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Estado de Minas COLUNA DO JAECI

Dívida gigante torna horizonte sombrio para Atlético e Cruzeiro

Salários irreais pagos a jogadores e técnicos e falta de profissionalismo dos dirigentes ajudam a explicar crise financeira dos clubes de Minas


30/07/2020 04:00

Lance do último clássico entre Atlético e Cruzeiro: os dois clubes vivem situação financeira gravíssima, segundo estudo do Itaú BBA(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 7/3/20)
Lance do último clássico entre Atlético e Cruzeiro: os dois clubes vivem situação financeira gravíssima, segundo estudo do Itaú BBA (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 7/3/20)


Analistas do Itaú BBA avaliam que o Atlético teve péssimo desempenho econômico em 2019 e projetam cenário financeiro de 2020 como uma incógnita. É o que diz a matéria publicada na terça-feira pelo Portal Superesportes e outros sites do Brasil. Segundo o banco, a dívida total do Atlético passou de R$ 614 milhões em 2018 para R$ 746 milhões no ano seguinte, com substancial aumento de R$ 132 milhões. Quando assumiu, a atual diretoria prometeu austeridade e anunciou ter optado por “sanear” o clube, abrindo mão de possíveis conquistas no futebol. Pelo jeito, não conseguiu nem uma coisa nem outra e pode entrar para a história como a diretoria que mais inflacionou o clube. Depois do Galo, os maiores devedores são Botafogo, Corinthians, Cruzeiro e Vasco. Há muito, venho criticando as gestões amadoras nos clubes de futebol em pleno século 21. Presidentes que dedicam “24 horas” do dia ao clube sem nada ganhar em termos financeiros. Uma forma simplória de administrar. Clubes de futebol têm de ter donos, CEOs contratados e presidentes remunerados. É assim que funciona nos países sérios. Aqui no país Tupiniquim, são os conselhos deliberativos que votam orçamento e contas, algumas maquiadas, e as aprovam sem a menor cerimônia. Dificilmente uma prestação de contas é rejeitada, pois os conselheiros são escolhidos pelos dirigentes.

Para os analistas, o Atlético vive situação grave e demoraria mais de uma década para sanar as dívidas, caso revertesse 20% das receitas para esse fim. Esse não é um “privilégio” do Atlético. A maioria dos grandes clubes brasileiros vive de pires na mão, com atrasos de salários, cotas de TV adiantadas. Não é possível um clube de futebol com tantas dívidas se dar ao luxo de pagar R$ 1,2 milhão a um treinador. Pagava R$ 500 mil mensais a Maicon Bolt e a outras aberrações que só deram prejuízo aos cofres do clube. Em contrapartida, funcionários com uma longa história no clube, serviços prestados e salários baixos, foram demitidos. Uma total incoerência. Claro que os dirigentes, quando contratam, o fazem pensando em acertar. Porém, quando há excesso de péssimas contratações, isso significa incompetência. Rui Costa e Alexandre Gallo são dois dos responsáveis por aumentar a dívida do clube, mas é claro que quem deu a eles autonomia para fazer as negociações tem sua parcela de culpa.

Os analistas do banco dizem que três fatores ajudaram o Galo a ser o clube mais endividado do país: os custos cresceram acima das receitas, aumento das dívidas e investimentos acima da possibilidade do clube. Os estudiosos apontaram também os empréstimos bancários como uma alternativa das diretorias dos clubes para manter as contas em dia. Uma atitude condenável, segundo eles. A verdade é que o futebol gerido por gente amadora acaba trazendo sérias consequências para os clubes brasileiros. Gasta-se mais do que se arrecada, pagam salários de Europa numa economia quebrada e em frangalhos, e a conta acaba chegando. Seguir o exemplo do Flamengo não é para qualquer um. Lá, Bandeira de Mello e Rodolfo Landim comandaram uma verdadeira equação de receitas e despesas e conseguiram reduzir significativamente a dívida do rubro-negro, que se tornou superavitário. Ainda assim, a dívida é grande, mas está equacionada em função do que o clube tem de receitas e despesas, com superávit. O Atlético deverá votar seu balanço de 2019, a aprovação ou não das contas. Caberá aos conselheiros a missão.

Cruzeiro na bancarrota

Se serve de consolo, a situação do arquirrival, Cruzeiro, é ainda mais dramática, embora os analistas digam que a dívida é menor. Algo em torno de R$ 631 milhões. Eles destacam a gestão temerária de Wagner Pires Sá, que é investigado pela polícia por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outras irregularidades. O estudo diz que o Cruzeiro não conseguirá honrar pagamentos ou reduzir dívidas. O documento aponta uma queda em 2019 na ordem de R$ 14% nas receitas totais e 39% nas receitas recorrentes. As dívidas do Cruzeiro explodiram na gestão fraudulenta de Wagner Pires Sá. Um aumento de cerca de 150%. São dívidas fiscais e a exclusão do Profut por irresponsabilidade dos dirigentes. Nas dívidas operacionais o destaque é o aumento de valores a pagar a outros clubes e salários incompatíveis com a receita do Cruzeiro. Somente a exclusão do Profut representa um aumento de R$ 125 milhões nas dívidas do Cruzeiro. A conclusão dos analistas do Itaú BBA é de um cenário catastrófico para o Cruzeiro nesse 2020. Primeiro, porque o rebaixamento à Série B tira do clube receitas significativas. A pandemia do coronavírus e consequente exclusão do público dos estádios é outro fator que pesa nas receitas, pois é uma fonte importantíssima. A crise econômica pela qual passa o país impede o aumento de patrocínios, a não ser que um mecenas ajude o clube.

“A corda estourou e o abismo é fundo”, dizem os especialistas. Mesmo que o Cruzeiro volte imediatamente à Série A, teria de gastar apenas o que arrecada. Com isso, a competitividade fica prejudicada, o que implica dizer que o torcedor não deve e não pode sonhar com títulos tão cedo. A solução seria armar elencos baratos e eficientes, vender muitos atletas por valores elevados e renegociar o passivo com enormes descontos e a longo prazo. Como isso é uma possibilidade quase que irreal, o futuro do clube, que outrora era sinônimo de organização e taças, é bastante sombrio. O futebol mineiro, com suas maiores estrelas, Atlético e Cruzeiro, vive dias sombrios do ponto de vista financeiro. Nada que não viva a maioria dos quebrados clubes do país, mas muito preocupante. Por isso sempre digo: futebol é para ser feito por gente do ramo e não por quem jamais deu um chute na bola e não sabe nem se ela é redonda ou quadrada. Contratar a rodo, sem responsabilidade, pagando salários irreais, tem um custo. E quando a conta chega, ela é dolorosa. Só lamento que o futebol brasileiro não tenha responsabilidade fiscal. Se houvesse, teríamos muitos dirigentes a prestar contas. E não tenham dúvida: tudo vai continuar do mesmo jeito, até que haja uma intervenção para acabar com essa farra de pagar salários irreais numa economia que não suporta esse luxo. O futebol brasileiro é reflexo de uma sociedade desorganizada e irresponsável!

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