
Por mais que o argumento fosse evitar o aumento da pobreza dos (as) mais pobres, ao manter o comércio funcionando e as pessoas trabalhando ficou nítido que não é real essa relação ao longo do processo. Afinal, com a escalada das mortes, entre fechamentos e reaberturas, inevitavelmente a economia foi piorando, os mais ricos ficaram ainda mais ricos, enquanto a parcela mais pobre do país voltou ao Mapa da Fome. Segundo estudos da ONG Oxfam, o patrimônio de 42 super-ricos brasileiros aumentou em US$ 34 bilhões, enquanto 117 milhões de pessoas enfrentam a insegurança alimentar.
Esses dados me ensinam, mais uma vez, a necessidade de, como diria o mestre B. Negão, “priorizar as prioridades”, que, no meu entendimento, são as vidas, a saúde, o bem-estar de toda a po- pulação. Enquanto bens, propriedades e lucros estiverem acima desses valores, será impossível vivermos em equilíbrio, tanto entre humanos quanto em nossa relação com a natureza.
Nesse sentido, fica como dica de leitura o livro “Solo, alma, sociedade”, do ativista Satish Kumar, que oferece diversas reflexões e proposições nesse campo. Livro que li nesta pandemia e fez um sentido extremo, me ajudando a organizar pensamentos e sensações. Sendo assim, tudo o que produzo como MC, produtor cultural e comunicador tende a ir na direção de estudar e propor reflexões, ações e construções que nos permitam, o quanto antes, desenvolver outra forma de estruturar as nossas sociedades. Que elas não tenham como valores principais a propriedade, o lucro, a competição e a vitória a qualquer custo e bens materiais, mas que valorizem a coletividade, empatia, saúde, bem-estar e a equidade.
Acredito que algumas pessoas, após a leitura deste texto, dirão que sou utópico. Talvez até me chamem de ingênuo, ou de radical, por propor o fim do atual sistema socioeconômico. Se bem que ir às raízes das coisas, muitas vezes, é importante para evoluirmos individual e coletivamente. Mas é o que penso, sinto e proponho através da minha experiência com a pandemia.
Ao me contrapor, talvez afirmem que a história nos mostra que o capitalismo é o melhor sistema já criado pelo ser humano, mas não posso deixar de pensar que são as utopias, os desejos de mudar e melhorar que nos trouxeram até aqui. Sendo assim, podemos ser melhores do que somos agora pra nós e pro planeta onde vivemos. Para isso, vai ser necessário abrirmos mão do status atual para criar algo novo, por mais incômodo e difícil que possa parecer e ser, principalmente para quem mais se beneficia agora.
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