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Estado de Minas ENTRE LINHAS

No ano que vem, a gente não morre mais

Não é fácil, numa época de confraternizações, como foi o Natal e será o ano-novo, puxar o freio de mão nas comemorações coletivas. Mas é preciso cuidado


31/12/2021 04:00 - atualizado 31/12/2021 07:38

Belchior
Belchior (foto: Wikimedia Commons)

A música “Sujeito de sorte”, de Belchior, foi um dos hits de 2021, na voz de Emicida, Maju e Pablo Vittar, desde que a velha canção do álbum “Alucinação” foi sampleada pelo rapper paulista no álbum “AmarElo”, ganhador do Grammy Latino. A gravação ao vivo, no Teatro Municipal de São Paulo, lotado de moradores da periferia de São Paulo, deu origem a um excelente documentário, uma boa pedida para quem ainda não viu e não quer “olhar pra cima” (ou já olhou) nessa virada de ano. Emicida se destaca não apenas por sua atuação artística, mas também por suas ideias generosas, que trazem para o centro do debate a realidade das periferias urbanas e puxam os fios de história que ligam o hip hop brasileiro ao nosso samba tradicional.
 
O sucesso da regravação de “Sujeito de sorte” tem a ver com os tempos de cólera política e de pandemia que estamos vivendo: “Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte/ Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte/ E tenho comigo pensado/ Deus é brasileiro e anda do meu lado/ E assim já não posso sofrer no ano passado/ Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro/Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”.
 
Esses versos da canção de Belchior são atribuídos ao mitológico cantador Zé Limeira (1886-1954), um repentista analfabeto, nascido em Teixeira, na Paraíba, imbatível nos seus improvisos surrealistas, segundo o jornalista Orlando Tejo, seu conterrâneo, autor do livro “Zé Limeira – O Poeta do Absurdo”, publicado em 1973. O repentista dominava a rima e a métrica, mas não dava a mínima para a oração, o que era considerado um insulto pelos cantadores de sua época. Entretanto, fazia muito sucesso de público, perambulando pelos sertões nordestinos, em jornadas de até 60 quilômetros a pé, num dia, para participar de desafios com outros cantadores famosos, como o cego Aderaldo.
 
Após o sucesso de Belchior, Tejo pleiteou a autoria dos versos, o que gera grande controvérsias. Não havia documentação sobre a obra de Zé Limeira, cuja vida foi romanceada por Tejo, um defensor da métrica, com suposto propósito de provocar os poetas concretistas. Não importa, a distopia sertaneja de Zé Limeira influenciou outros artistas, como Belchior e Zé Ramalho, e tem tudo a ver com o momento que o país está vivendo, inclusive nessa passagem de ano, na qual uma epidemia de Influenza (H3N2) tomou de assalto as nossas cidades, lotando as emergências do SUS, e a nova variante da COVID19, a sul-africana Ômicron, está chegando com tudo, sem que o país esteja devidamente preparado para ela.

Pensamento positivo

Três doses no braço da maioria dos velhinhos e outros grupos de risco e uma variante aparentemente menos letal, embora altamente transmissível, não justificam as medidas adotadas por Marcelo Queiroga, o falso ministro da Saúde, e Milton Ribeiro, o da (des)Educação, contra a vacinação de crianças e a obrigatoriedade de apresentação do certificado de vacinação nas escolas, respectivamente. São dois negacionistas alinhados com o presidente Jair Bolsonaro, que novamente erra no diagnóstico da pandemia (talvez pense: agora sim, a Ômicron é uma “gripezinha), e aposta outra vez na “imunização de rebanho” para não atrapalhar a economia.
 
Essa política nos levou a 618 mil mortos até agora. A nova onda da pandemia precisa ser tratada sem alarmismo, mas com responsabilidade, ou seja, com medidas adequadas: vacinação em massa, uso generalizado de máscaras, asseio permanente das mãos e distanciamento social. Não é fácil, numa época de confraternizações, como foi Natal e será o ano-novo, puxar o freio de mão nas comemorações coletivas. Mas a realidade já está mostrando que é preciso cuidado redobrado, ainda mais quando o próprio governo federal sabota a saúde pública e expõe a população aos seus desatinos.
 
Entretanto, eis a outra face do Brasil, aquela que vai à luta por dias melhores, que adota os devidos cuidados e resiste nos pequenos negócios, nas atividades agrícolas, industriais e de serviços, na cultura e nas atividades essenciais, entre as quais as da saúde, da limpeza urbana, da segurança pública e tantas outras, sem as quais seria impossível os encontros familiares na passagem de ano. Esqueçam o presidente Jair Bolsonaro e seus passeios de jet sky, oremos por milhares de pessoas que chapinham na lama para tentar salvar o que lhes restam de bens, após as enchentes na Bahia, ou buscam socorro médico nas emergências do SUS em todo o país. Como o sertanejo Zé Limeira, vamos pensar positivamente em 2021: ano que vem, a gente não morre mais.
Feliz ano-novo!

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