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Estado de Minas COLUNA HIT

Bar, o território livre ameaçado pela pandemia

No 'Diário da quarentena', o dramaturgo Jota Dangelo descreve seu debate com os amigos, via WhatsApp, sobre a função social dos botecos


16/08/2020 04:00

Quarentena abstêmia

Jota Dangelo,
Dramaturgo, recém-eleito para 
a Academia Mineira de Letras

Estou falando de controvérsias. Porque as há. De maneira alguma estou me metendo onde não fui chamado. Simplesmente, não pude deixar de participar deste debate. Não estou nem de um lado nem do outro, pode crer. Mas confesso que alguma dúvida ainda me assalta. Não entro no assunto em profundidade, não me explico, nem relato razões da dúvida, mas sou obrigado a reafirmar que não estou tão certo do contrário.

O caso, como se sabe, está na moda, é matéria jornalística obrigatória, plantão de noticiário, vira e mexe de TV, crônica de cronistas famosos, entrevistas alarmistas, problemas, problemas. E o debate foi, como não podia deixar de ser, virtual. Na base do WhatsApp, quatro amigos agarrados aos celulares e trocando argumentos. Era eu sozinho, tentando defender a lei e os outros três impressionantemente convencidos da falta de argumentos jurídicos para que a resolução decretada pelo prefeito fosse cumprida sem contestação.
Acostumado ao convívio diário, e noturno, com os três, não posso negar minha fragilidade de argumentação defensiva, num embate em que a maioria absoluta, de três, estava perfeitamente entrosada em suas opiniões, numa frente contestatória sem frestas, sem deslizes, sem o mínimo impasse ou qualquer possível inconsistência.

O primeiro a levantar a questão foi o Peninha, velho companheiro de palco, obtendo, em seguida, os calorosos aplausos e solidariedade fanática de Zé Maria Amorim, ator e técnico teatral, e de Pedro Paulo Cava, dono do Teatro da Cidade, onde se enclausurou de maneira monastérica nos começos de março. O argumento do Peninha era simples, sem vírgulas nem exclamações: “Bar pertence à serie de equipamentos essenciais que a lei de restrição da convivência social nesta pandemia calhorda tinha que, obrigatoriamente, deixar funcionar”.

Pedro Paulo concordava, aplaudia e reafirmava: “Bar é território livre, como dizia o poeta Paulinho Assunção! Ali todos os problemas são resolvidos em questão de horas, com soluções definitivas que, obviamente, só darão certo se os políticos legislativos, executivos e judiciários delas souberem e as colocarem em prática”. E Zé Maria completava, com entusiasmo: “E com uma vantagem. No bar, tudo é permitido, tudo pode ser comentado, tudo pode ser inclusive inventado, principalmente porque ninguém, depois que saiu do boteco, confessa o que lá dentro aconteceu”.

Como se vê, a questão era uma só: na quarentena, bar tinha que ser considerado local de funcionamento essencial. Tentei, com os argumentos que podia, fazê-los deixar de defender posição suspeita como a que abraçavam. Mas, confesso, eu argumentava, mas estava com a memória na mesa do bar, onde sentávamos os três no fim dos nossos expedientes de trabalho. Não consegui demovê-los. E acho que nem queria...

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