impulsivos, vão na onda. Com o tempo passa e eles amadurecerão. Conosco foi assim também”.
 
Sim, claro que amadurecerão. Todos nós, os que sobrevivemos aos anos e às décadas, amadurecemos. Mas nem todos os maduros estamos colhendo hoje aquilo que acreditamos que merecíamos e temos noção de que muitos de nossos fracassos tiveram origem em nossas escolhas equivocadas. E, entre elas, muitas poderiam ter sido diferentes se nossos pais tivessem tido peito para enfrentar nossa petulância e nos colocar no lugar que deveríamos ocupar: o de filhos em fase de crescimento sob a responsabilidade deles. Precisamos nos lembrar sempre que podemos tudo, mas nem tudo nos convém! Nem aos nossos filhos.

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