(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Entre Linhas

O coronavírus não brinca e a segunda onda no país parece ser pior

O negacionismo do presidente Bolsonaro sabota aos esforços governamentais para conter a pandemia do novo coronavírus, inclusive os do próprio governo


15/12/2020 04:00 - atualizado 15/12/2020 07:32

O presidente Jair Bolsonaro provoca aglomerações e nega gravidade numa disputa com o governador de São Paulo, João Dória(foto: Andre Coelho/AFP - 29/11/20 )
O presidente Jair Bolsonaro provoca aglomerações e nega gravidade numa disputa com o governador de São Paulo, João Dória (foto: Andre Coelho/AFP - 29/11/20 )

Não há sanitarista no Brasil que não tenha estudado o caso da epidemia de meningite ocorrida durante a década de 1970, em pleno regime militar, bem como a campanha de vacinação que controlou a doença.

A epidemia começou em Santo Amaro, na Grande São Paulo, causando 2.500 mortes na capital paulista.

Mesmo com a incidência de casos saltando a cada ano, e com mortalidade oscilando de 12% a 14% dos doentes, o regime militar escondia os números da população e negava a existência de epidemia, estabelecendo censura prévia aos veículos de comunicação para que não divulgassem o que estava ocorrendo.

Médicos e sanitaristas não podiam dar entrevistas.

Só a partir de 1974, quando a doença já grassava em áreas centrais de São Paulo, e não havia mais como negar a situação, com hospitais em colapso, os generais começaram a reconhecer o problema.

Na época, o Brasil vivia o chamado “milagre econômico” e os militares temiam que a divulgação da epidemia gerasse pânico na população e prejudicasse as atividades econômicas.

Enquanto a meningite matava moradores da periferia, conseguiram abafar o assunto, mas quando a epidemia atingiu bairros nobres de São Paulo, as autoridades foram obrigadas a admitir que havia uma crise de saúde.

O estrago já estava feito. A incidência em São Paulo subiu de 2,16 casos por 100 mil habitantes, em 1970, para 5,90 casos em 1971. Em 1972, chegou a 15,64 diagnósticos por 100 mil habitantes, e em 1973, atingiu os 29,38 casos por 100 mil habitantes.

A partir de 1974, houve uma explosão, motivada pela circulação do meningococo A, gerando uma sobreposição de surtos. Em 1974, a taxa de meningite chegou a 179,71 casos por 100 mil habitantes.

Com a curva de casos em ascensão sobre áreas centrais do Sudeste e em Brasília, não havia mais como impedir o fluxo da informação.

Em março de 1974, Ernesto Geisel assumiu o poder e reconheceu a existência do problema, criando a Comissão Nacional de Controle de Meningite, que importou milhões de doses da vacina. Somente em 1977, porém,  a epidemia foi controlada.

Havia se expandido de tal forma que a campanha de vacinação teve que atingir 97% dos municípios brasileiros.

Se os nossos sanitaristas aprenderam com a epidemia de meningite, parece que os militares esqueceram completamente a experiência do passado, com a diferença de que agora vivemos numa democracia e eles não tem mais como evitar a revelação dos fatos e a discussão dos problemas.

Perde-perde


Não dá mais para escamotear: estamos numa segunda onda da epidemia do novo coronavírus. O Brasil registrou nas últimas 24 horas 433 mortes e 25.193 novos casos de COVID-19; o número de vítimas fatais da doença no país subiu para 181.835, e o total de casos confirmados aumentou para 6.927.145.

A única maneira de evitar uma tragédia maior do que a da primeira onda é manter a política de distanciamento social e promover a vacinação em massa da população.

O vírus não está para brincadeira, a segunda onda já atinge 18 estados e o Distrito Federal. Entretanto, o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória, se digladiam. É um jogo de perde-perde.

O primeiro dispõe de recursos para vacinar a população, mas não dispõe ainda de uma vacina, pois a de Oxford, já comprada pelo governo brasileiro, não está pronta, e a da Pfizer, que havia sido oferecida e fora desprezada, não está disponível, embora o governo federal agora queira comprá-la.

O segundo tem a vacina chinesa CoronaVac produzida pelo Instituto Butantan, mas precisa ainda de aprovação da Anvisa, que negaceia os prazos e tenta mudar as regras do jogo.

Em algum momento, a realidade falará mais alto. Com a velocidade com que a segunda onda está se propagando,  será inevitável a adoção de novas medidas de distanciamento social, para evitar o colapso do sistema hospitalar.

O reiterado negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, porém, funciona como uma espécie de sabotagem aos esforços governamentais para conter a pandemia, inclusive os do próprio Ministério da Saúde, cada vez mais enrolado na própria burocracia.

Uma campanha de vacinação em massa precisa de mobilização da sociedade, de convencimento da necessidade e da eficácia da vacina.

Retardar a aprovação da vacina produzida pelo Instituto Butantan, porque seria um êxito do governador João Doria, e desacreditar sua eficácia, em razão de sua procedência chinesa, é um tiro no próprio pé.

Ontem, a Anvisa divulgou uma nota de mudando de 72 horas para 10 dias o prazo de aprovação das vacinas, além de fazer referência a supostas implicações geopolíticas de cada vacina, que precisariam ser analisadas, o que levou o governo de São Paulo a desistir da emergencial da vacina e apostar na sua aprovação definitiva.

 É um contrassenso sob todos os aspectos, praticamente todas as vacinas que estão sendo desenvolvidas  no mundo têm algum nível de participação da China, pois foram os cientistas chineses que forneceram o sequenciamento genético utilizados nas pesquisas.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)