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Estado de Minas COLUNA HIT

Enfrente a pandemia ao lado de Sherazade

No 'Diário da quarentena', Danilo Gomes, integrante da Academia Mineira de Letras, recomenda a leitura do clássico As mil e uma noites para suportar estes dias dominados pelo coronavírus


10/08/2020 04:00


 
Nesta quarentena da pandemia que assola o mundo, eu, idoso, 77, avô de dois netos e duas netas, pouco saio de casa e fico lendo e escrevendo. Anteontem telefonei (sim, ainda uso telefone!) para meu velho amigo José Salles Neto, presidente da Confraria dos Bibliófilos do Brasil. Meu vizinho no Lago Norte, ele mora em Brasília há décadas e nasceu em Araxá, mas passou a maior parte da infância em Frutal (MG). Disse-me que continua enfurnado entre os livros, como sempre esteve. É isso. Vamos ler, à espera da vacina salvadora.
 
Recomendo-lhes a leitura de As mil e uma noites (muitos estão lendo Guerra e paz). Mais especificamente O livro das mil e uma noites, monumento das literaturas persa e árabe, imbricadas, com tradução do árabe, apresentação e notas de Mamede Mustafa Jarouche. Uma das numerosas narrativas intitula-se “O rei Yunan e o médico Duban”. Carregado de simbolismo, esse conto tornou-se uma espécie de “representante” da obra e Umberto Eco o escolheu para homenagear Jorge Luis Borges no romance (que virou filme) O nome da rosa.
 
São três sólidos volumes. A Editora Globo publicou uma pequena antologia de apenas 143 páginas, em cuja apresentação o professor universitário Jarouche destaca: “São todas narrativas que, a seu modo, discorrem sobre o homem, suas ambições e seu destino; falam, portanto, a uma vasta gama de seres humanos e sensibilidades, em muitos tempos e lugares, apresentando, enfim, aquela característica tão peculiar às Mil e uma noites, mas a toda grande obra literária: a capacidade de interessar e deleitar, indistintamente, qualquer leitor que ame uma boa história”.
 
Nessa importante obra temos suspense, drama, aventura, amor, humor, lições de ética e sabedoria, naufrágios, figuras mitológicas, histórias de malfeitores, mercadores, poetas, profetas, místicos, um pouco de gastronomia, um tanto de belas-artes e, pairando sobre tudo, o maravilhoso, o fantástico, o mágico. O prazer da leitura. O solitário prazer da leitura.
 
Nessas páginas encontramos Sindbad, o Marujo, o califa abássida Harum Al-Rashid e centenas de figurantes. É muito interessante também essa obra (em dois volumes) editada pela Ediouro, na tradução já clássica do orientalista francês Antoine Galland (1646-1715), com tradução de Alberto Diniz e apresentação de Malba Tahan, que era o nosso saudoso professor carioca Mello e Souza.
Algumas versões ocidentais foram escoimadas de trechos considerados obscenos. Segundo o historiador e orientalista alemão Gustavo     Weill, os persas foram colher na Índia o enredo de muitas dessas histórias.
 
Sugiro ao leitor degustar essas deliciosas narrativas (que a princesa Sherazade fez ao sultão Shahriar nas longas noites insones de quarentena no palácio de Badgá), ouvindo a extasiante sinfonia de Rimsky- Korsakov, Scheherazade.
 
As mil e uma noites, em três grandes volumes ilustrados, é a obra que eu levaria para uma ilha deserta, nestes duros tempos de pandemia. Que vai passar, com a graça do Altíssimo. Tudo passa. Só não passam os imortais Homero, Heródoto, Plutarco, Teócrito, Hesíodo, César, Cícero, Horácio, Virgílio, Sin-léqi-unnínni e sua antiquíssima Epopeia de Gilgámesh, traduzida do acádio pelo professor Jacyntho Lins Brandão, da UFMG e da Academia Mineira de Letras.
 

"Vamos ler, à espera da vacina salvadora%u201D "Tudo passa. Só não passam os imortais Homero, Heródoto, Plutarco, Hesíodo, Cícero, Horácio, Sin-léqi-unnínni"

 

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