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Estado de Minas SIDERÚRGICA

55 anos de uma glória

Em 13 de dezembro de 1964, time de Sabará ganhou seu segundo e último título mineiro. Data traz boas lembranças a quem esteve em campo


postado em 13/12/2019 04:00

Já com a faixa de campeão no peito, jogadores dão a volta olímpica no Estádio da Alameda, depois da vitória sobre o América(foto: Arquivo EM - 13/12/64)
Já com a faixa de campeão no peito, jogadores dão a volta olímpica no Estádio da Alameda, depois da vitória sobre o América (foto: Arquivo EM - 13/12/64)


Um dia inesquecível. Assim foi o 13 de dezembro de 1964, quando o Siderúrgica venceu o América por 3 a 1, no Estádio Otacílio Negrão de Lima (Alameda), conquistando o seu segundo título mineiro – o primeiro foi em 1937. As cenas daquele dia permanecem vivas na mente de dois dos heróis do título: o ex-goleiro Djair, hoje com 81 anos, e o ex-volante – na época center-half – Édson Dedão, de 80.

Djair ainda mora em Sabará. Assentado na varanda de sua casa, diz que fica se lembrando de detalhes daquele time. “Eu era pequeno, baixinho por assim dizer. Tinha apenas 1,68m. Mas o Yustrich, nosso técnico, gostava de mim. Dizia que se eu tivesse 1,70 me faria goleiro titular da Seleção Brasileira. Ele era muito rígido, mas um bom homem, amigo. E nosso grupo era de amigos. O Yustrich ajudou a construir esse relacionamento.”

Djair conta que o treinador mandava espiões para observar os adversários: “E o espião não ia só em dia de jogo, não. Observava os treinos e passava tudo para ele. Foi assim que o Yustrich montou o esquema de jogo contra o América. Sabia, por exemplo, que marcariam o Tião. Nossa principal jogada era com ele, recebendo a bola e dando a cavadinha em direção à área. Era mortal. Aliás, o Siderúrgica tinha padrão de jogo, o que não se vê nos times de hoje, como Atlético, Cruzeiro e América”.

O ex-goleiro revela que Tião, apesar de ponta-esquerda, não podia driblar. “O Yustrich não deixava. A ordem dele para o Tião era que recebesse a bola, ajeitasse e desse a cavadinha na direção do Silvestre e do Noventa.” Conta também ter tido um treinamento especial para o jogo decisivo: “Seu Yustrich me chamou e me disse que eu tinha de estar preparado para levar trombadas. Que tentariam me desestabilizar. Aí, fez um treino especial comigo, de bolas altas e em outras, em que eu tinha de saltar nos pés do atacante. Ele mesmo fez as vezes desse atacante, que me chargeava. Sempre falava que eu era baixinho e que não tinha corpo para trombar, por isso fez esse tipo de treino durante uma semana”.

Terminado o jogo, a comemoração foi intensa, diz Djair: “Voltei pra Sabará de ônibus. Quatro companheiros – Dawson, Paulista, Tião e Édson Dedão – voltaram a pé, para pagar promessa. Chegando a Sabará, fomos direto para o campo. Estava todo mundo lá, a cidade inteira”.
 
Goleiro da equipe campeã, Djair gosta de contar os casos da época aos amigos e ao neto, Luan(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Goleiro da equipe campeã, Djair gosta de contar os casos da época aos amigos e ao neto, Luan (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
 

MUDANÇA DE RUMO

Édson Dedão mora em Pará de Minas. Não se esquece do time e dos momentos que antecederam o título. “Eu jogava no futebol amador do Bom-Despachense. Aí, o presidente do Guarani de Divinópolis, Waldemar Teixeira de Faria, me levou para lá. Isso foi em 1962. Mas resolvi parar de jogar, pois queria continuar estudando e trabalhar, ganhar dinheiro. Um primo, que trabalhava em Ipatinga, me levou para a Usiminas. O presidente da empresa na época, João Cláudio Teixeira de Sales, era ligado ao futebol e me reconheceu. Ele me chamou na sala dele. Pensei: 'Fui contratado'. Só que ele era amigo do presidente do Siderúrgica, Manoel Édson de Oliveira. Ligou para ele na minha frente e disse: 'Estou com aquele jogador que você gosta, lá de Bom Despacho. Vai trabalhar aqui'. O seu Manoel disse que não, e que era para ele me mandar para Sabará. Assim cheguei ao Siderúrgica, em 1963.”

No ano seguinte, chegou o Yustrich. E começou a montar o time. Mudou tudo, conta Édson. “A primeira coisa que ele fez na casa em que nós dormíamos foi colocar fogo em todos os colchões e mandar comprar tudo novo. Ele mudou a maneira de treinar. Aos sábados, véspera de jogos, jogávamos futevôlei, o que ninguém conhecia na época. A gente também ajudava a manter o campo, cortava grama, pintava as linhas com cal...”

O ex-volante conta o que mais o impressionou em Yustrich, famoso pelo temperamento explosivo: “Não tinha essa de ser bravo, de bater em jogador. Ele era nosso amigo. Para você ter ideia, em todo jogo, quando ganhávamos, ele sorteava uma camisa entre a gente. Era uma camisa da confecção da mulher dele. Depois da partida do título, fomos para o vestiário comemorando. O Yustrich fechou a porta e mandou que o roupeiro, Deco, segurasse. E começou a chorar, a nos abraçar. Ele tinha o coração mole. Era exigente, mas se emocionava facilmente, e as lágrimas corriam em seu rosto”.
 
(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)
 

"Depois da partida do título, fomos para o vestiário comemorando. O Yustrich fechou a porta e mandou que o roupeiro, Deco, segurasse. E começou a chorar, a nos abraçar. Ele tinha o coração mole. Era exigente, mas se emocionava facilmente, e as lágrimas corriam em seu rosto"

Edson Dedão, ex-volante do Siderúrgica, mostrando, orgulhoso, a foto do time

 

DO INÍCIO AO FIM

1930 – É fundado em 31 de maio
1932 – Disputa o Campeonato Mineiro (Segunda Divisão) pela primeira vez
1933 – Disputa o primeiro Campeonato Mineiro de Profissionais
1937 – Campeão mineiro
1938 – Vice-campeão estadual
1941 – Vice-campeão estadual
1960 – Vice-campeão estadual
1964 – Campeão mineiro
1967 – Pede licença na Federação Mineira de Futebol e fecha as portas
1972 – Perde o Estádio da Praia do Ó devido a acordo entre a prefeitura e a Belgo-Mineira
1984 – Belgo-Mineira reconhece que terreno é do Siderúrgica e apenas as benfeitorias são dela
1986 – Terreno do Praia do Ó é desapropriado pela Prefeitura de Sabará
1990 – Acordo com prefeitura local possibilita a devolução do campo e a remontagem do time
1993 – Volta ao futebol profissional
1997 – Disputa a Terceira Divisão do Mineiro
2005 – Sem ajuda, volta a cessar as atividades


FICHA TÉCNICA
América 1 x 3 Siderúrgica
América: Davi; Luisinho (Robson 15 do 1º), Klebis, Zé Horta e Catocha; Zé Emílio e Nei; Geraldo, Jair Bala, Dario e Sérgio
Técnico: Moacir Rodrigues
Siderúrgica: Dejair; Geraldinho, Chiquito, Zé Luis e Dawson; Edson e Paulista; Ernani, Silvestre, Noventa (Aldeir 45 do 1º) e Tião.
Técnico: Yustrich
Campeonato Mineiro de 1964
Data: 13 de dezembro de 1964
Estádio: Otacílio Negrão de Lima (Alameda)
Gols: Ernani 21, Noventa 24 e Aldeir 44 do 1º. Jair Bala 33 do 2º
Árbitro: Doraci Jerônimo
Público: 8.970 pagantes
Renda: Cr$ 4.245.250

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