
Salve, Luiz Arthur! Há quanto tempo não vejo este ator e professor genial em cena, hein? Queria muito estar te escrevendo para falar de um palco iluminado com gelatina de todas cores, mas não vai dar. E olha que comecei este ano, como sempre, trabalhando bem e com disposição pra dobrar o trabalho, pois o nosso ofício sofreu baque, sofreu corte, mas mesmo assim continuei. Janeiro e fevereiro foram bons, mas esperava o fim do carnaval pro Brasil vir comigo (hehehehe). Achei que ia ganhar um bom dinheiro. Parecia tudo certo, perfeito.
Só que aí finda o carnaval e em seguida chega o mal. Uma peste vinda do Oriente pra desorientar a gente, o mundo. Letal, ela, a peste, sai do chão chinês rumo à Europa, aporta em terreiro ítalo levando morte e espalhando medo também em terras lusitanas, germânicas, espanholas, no Reino Unido e até no poderoso Estados Unidos. Aliás, tô com um amigo de colégio entubado no Hospital Célio de Castro, lá no Barreiro. Até dia 13, ele tava lá na terra do Tio Sam. Já chegou muito mal, com todos os sintomas e um pouco mais: tem diabetes, é hipertenso e ex-fumante que nem eu.
Tô rezando por meu amigo, mas não foi ele quem trouxe a pandemia para as terras brasilis. Ela já tava aqui quando ele chegou e junto com ela vieram todas as fake news – foi a China que inventou esse tal de COVID-19; coronavírus vai pegar todo mundo, mas só vai morrer velho; disseram que Cristiano Ronaldo iria dar seus hotéis pra virarem hospitais, mas é mentira. Também era mentira a matéria mostrando um monte de caixão, insinuando que eram as mortes italianas, mas era matéria antiga. Muitas mentiras! Chegaram a inventar que a China, pra dar golpe no mundo, matou milhares dos seus. É mole?
Então, como falei acima, pensei que ia ganhar um bom dinheiro, mas não ia adiantar. É pandemia!! É claro que no Mangabeiras, Belvederes da vida, condomínios fechados, vai morrer menos gente. Eles têm como comprar muito álcool gel, seja no preço que for; eles têm água demais em casa. Sabão, nem se fala! Dá pra lavar a mão e esfregar até ela ficar leitosa, alva.
É por isso que tô falando pra todos os irmãos congadeiros, negros e não negros, meus conhecidos e amigos dos morros, povo da periferia, que coronavírus não é doença de rico, é doença de quem pegar, mas ela vai proliferar onde não tem água, sabão e álcool gel, captou? Sabe, Luiz Arthur, a peste chega, mas passa, né? É uma doença em que tenho de cuidar de mim para não infectar o outro, e o outro tem que se cuidar para não me infectar. Ainda bem que a peste passa, senão o povo africano já teria desaparecido com tantos vírus violentos que já passaram por aquela terra santa. Também sinto que essa pandemia que está pegando todos vem pra limpar; igualar, eu não acredito. Sinto que ela vem pra curar o ser humano para ele poder curar o mundo.
E o engraçado é que quando tudo parou é que caiu ficha. Aí vi que a gente não ía poder trabalhar, não ia receber. E, assim, a gente não ia ter como pagar as contas. Olha que mudança de pensamento e atitudes, né? Com isso, uma amiga, desesperada, autônoma, me ligou chorando copiosamente, até histérica, falando que não teria dinheiro pra cumprir os compromissos, pra pagar as contas, as prestações que eram muitas e que ia continuar trabalhando assim mesmo. Então me veio a imagem da sigla do CTI em seguida à do Serasa. Parei um tempo e perguntei pra ela: O que você prefere? Ir pro CTI ou pro Serasa.? Ela quase surtou em choro e gemidos. Me senti culpado, pedi desculpas e falei: “Tudo bem, deixa pra lá. Vamos em frente. Também tô no mesmo barco. Tô indo embora e espero te encontrar não no CTI, mas no Serasa.”
E é isso! Estamos em um país dividido e com um desgoverno no comando. Assim as pessoas adoecem. Tomara Deus que a peste vá embora com o menor dano possível e a gente possa voltar a ser feliz, se abraçar e se beijar na rua. E, quem sabe, nós dois possamos contracenar em um espetáculo todo iluminado com gelatinas de todas as cores. Título: Depois da peste. Elenco: Maurício Tizumba e Luiz Arthur. O que você acha, hein? (hehehehe).
Bom amigo, falei demais, né? Então, vou ficando por aqui, solitário na minha quarentena, ou isolamento social, pra ajudar no combate à COVID-19 com a força guerreira do meu pai, o orixá Nkos'i. E, depois da peste, minha mãe Dandalunda vai estar nos esperando para um banho de água doce na cachoeira lá pras bandas do Cipó. E você, meu colega de trabalho, espero que esteja bem e de quarentena!
Abraços, Tizumba.
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