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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Quando uma boa ideia começa a dar errado

Joe Biden, que enfrenta dificuldades na campanha à reeleição, ao longo da crise na Faixa de Gaza, vem se revelando um falcão


19/10/2023 04:00 - atualizado 19/10/2023 11:22
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O líder norte-americano manifesta apoio incondicional a Israel, com sua visita ao país em guerra
O líder norte-americano manifesta apoio incondicional a Israel, com sua visita ao país em guerra (foto: Brendan Smialowski/AFP)

A crise humanitária na Faixa de Gaza, em meio à guerra entre Israel e o Hamas, a organização que assumiu o controle do território quando o Exército israelita dele se retirou, expõe a olho nu a crise que a Organização das Nações Unidas (ONU) atravessa, desde a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003. À época, essa foi uma das respostas do governo norte-americano ao atentado da Al Qaeda às Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2021, a pretexto de que o ditador iraquiano Sadam Hussein estava produzindo armas químicas, cujos laboratórios nunca foram encontrados. Desde então, apesar das sucessivas intervenções militares do Ocidente, os grupos terroristas e fundamentalistas só aumentaram sua influência no Oriente Médio.

Ontem, depois de muitas negociações entre os 15 integrantes do Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos vetaram a proposta de resolução que garantiria ajuda humanitária efetiva à população civil da Faixa de Gaza, submetida a intensos bombardeios deste o ataque terrorista do Hamas ao território israelense. Foi o único país a se manifestar contra a ajuda humanitária da ONU. No mesmo momento da reunião, o presidente Joe Biden se encontrava com o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau. Biden anunciou uma ajuda de U$ 100 milhões aos Palestinos, ao mesmo tempo em que reiterou o apoio incondicional a Israel.

China, França, Albânia, Equador, Gabão, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes Unidos votaram a favor da resolução proposta pelo Brasil. Rússia e Inglaterra se abstiveram, mas Biden se opôs ao texto, a pretexto de que a resolução deveria ser condicionada à libertação dos reféns israelense em poder do Hamas. O governo brasileiro lamentou o veto e reiterou que “o Brasil considera urgente que a comunidade internacional estabeleça um cessar-fogo e retome o processo de paz”.

O embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, e o chanceler Mauro Vieira negociaram exaustivamente para construir uma resolução aceitável pelos Estados Unidos, cujos diplomatas chegaram a sinalizar que votariam a favor. Mas veio a ordem para impedir a aprovação da resolução. Quais eram as propostas à mesa?
Condenar os atos de terrorismo perpetrados pelo Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023; apelar para libertação imediata e incondicional de todos os reféns civis; conclamar a uma pausa humanitária a fim de permitir o fornecimento rápido e desimpedido da ajuda humanitária; exigir o fornecimento contínuo de bens essenciais para a população civil, como artigos médicos, água e alimentos, além de pedir a rescisão da ordem para que civis e funcionários das Nações Unidas evacuem toda a área em Gaza ao norte de Wadi Gaza.

Multilateralismo


Na presidência do Conselho de Segurança, o governo brasileiro lamentou que “o uso do veto tenha impedido o principal órgão para a manutenção da paz e da segurança internacional de agir diante da catastrófica crise humanitária provocada pela mais recente escalada de violência em Israel e em Gaza”. Ontem mesmo, o Chanceler Mauro Vieira viajou para Nova York para, entre outras atividades do Conselho de Segurança, presidir, em 24/10, debate de alto nível do órgão dedicado à situação no Oriente Médio, inclusive na Palestina.

A reunião permitirá que países façam um novo chamado a um cessar-fogo e à abertura de corredores humanitários. Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em contato permanente com o presidente do Egito, Abdul Al-Sisi, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, tenta criar condições para que a ajuda humanitária chegue aos palestinos e os brasileiros na Faixa de Gaza possam ser resgatados. Os bombardeios de Israel buscam deliberadamente forçar o êxodo da população civil da Faixa de Gaza.

Joe Biden, que enfrenta dificuldades na campanha à reeleição, na crise da Faixa de Gaza, soma-se agora à posição radical do Netanyahu, que decidiu ocupar novamente a Faixa de Gaza, a pretexto de liquidar o Hamas. O que está acontecendo, porém, é a ampliação da influência do Hamas na Cisjordânia, o que enfraquece ainda mais a Autoridade Palestina. Uma nova intifada está em vias de ocorrer nessa região da Palestina, que é controlada militarmente pelo Exército de Israel.

A situação humanitária e política está fora de controle, principalmente depois da explosão em um hospitalar da Faixa de Gaza, que provocou centena de mortes. Segundo Israel, a causa foi um foguete disparado pela Jihad Islâmica, outro grupo terrorista palestino, que teria falhado. No mundo árabe, porém, ninguém acredita nisso.

A impotência da ONU se assemelha à situação da Liga das Nações às vésperas da Segunda Guerra Mundial. É uma ideia boa que começa a dar errado. Os Estados Unidos não reconhecem o multilateralismo como a via mais adequada para a solução dos conflitos internacionais e insiste na manutenção de  mundo unipolar, sob hegemonia norte-americana, que já não pode se manter apenas em termos militares.

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