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Onde estava o Conselho Fiscal do Cruzeiro durante a gestão Pires de Sá?

Não há apenas um culpado pela má administração do Cruzeiro, que levou o clube ao patamar degradante em que se encontra hoje. Wagner Pires de Sá contou com a condescendência de muitos


postado em 24/04/2020 04:00 / atualizado em 23/04/2020 22:31

Ex-vice-presidente do Cruzeiro Hermínio Lemos (E) e ex-presidente Wagner Pires de Sá (C) renunciaram em dezembro, após intensa pressão(foto: Cruzeiro/Reprodução)
Ex-vice-presidente do Cruzeiro Hermínio Lemos (E) e ex-presidente Wagner Pires de Sá (C) renunciaram em dezembro, após intensa pressão (foto: Cruzeiro/Reprodução)


Desde a quarta-feira, o repórter Tiago Mattar vem apresentando, no Portal Superesportes e no jornal Estado de Minas, uma série de denúncias envolvendo o uso indiscriminado do cartão corporativo do Cruzeiro pela diretoria anterior – que deixou o clube em dezembro, pela porta dos fundos, ao renunciar em meio a investigações de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, entre outras acusações.

O caso é muito sério. Não apenas pela falta de pudor dos ex-dirigentes em bancar despesas vultosas de cunho pessoal com o dinheiro celeste. Algumas dignas de piada. O ex-presidente Wagner Pires de Sá, retratam os documentos que chegaram às mãos de Tiago Mattar, pagou até clínica de estética e produtos como meia de compressãocom o cartão do clube.

Não bastasse isso, Wagner também se utilizou do caixa cruzeirense para custear suas férias em um luxuoso resort à beira-mar na Bahia; pagar contas nada modestas de restaurantes e bares do refinado Bairro de Lourdes, em BH; e até mesmo garantir um delivery de chope.

Somados, esses gastos chegam quase a R$ 90 mil, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2019, enquanto Wagner presidiu a Raposa. Para quem está acostumado com altas quantias entrando e saindo da conta bancária, talvez esse montante não assuste muito. Não é o caso, contudo, desta colunista, que nunca desembolsou perto de R$ 9 mil em serviços de estética, por exemplo.

Além disso, se os gastos pessoais fossem custeados pelo dinheiro do próprio ex-dirigente, ninguém, além dele mesmo, teria nada a ver com isso. O que cada um faz com o que ganha é problema desse cada um. Há quem seja mais conservador, discreto e comedido com as finanças. Da mesma forma que há quem goste de esbanjar, gastar com bebidas e comidas caras, roupas de grife. Enfim, cada um no seu quadrado.

O problema é que Wagner gastou um dinheiro que não pertencia a ele, pessoa física. Conforme o que vem sendo muito bem apurado pela reportagem do Superesportes, o ex-cartola usou o cargo em benefício próprio. E pior ainda: desfalcou o já combalido cofre do Cruzeiro, ajudando diretamente a jogar o clube na maior crise financeira e institucional de sua história.

Igualmente grave é perceber, pela série de matérias, que esse comportamento era padronizado intramuros da sede do Barro Preto. Não se limitava ao presidente – o ex-vice Hermínio Lemos, que também renunciou em dezembro, teve comportamento igual. Na conta de Lemos, segundo a documentação, estão banquetes em restaurantes argentinos e chilenos e, como Wagner, serviço de entrega de chope bancados com o cartão corporativo cruzeirense.

Está em andamento, no clube celeste, uma auditoria para tentar desvendar tudo o que ocorreu na última administração, que destroçou o Cruzeiro. Para tentar mostrar como um clube, que nesta década ganhou dois Campeonatos Brasileiros e duas Copas do Brasil (competições que engordam os cofres de seus campeões), conseguiu se afundar em dívidas e chegar ao ponto em que está hoje. Sem crédito e rebaixado.

Mas tudo isso leva a uma pergunta ética, que é tão importante quanto os aspectos financeiros: onde estava o Conselho Fiscal do Cruzeiro durante todo esse tempo? Onde estavam os conselheiros (ok, muitos deles estavam nas mesas de restaurantes ao lado dos ex-cartolas, se esbaldando), que deveriam, por princípio, fiscalizar a gestão? Como é que todo mundo se calou? Ou enquanto estava debaixo do pano estava tudo bem?

Não há apenas um culpado pela má gestão do Cruzeiro, que levou o clube ao patamar degradante em que se encontra hoje. Wagner Pires de Sá contou com a condescendência de muitos, inclusive alguns que ensaiaram aparecer como salvadores da pátria quando o caldo entornou. Se ele fez o que fez com o cartão corporativo do Cruzeiro – e ainda há mais para vir à tona –, foi porque teve a anuência de seus pares e de permissivos integrantes do Conselho Deliberativo celeste. Até quem se omitiu errou.

A cobrança precisa recair sobre todos. Claro que sobre alguns com mais peso do que sobre outros. Um clube da grandeza do Cruzeiro não chega à beira do precipício só por causa de uma ou outra figura. O discurso da reconstrução é muito bonito, necessário neste momento, mas se esse processo não tiver um alicerce bem consistente, se velhas práticas não forem abolidas, se cada um não assumir sua parte nessa engrenagem, tudo não passará de mera falácia.


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