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Estado de Minas COLUNA DO JAECI

Coronavírus: Que o futebol volte com responsabilidade dos dirigentes

É sabido que numa partida de futebol podemos reunir gente de todas as classes sociais, diferentes comunidades, e isso é tudo o que o coronavírus precisava


postado em 22/04/2020 04:00 / atualizado em 22/04/2020 01:36

Com 45 mil pessoas na arquibancada, jogo entre Atalanta e Valência pode ter sido um dos graves problemas de contaminação do coronavírus em Milão, na Itália (foto: Vicenzo Pinto/AFP %u2013 19/2/20)
Com 45 mil pessoas na arquibancada, jogo entre Atalanta e Valência pode ter sido um dos graves problemas de contaminação do coronavírus em Milão, na Itália (foto: Vicenzo Pinto/AFP %u2013 19/2/20)

O mundo já fala em reabrir o futebol. Estamos todos com saudades do esporte bretão, mas a coisa tem que ser feita com responsabilidade e critério. Em princípio, futebol com portões fechados, sem público. É sabido que um dos graves problemas na Itália foi por conta do jogo Atalanta 4 x 1 Valência, pela Liga dos Campeões, com 45 mil pessoas nas arquibancadas. Os italianos não levaram a sério a pandemia do novo coronavírus, e, por causa daquele jogo, em Milão, os casos começaram a explodir. Com certeza os torcedores se contaminaram e foram contaminando outras pessoas. Os reflexos estão aí: uma Itália devastada, contando seus mortos. É sabido que numa partida de futebol podemos reunir gente de todas as classes sociais, diferentes comunidades, e isso é tudo o que o coronavírus precisava. Desse jogo em diante, a doença se disseminou na Itália e hoje são mais de 24 mil mortos, com 200 mil casos confirmados. Por esse exemplo, a Fifa, a Uefa, a Conmebol e a CBF devem tomar muito cuidado no quesito liberação do futebol. É melhor termos clubes quebrados do que centenas de milhares de mortos. A ideia de reabrir, testando os jogadores e realizando jogos com portões fechados é a ideal para esse recomeço. Quando a pandemia estiver sob controle, aí sim, pode-se pensar em abrir ao público, de forma gradativa. Minha dúvida é saber se as pessoas terão coragem de frequentar um estádio, onde se fica colado no outro torcedor. Eu jamais iria e não levaria meus filhos, pelo menos, nesse primeiro momento. Evitar aglomerações é fundamental.

A verdade é uma só: nenhum país, por mais potência que seja, está preparado para enfrentar esse inimigo invisível. Nos Estados Unidos já são 22 milhões de desempregados. Antes do vírus, os americanos tinham o orgulho de dizer que os empregos jorravam, e que desde 1969, a oferta não era tão grande. No Brasil a realidade será ainda pior, já que a economia está quebrada, e o povo lutando para sobreviver. Se antes da pandemia, tínhamos 30 milhões de pessoas vivendo na miséria, hoje esse número deve ter dobrado. Por mais que o governo ajude com os míseros R$ 600, não dá para mensurar o tamanho da tragédia. O presidente luta para reabrir tudo, rapidamente. Ele só pensa na economia e não nas vidas das pessoas. Alguns governadores e prefeitos, são mais responsáveis e cautelosos e preferem atender as determinações das autoridades médicas e sanitárias. Eu sigo à risca o que a OMS diz. A Organização Mundial de Saúde é abalizada para dizer o que deve e o que não deve ser feito.

Entendo o drama dos clubes de futebol, pois ele é o mesmo de cada um de nós. Porém, será preciso mudar a filosofia de trabalho dos atuais dirigentes. Não dá mais para pagar salários exorbitantes a técnicos e jogadores. Não há como pagar R$ 200 mil a um diretor de futebol. Se o momento é de cortar custos, que tal começar por esse cargo, que não acrescenta nada na vida dos clubes? Se eu sou presidente de um clube, posso muito bem ligar para meu colega, presidente do outro clube, e propor um negócio. Por que tem que haver a presença do diretor de futebol? O Flamengo não tem essa figura. Lá quem comanda as negociações é o vice eleito, Marcos Brás. Você não ouve falar em “rachadinha” no Flamengo, como ouviu falar em outros clubes. Acho suficiente a função do gerente de futebol, que pode cuidar das viagens, da logística e ser um elo entre os jogadores e o presidente. Pra que algo além disso? O futebol brasileiro está muito mal gerido pelos presidentes de clubes, com fórmulas arcaicas, que viciam a estrutura.

É muito ruim não ter futebol nas quartas-feiras e domingos. Nós, que somos apaixonados pelo esporte bretão, sentimos falta. Porém, essa paralisação deveria servir para os dirigentes, via conferência de vídeo, se reprogramarem e encararem a realidade de um país pobre, onde o trabalhador comum ganha míseros R$ 1.040 de salário mínimo. Isso não pode permitir que o São Paulo, por exemplo, repatrie Daniel Alves, pagando a ele R$ 1,5 milhão, por mês. É um crime contra a economia e contra o pobre. Tanto assim, que o patrocinador pulou fora e parece que o clube não tem como honrar o compromisso. Os dirigentes têm a faca e o queijo na mão para mudar esse sistema arcaico e retrógrado.

Pagar salários dentro da realidade dos clubes, não estourar o orçamento, gerar mais receitas do que despesas, são as sugestões para tornar nosso futebol mais equilibrado e responsável. Outra coisa que a Justiça deveria determinar é a responsabilidade fiscal dos dirigentes. Eles precisam sim ser responsáveis pelo dinheiro que entra e sai do clube. O dinheiro não é deles, e sim da instituição. Gastar o que não tem para fazer média com o torcedor é crime de responsabilidade. Sei que a maioria não ganha um centavo para presidir o clube, mas se torna conhecido, famoso e tem algumas benesses. A vaidade do ser humano é uma coisa impressionante. A cadeira de presidente de clube, para alguns, é mais importante do que tudo na vida. Espero que a pandemia do novo coronavírus, que aterroriza o mundo e tira vidas, seja um divisor de águas não só para nossas reflexões, como para que o futebol seja mais solidário, mais humano e dentro da realidade de cada país. País pobre tem que pagar salário de pobre e não de rico. Se o Barcelona paga R$ 150 milhões anuais a Messi, é porque fatura bilhões em cima disso. Não é caso dos clubes brasileiros, quebrados, de pires na mão, mendigando cotas de TV antecipadas. Pensem nisso, dirigentes!

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