Um primeiro semestre morno. Com uma recuperação muito mais estatística, por causa da base de comparação fraca, a economia brasileira começa a expor suas mazelas na retomada pós-pandemia. O número exato do PIB nos seis primeiros meses deste ano será conhecido em 1º de setembro, mas como em junho, no fechamento do período, o comércio recuou, a indústria ficou estagnada e apenas o serviço teve alta, o mercado financeiro prevê que a geração de riqueza do país tenha crescido apenas 0,2% no segundo trimestre, depois de avançar 1,2% nos três primeiros meses. Os números, no entanto, estarão carregados do efeito estatístico com as vendas do comércio crescendo 6,7%, a indústria, 12,9%, e os serviços, 9,5%, de janeiro a junho deste ano. No seis primeiros meses de 2020, esses mesmos setores tiveram queda de 3,1%, 10,9% e 8,3%, respectivamente.
A desaceleração em junho, que levou o mercado financeiro a reduzir levemente a previsão de crescimento do PIB deste ano para 5,28%, mostra que a perspectiva de uma aceleração mais forte hoje está limitada à pressão inflacionária, que eleva o custo de vida em um ambiente de desemprego em alta e de renda da população em queda; à crise hídrica, que deixa no horizonte a possibilidade de um racionamento e a certeza de aumento da conta de luz, e aumento das taxas de juros, que mira na contenção do reajuste dos preços mas acerta no encarecimento do crédito. A vacinação avança, o que é bom para conter a pandemia, mas para aquecer a economia vai ser preciso superar esses desafios.
Não há um indicador claro de consumo das famílias, mas o aumento forte dos alimentos inicialmente, e agora dos combustíveis e da energia elétrica, levando a inflação oficial acumulada neste ano ao patamar de 8,99%, são fatores que inibem o consumo. Ainda mais se levarmos em conta que a taxa de desemprego está acima de 14% e a renda dos brasileiros está em queda (o tombo foi de 10% apenas no primeiro trimestre). Para agravar esse quadro, o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 5,25% ao ano. Juros mais altos encarecem o crédito e também interferem nas vendas do comércio e por tabela na produção industrial, que tem no varejo um dos seus canais de distribuição.
O agravante é que a ação do Banco Central também tem limites. Tanto que, mesmo após a alta da Selic, o mercado financeiro projetou, pela primeira vez, uma inflação acima de 7% este ano. Juros caros contêm demanda, o que pode evitar uma pressão ainda maior, mas são insuficientes para evitar o aumento das commodities que estão contribuindo para a sanha do dragão, como alimentos e petróleo. Juros altos também não contêm os reajustes da energia elétrica, pressionados pela crise hídrica. Em tese, juros mais altos deveriam favorecer o recuo do câmbio, com baixa do dólar. Mas nem isso está ocorrendo por causa da desconfiança do mercado financeiro com os desdobramentos da crise política e com o risco das novas variantes do coronavírus.
Nesse cenário, ou seja, de inflação e taxas de juros em alta, contribui pouco o presidente Jair Bolsonaro tentar transferir a culpa dos reajustes para os governadores e as medidas de isolamento adotadas por estes em função da pandemia, numa demonstração de que, como ele mesmo diz: “Não entendo nada de economia”. Isolamento reduz consumo, o que, em tese, deve provocar queda nos preços. O que não ocorreu porque a demanda mundial fez o valor dos alimentos disparar, assim como no caso dos combustíveis e do dólar.
Mais do que encontrar culpados, Bolsonaro deixa a impressão de impotência diante do cenário de aceleração dos reajustes. Inflação alta pode levar ao aumento de preços em cadeia, criando inércia e levando mais tempo para ser contida. É um risco flertar com reajustes de preços em um país que já teve que lidar com hiperinflação. A inflação, junto com a crise hídrica, é o maior desafio da economia brasileira hoje.
Na estrada
De janeiro a junho deste ano, o volume de fretes rodoviários teve aumento de 67,50% em relação ao primeiro semestre do ano passado, segundo a 4ª edição do “Relatório FretBras – O transporte rodoviário de cargas no Brasil”, que está sendo lançado hoje pela plataforma on-line de transporte de cargas. A análise levou em conta 3,44 milhões de fretes nos seis primeiros meses deste ano. O agronegócio respondeu por 37% da alta.
E-commerce
A explosão de vendas on-line durante a pandemia foi apenas o começo. “Estamos falando de R$ 1,5 trilhão movimentados em crédito e débito no país. Se retirarmos as companhias aéreas, o volume de e-commerce fica entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões. Ou seja, temos um oceano para navegar porque o e-commerce ainda é muito embrionário no país”, diz Rodrigo Schemman, diretor da fintech global Unlimint.
Entretenimento
US$ 38 bilhões é o valor que a indústria mundial de entretenimento e mídia deve atingir em 2025, segundo Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2021-2025 da PwC