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Everson, o goleiro que se emociona e faz emocionar

As lágrimas de Everson são quase um atestado do bom camarada que ele é. Do quão humano ele é - algo que, muitas vezes, é dissociado do jogador de futebol


02/09/2021 19:42 - atualizado 02/09/2021 20:12

Everson, após a vitória do Atlético sobre o Boca Juniors, no Mineirão, pela Libertadores
Everson, após a vitória do Atlético sobre o Boca Juniors, no Mineirão, pela Libertadores (foto: Pedro Souza/Atlético)
Em tese, parece ser pré-requisito para goleiro o sangue frio. Como se estivesse lá, na lista de qualificações: ser ágil, ter bom reflexo, boa envergadura, noção de espaço, ótima técnica, visão periférica apurada e, entre mais alguns outros itens dessa relação, um autocontrole emocional do nível ciborgue. Afinal, é ele a  última instância de um time na defesa  e, se não tiver foco 100% na bola, de forma quase a se isolar de influências externas, a coisa pode desandar num lance decisivo.

Goleiro não pode se abater. Não pode se distrair. Se deixar levar por provocação de atacante ou de torcida é pecado mortal. E chorar? Bem, no caso de Everson, ele já mostrou que goleiro pode sim, ser bom sob as traves e coração mole. Um sujeito que se emociona e, de quebra, emociona quem assiste à emoção dele.

As lágrimas de Everson são quase um atestado do bom camarada que ele é. Do quão humano ele é - algo que, muitas vezes, é dissociado do jogador de futebol. Não importa se o assunto é ou não futebol, e nunca o futebol é só futebol, sempre se lembrem.

Dentro e fora de campo, o goleiro do Atlético e agora também da Seleção Brasileira já deu algumas provas disso. De como passado e presente são tão entrelaçados e transparecem em sujeitos assim: transparentes.

A mais recente demonstração dessa simbiose veio nesta semana. Ao ser questionado sobre o orgulho do pai dele, ex-jogador de várzea, por vê-lo vestir pela primeira vez a camisa da Seleção Brasileira, o goleiro não se conteve. Antes mesmo que o repórter terminasse a pergunta, deixou escapar as primeiras lágrimas, que em poucos segundos se transformaram naqueles suspiros profundos que brotam da alma. 

Em frente às câmeras, Everson transbordou. Não por acaso. Ao evocar o passado do pai do goleiro na várzea, o repórter resgatou naquele homem de 31 anos lembranças do menino que atuava como gandula nos campos de terra em Pindamonhangaba e olhava admirado para o grande ídolo dele.

"Eu quis ser goleiro vendo meu pai. Ele foi goleiro na várzea. Sempre pegava a bola para ele nos jogos e, nos intervalos, eu ia no gol e ele ficava chutando para mim. O meu pai nem luva tinha", contou. "Mas meu pai é meu maior ídolo no futebol, mesmo não sendo atleta profissional" disse Everson, emocionado e nos emocionando. 

Não foi a primeira vez que ele deixou aflorar esse lado humano. A verdade é que ele nunca se preocupou em esconder que é emotivo mesmo, jamais represou essa faceta de seu temperamento. 

Há pouco mais de um mês, em 20 de julho, o goleiro já havia chorado, jogado no gramado no Mineirão, pra quem quisesse ver. Não havia torcida, mas os olhos eletrônicos das câmeras de TV estavam lá, para mostrar ao mundo um homão de 1,92 metro caído no campo, mãos nos rosto, se debulhando em lágrimas depois de marcar um gol de pênalti.

Não foi só por ter feito o gol que garantiu a vitória do Atlético sobre o Boca Juniors, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Aquele jogo teve o cenário típico para fazer de Everson um grande vilão. 

O goleiro alvinegro cometeu uma falha crassa em um gol dos argentinos no tempo regulamentar, que acabou anulado após análise do árbitro de vídeo (VAR). Foram sete minutos entre a bola morrer no fundo da rede do Galo e o gol ser invalidado. Longos sete minutos em que Everson foi levado ao purgatório do futebol. E de lá ressurgiu, para fazer outras grandes defesas, pegar dois pênaltis e cravar a classificação atleticana com o seu próprio gol. 

"É o gol mais especial da minha carreira", comentou, deixando escapar algumas lágrimas ao falar sobre as pessoas que o fortalecem nos momentos difíceis, de críticas: "Minha esposa e minha família. Estar aqui, disputando uma Libertadores, contra uma grande equipe, disputando título... Ter passado pelas quatro divisões do futebol, tudo ao lado da minha família".

Voltando um pouco mais no tempo, chegamos a julho de 2019. Convidado de um programa de TV, mais uma vez ele não segurou a emoção ao ver imagens de sua carreira, desde a base, no São Paulo; passando pelo Guaratinguetá, onde foi reserva; River-PI e Confiança-SE, até se destacar no Ceará e ser contratado pelo Santos.

Novamente, as lágrimas emolduraram as recordações.  

Em todas essas ocasiões, Everson expôs o que ele foi e o que ele é. Uma unidade inviolável. Traduziu, em choro, tudo o que superou para chegar ao patamar em que está hoje, quem esteve ao lado dele na caminhada e o orgulho de cada tijolo que colocou nessa construção. E cada choro dele o agiganta ainda mais. Do alto do seu 1,92m.

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