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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Esperando Godot. Como no teatro, Brasil espera definições para 2022

Os resultados das eleições municipais, em vez de dissipar as incertezas, aumentaram-nas


02/12/2020 04:00 - atualizado 02/12/2020 08:55

A votação deste ano mostrou enfraquecimento do bolsonarismo e do lulopetismo e deixa uma incógnita para a sucessão presidencial(foto: Leandro Couri/EM/D.A Pres)
A votação deste ano mostrou enfraquecimento do bolsonarismo e do lulopetismo e deixa uma incógnita para a sucessão presidencial (foto: Leandro Couri/EM/D.A Pres)
Escrita no pós-Segunda Guerra Mundial, a peça do irlandês Samuel Beckett, que empresta o título à coluna, é uma obra-prima do chamado Teatro do Absurdo.

Faz sucesso no mundo desde 1953, quando estreou em Paris. No Brasil, teve duas montagens amadoras na década de 1950, até o estrondoso sucesso de sua montagem profissional, no Teatro TBC, em São Paulo, sob direção de Flávio Rangel, em 1969, com Cacilda Becker no papel de Estragon e seu marido, Walmor Chagas, no de Vladimir.

O contexto político da época, em plena vigência do Ato Institucional número. 5 do regime militar, e o fato de Cacilda Becker sofrer um derrame cerebral em pleno palco, numa apresentação para estudantes em São Carlos, agonizando por 38 dias, deram à peça um lugar na história da cultura brasileira.

A peça somente faz sentido quando serve de analogia para um contexto de incertezas. Sua essência é a espera. É a desconstrução completa do teatro, pois não tem história, as falas não são coesas e nada acontece do ponto de vista da ação dos personagens.

Tudo parece obscuro e pessimista, mas provoca uma profunda reflexão sobre a vida e a sua incessante busca por respostas.

O palco vazio desconstrói o mundo ao redor, os diálogos repetitivos reproduzem as relações humanas e a inação dos personagens mostra a paralisia que a incerteza provoca. Na espera, nada acontece.

A fábula de Beckett tem tudo a ver com o momento que o Brasil está vivendo. Os resultados das eleições municipais, em vez de dissipar as incertezas, aumentaram-nas.

Em 9 de outubro passado, a pouco mais um mês das eleições, segundo a pesquisa Exame-Ideia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seria reeleito para um segundo mandato. No primeiro turno, teria 30% das intenções de voto, contra 18% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 10% do ex-ministro da Justiça Sergio Moro (sem partido).

A pesquisa mostrava ainda Ciro Gomes (PDT), com 9%, Luciano Huck (sem partido), com 5%, e João Doria (PSDB), com 4%. A pesquisa também apontava Luiz Henrique Mandetta (DEM) com 3%, Marina Silva (Rede) com 2%, João Amoedo (Novo) com 1%, e Flávio Dino (PCdoB) com 1%. Brancos e nulos somavam 9%. Os que "não sabiam" eram 10%.

Em uma projeção de segundo turno, Bolsonaro venceria Moro com 41% dos votos contra 35% do ex-ministro. Contra Lula, Bolsonaro teria 43%, contra 33% do petista. Em uma disputa contra Doria, a vantagem do Bolsonaro seria ainda maior: 42% das intenções de voto contra 21%.


Incógnitas


Menos de dois meses depois, Bolsonaro, que venceria em todos os cenários e regiões, sofreu uma derrota acachapante nas eleições municipais.

Continua sendo o principal polo de atração de forças políticas, mas viu a extrema-direita que o levou ao poder definhar e tem que disputar o centro político com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que busca alianças nesse campo, principalmente com o DEM, o MDB e o PSD. 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,  que opera a mesma estratégia de 2018, viu o PT ser volatilizado completamente nas capitais, a ponto de não eleger nenhum vereador em Rio Branco (AC).

A nova estrela da esquerda é Guilherme Boulos, do Psol, que não tem o passivo de corrupção petista. O novo líder paulista também é um problema para Ciro Gomes, do PDT, por outros motivos: fecha-lhe a porta do Sudeste.

Restam as duas incógnitas que justificam a analogia: Sérgio Moro, que acabou de assinar um contrato milionário de trabalho com um escritório que presta serviços de consultoria à Odebrecht, e o apresentador Luciano Huck, que tem até junho para decidir se mantém seu contrato também milionário com a TV Globo.

São nomes que podem aglutinar forças de centro-direita e/ou centro-esquerda para construir uma alternativa de poder, mas somente serão candidatos se as pesquisas mostram que têm chances de vencer.

Enquanto isso, o diálogo de nossos personagens reproduz as incertezas: “Vladimir: Amanhã nos enforcamos. (Pausa) A não ser que Godot venha./ Estragon: E se vier?/ Vladimir: Estaremos salvos./ Estragon: Então, vamos?/ Vladimir: Sim, vamos lá. (Eles não se mexem) A cortina se fecha”
 




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