Padre alexandre fernandes
Os que vivem no alto das montanhas contemplam os variados espetáculos da natureza. Ora é o sol nascendo, começando a colorir o dia com seus primeiros raios dourados parecendo renovar todas as coisas. Ora é o ocaso, quando o astro-rei cede o luar à rainha da noite, a lua, encerrando o dia com cores fortes e vibrantes, o que não é uma despedida mas apenas um alegre "até amanhã". E lá em cima ainda existe a névoa envolvendo a paisagem como um manto, deixando a descoberto apenas os picos dos montes como na beleza da oração “cobri como névoa a terra toda”.
Quem mora nas cidades ao pé da montanha tem a beleza das manhãs primaveris, quando os dias já nascem sorrindo e nos entardeceres o sol parece se deter um pouco para descansar nas copas das árvores, grato a Deus pelo que viu e na certeza por tudo o que verá amanhã. Como em Salmos 19 (18): “O dia transmite ao dia a mensagem e a noite dá conhecimento à outra noite”. Estamos na primavera, esta estação de muito sol e muita chuva. Todo ano elas chegam, graças a Deus. Para vivificar os pastos e os jardins, as plantações e as árvores grandes e pequenas, levantar o nível das águas nos rios, matar a sede da terra seca, regar os corações áridos, afugentar as pancadas de tristeza que insistem em acontecer. É primavera, temperaturas amenas, dias e noites com a mesma duração, tardes de limonadas geladas, cantos de pássaros namorando no alto das árvores. Tempo de olhar o céu.
É a sexta palavra do primeiro versículo do primeiro capítulo do primeiro livro da Sagrada Escritura. Volta a aparecer como a segunda coisa criada por Deus, no versículo 5, para se repetir várias vezes nos capítulos 6 e 7, quando Deus abre as comportas do dilúvio, depois no capítulo 9, estabelecendo com Noé uma aliança simbolizada pelo arco nas nuvens, e no capitulo 11, quando os homens constroem a torre de Babel.
Mas é no capítulo 15, ainda em Gênesis, que a palavra céu se reveste de poesia diante da promessa de Deus a Abraão feita debaixo de um céu de estrelas: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz. Assim será tua descendência”. E é falando sobre o céu que João escreve o último livro da Bíblia, o Apocalipse, como no capítulo 12: “Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés”.
Este é o céu que nos protege, aquele do qual o apóstolo Paulo falava com tanta alegria: “Somos cidadãos do céu”. Segundo os padres da Igreja, é a certeza desse céu que fez a Igreja vencer todas as tribulações e perseguições nestes 20 séculos. Saber que a eternidade nos pertence evita o desespero contra as maldades do mundo. Santa Maria Egipcíaca viveu por mais de cinquenta anos no deserto em penitência e disse que suportou todos os horrores de uma vida tão austera “com a esperança do céu”.
O Antigo Testamento e Jesus falaram muito sobre o céu. Nós falamos muito sobre o céu. Agora mais ainda em virtude do Dia de Finados e de Todos os Santos. Achamos que o céu vem à terra em um quadro de Michelangelo ou em uma composição de Beethoven. Falamos em janela para o céu, chave do céu. Parece que o céu está lá longe, na noite cheia de estrelas, ou na claridade sagrada do dia. Às vezes se confunde um céu com o outro. O físico, onde pássaros voam, relâmpagos brilham, feito de moléculas, poeiras e astros. E o céu que indica o domínio de Deus, onde, segundo Santo Agostinho, “ali descansaremos e veremos. Veremos e amaremos. Amaremos e louvaremos, eis o que será num final sem fim”.
Este céu não precisa de sol nem de lua para ser iluminado. Nem de óleo para manter as lanternas acesas. Este céu tem um rio de água da vida que brilha como o cristal e nele cresce a árvore da vida, frutificando sem parar. E ele está aqui, dentro do peito, onde encontramos Jesus, a brilhante estrela da manhã. “Abre bem as portas do seu coração e deixa a luz do céu entrar.”
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